Card. Maradiaga: Os migrantes são um recurso para o desenvolvimento humano
Washington
(RV) – “Dois terços dos jogadores desta Copa são imigrantes”. O Cardeal Oscar
Rodriguez Maradiaga, Arcebispo de Tegucigalpa e Presidente da Caritas Internacional,
inicia assim seu pronunciamento na Conferência Nacional sobre Imigrações, aberta na
última segunda-feira, 7, em Washington. A Conferência, realizada a cada cinco anos,
é promovida pela Conferência Episcopal dos Estados Unidos (UCCBS), junto com a
Caritas local e a Rede Legal Católica para a Imigração.
“Quando ouço histórias
de migrantes que fazem viagens de centenas de milhares de quilômetros, fico admirado
pela sua coragem e determinação”, afirmou o purpurado, sublinhando a coragem, mas
também o medo e os traumas que os migrantes experimentam. “Os migrantes são objeto
de abusos, exploração e violência. As crianças acabam nas mãos dos traficantes de
drogas, das organizações criminosas e do tráfico de seres humanos, dos oficiais corruptos”.
E parece não serem eles os mais apavorados: “Quando vejo como reage a comunidade
internacional à crise dos migrantes, me pergunto quem são os mais apavorados: os migrantes
ou os países para onde se dirigem?”. Países onde os migrantes são aprisionados, deixados
de lado, expulsos e onde lhes é impedido de iniciar uma nova vida. “Imaginem se São
Paulo tivesse tentado entrar na Europa hoje: seria classificado como clandestino e
mandado de volta para casa”, disse o purpurado.
Após, o purpurado agradece
às agências católicas internacionais e americanas pela sua ação, que “faz a diferença
na vida das pessoas”, enquanto convida a administração estadunidense a ratificar a
Convenção para os Direitos da Infância, insistindo na importância da educação: “Garantir
os direitos das crianças migrantes é o último passo, mas devemos também trabalhar
para assegurar o desenvolvimento da pessoa na sua integridade com a educação, a formação
e o crescimento espiritual”. “A migração faz parte do desenvolvimento humano – acrescenta
o Cardeal Maradiaga. Os migrantes levam consigo competência e mão-de-obra. São um
recurso”. Citando por fim o Papa Francisco, que definiu o tráfico de seres humanos
como “um crime contra toda a humanidade”, o purpurado destaca a importância em continuar
a trabalhar sobre uma legislação contra esta chaga, para sensibilizar os católicos,
e não somente, em relação a esta triste realidade”.
Os trabalhos da Conferência
nacional sobre imigrações serão concluídos nesta quinta-feira. No programa, não somente
o problema dos imigrantes econômicos, mas de todas as pessoas vulneráveis: refugiados,
menores desacompanhados, vítimas do tráfico.
O objetivo do evento é “incentivar
o Congresso estadunidense a aprovar uma lei de reforma da imigração ainda neste ano”,
como explicou Dom Eusébio Elizondo, Presidente da Comissão para os migrantes da UCCBS.
Particularmente delicada a questão da chegada maciça de menores desacompanhados: nos
últimos oito meses, por exemplo, foram 53 mil menores desacompanhados, provenientes
da Guatemala, El Salvador e Honduras. (JE)