Cidade do Vaticano (RV) – Há quase dois séculos, 182 anos, que não se tinha
um Pontífice proveniente de uma Ordem religiosa. O último foi o camaldulense Gregório
XVI, eleito em 1831, e nunca houve, em quase 500 anos, um Papa jesuíta. Mas porque
nunca houve um Papa jesuíta? Porque a Companhia de Jesus sempre desenvolveu uma função
mais dedicada à formação em relação àquela de assumir cargos de governo da estrutura
eclesiástica, encargos hierárquicos da Igreja institucional.
Frequentemente
se ouve dizer que os jesuítas formam, ou sempre formaram, os dirigentes, os chefes,
os líderes. Ficando, por exemplo, somente no âmbito eclesiástico, mais da metade dos
cardeais reunidos no Conclave estudaram com os jesuítas que, de fato, oferecem um
método de formação que revela elementos importantes para compreender Francisco.
O
método pedagógico jesuíta deriva do que deixou e transmitiu em relação a isto, Inácio
de Loyola. Este, em síntese, propõe-se em favorecer e valorizar a capacidade de cada
um a partir de seu espaço interior, de forma em que a educação não está tanto em fazer
um estudante responder a um sistema de informação “pré-confeccionada”, mas sim em
fazê-lo tomar consciência de si. Como ocorre este processo? Por meio das interrogações,
que depois se transformam num verdadeiro motor de aprendizagem, o primeiro impulso
da consciência.
Assim, justamente nisto, vejo o elemento pedagógico inaciano
no pensamento de Bergoglio: no colocar questões sem fechá-las. Ou seja, a atitude
de concentra-se muito nas perguntas, mais do que nas respostas, e nisto vejo também
uma certa distinção com os precedentes Pontífices. Certo, Bergoglio julga, toma posições
fortes, frequentemente corajosas, especialmente em matéria de justiça e paz, no sentido
de que pretende contribuir em dar uma direção ao modo atual, mas o faz sem reduzir,
restringir o campo, mesmo quando tem palavras fortes de firme condenação, como por
exemplo, sobre a corrupção ou sobre os casos de pedofilia.
Na primeira Carta
aos Coríntios, Paulo escreve que “o homem espiritual julga cada coisa”. O juízo está
todo aqui, em conferir um poder que torne ativos neste mundo. Assim, este é um convite
a não ser passivos observadores dos processos sociais. O juízo de Francisco é aberto,
mas existe. E por isto, é muito empenhativo.
Isto de afirmar mantendo aberta
a discussão, isto é, “afirmar perguntando”, é um procedimento muito complicado de
implementar. Em relação a isto, me vem em mente Oscar Wilde, segundo o qual “todos
são capazes de lhe dar respostas, mas para as perguntas, é necessário um gênio”.
Acredito
que venha justamente deste “método das perguntas” o modo de dizer segundo o qual,
um jesuíta, a uma pergunta responde sempre com outra pergunta. A este propósito gostaria
de contar uma anedota que me contou um deles: “Um dia alguém pergunta a um jesuíta:
‘Por que vocês jesuítas respondem sempre a uma pergunta com outra pergunta?’. E o
jesuíta responde: ‘Quem lhe disse esta falsidade?’. Queria dizer que o segredo está
na pergunta. O segredo de tudo, provavelmente. Talvez também aquele de perguntar-se
se Deus existe ou não.
Assim, restringindo-me às perguntas, procurei aqui e
ali e encontrei alguma resposta à pergunta “quem é um jesuíta?”. É uma pessoa formada
para aprender a reconhecer alguma coisa que a um não crente em Deus pode resultar
em algo pouco digerível: a obra de Deus na vida. Assim, o jesuíta desenvolveu tal
método para reconhecer, “discernir” os sinais que Deus produz na sua existência, na
sua vida real. E, fato interessante, não se trata de sinais derivantes de uma fé abstrata,
feita de princípios externos, normativos, mas é um reconhecimento de elementos concretos
– a maior parte das vezes surpreendentes – na vida das pessoas.