2014-07-02 19:31:36

O segredo está na pergunta


Cidade do Vaticano (RV) – Há quase dois séculos, 182 anos, que não se tinha um Pontífice proveniente de uma Ordem religiosa. O último foi o camaldulense Gregório XVI, eleito em 1831, e nunca houve, em quase 500 anos, um Papa jesuíta. Mas porque nunca houve um Papa jesuíta? Porque a Companhia de Jesus sempre desenvolveu uma função mais dedicada à formação em relação àquela de assumir cargos de governo da estrutura eclesiástica, encargos hierárquicos da Igreja institucional.

Frequentemente se ouve dizer que os jesuítas formam, ou sempre formaram, os dirigentes, os chefes, os líderes. Ficando, por exemplo, somente no âmbito eclesiástico, mais da metade dos cardeais reunidos no Conclave estudaram com os jesuítas que, de fato, oferecem um método de formação que revela elementos importantes para compreender Francisco.

O método pedagógico jesuíta deriva do que deixou e transmitiu em relação a isto, Inácio de Loyola. Este, em síntese, propõe-se em favorecer e valorizar a capacidade de cada um a partir de seu espaço interior, de forma em que a educação não está tanto em fazer um estudante responder a um sistema de informação “pré-confeccionada”, mas sim em fazê-lo tomar consciência de si. Como ocorre este processo? Por meio das interrogações, que depois se transformam num verdadeiro motor de aprendizagem, o primeiro impulso da consciência.

Assim, justamente nisto, vejo o elemento pedagógico inaciano no pensamento de Bergoglio: no colocar questões sem fechá-las. Ou seja, a atitude de concentra-se muito nas perguntas, mais do que nas respostas, e nisto vejo também uma certa distinção com os precedentes Pontífices. Certo, Bergoglio julga, toma posições fortes, frequentemente corajosas, especialmente em matéria de justiça e paz, no sentido de que pretende contribuir em dar uma direção ao modo atual, mas o faz sem reduzir, restringir o campo, mesmo quando tem palavras fortes de firme condenação, como por exemplo, sobre a corrupção ou sobre os casos de pedofilia.

Na primeira Carta aos Coríntios, Paulo escreve que “o homem espiritual julga cada coisa”. O juízo está todo aqui, em conferir um poder que torne ativos neste mundo. Assim, este é um convite a não ser passivos observadores dos processos sociais. O juízo de Francisco é aberto, mas existe. E por isto, é muito empenhativo.

Isto de afirmar mantendo aberta a discussão, isto é, “afirmar perguntando”, é um procedimento muito complicado de implementar. Em relação a isto, me vem em mente Oscar Wilde, segundo o qual “todos são capazes de lhe dar respostas, mas para as perguntas, é necessário um gênio”.

Acredito que venha justamente deste “método das perguntas” o modo de dizer segundo o qual, um jesuíta, a uma pergunta responde sempre com outra pergunta. A este propósito gostaria de contar uma anedota que me contou um deles: “Um dia alguém pergunta a um jesuíta: ‘Por que vocês jesuítas respondem sempre a uma pergunta com outra pergunta?’. E o jesuíta responde: ‘Quem lhe disse esta falsidade?’. Queria dizer que o segredo está na pergunta. O segredo de tudo, provavelmente. Talvez também aquele de perguntar-se se Deus existe ou não.

Assim, restringindo-me às perguntas, procurei aqui e ali e encontrei alguma resposta à pergunta “quem é um jesuíta?”. É uma pessoa formada para aprender a reconhecer alguma coisa que a um não crente em Deus pode resultar em algo pouco digerível: a obra de Deus na vida. Assim, o jesuíta desenvolveu tal método para reconhecer, “discernir” os sinais que Deus produz na sua existência, na sua vida real. E, fato interessante, não se trata de sinais derivantes de uma fé abstrata, feita de princípios externos, normativos, mas é um reconhecimento de elementos concretos – a maior parte das vezes surpreendentes – na vida das pessoas.

Vittorio V. Alberti
L'Osservatore Romano








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