2014-07-01 20:47:08

Presidente dos bispos coreanos: o Papa leve nossa sociedade a amadurecer, em todos os níveis


Seul (RV) - A Coreia do Sul viveu no último meio século "um desenvolvimento impressionante do ponto de vista econômico, político e religioso. Demos passos inacreditáveis, mas agora precisamos parar um pouco e refletir sobre nossa maturidade também como Igreja Católica. O Papa nos ajudará nesse processo, estimulando-nos a transformar o crescimento mecânico numa relação mais humana em todos os campos".

Foi o que disse à agência AsiaNews o bispo de Cheju e presidente da Conferência Episcopal Coreana, Dom Peter Kang U-il. Repropomos, a seguir, a entrevista que o prelado concedeu à referida agência missionária.

AN: Dom Peter, quais são os frutos que, a seu ver, a visita do Papa em agosto próximo poderá portar à Coreia?

Dom Peter Kang U-il:- "Hoje o povo coreano – não somente os cristãos, mas também muitos que não pertencem à Igreja Católica – espera de modo sincero esta visita com grande esperança e muitas expectativas. Uma das maiores expectativas de todos é que o Papa possa abrir um novo momento, uma nova fase em prol da reconciliação e da unidade entre as duas Coréias, do Norte e do Sul. Vivemos sempre, nos últimos 64 anos, com apreensão e sob a perene ameaça de guerra. Alguém disse que a era da Guerra Fria global acabou com o esfacelamento da União Soviética, mas na península coreana somos obrigados a viver ainda sob aquela tensão da Guerra Fria. Inúmeras famílias encontram-se divididas pela Zona desmilitarizada, cujas pessoas há mais de meio século não conseguem se encontrar novamente desde separação. Aqueles que deixaram a própria casa durante a última Guerra da Coréia (1950 - 1952) esperam desesperadamente uma reunificação ou ao menos um encontro, vez que muitos estão morrendo por causa da idade avançada e de enfermidades. Muitos coreanos sentem que seus líderes políticos têm limites que não os tornam capazes de eliminar a cortina de confronto e ódio. Desde há algum tempo também começamos a sentir-nos esmagados entre as super-potências do nordeste da Ásia. Nosso maior sonho é a paz, mas somente o Senhor poderá remover os obstáculos e as barreiras existentes entre o Norte e o Sul. Somente a esse ponto veremos Sua paz realizar-se verdadeiramente. Nós, como coreanos, sinceramente esperamos que o Papa Francisco possa abrir uma nova era de reconciliação e diálogo, lançando sua mensagem de paz no nordeste da Ásia. Isso poderá certamente contribuir muito para a paz em nosso planeta."

AN: Quais são, hoje, as necessidades da sociedade e da Igreja coreana?

Dom Peter Kang U-il:- "Costuma-se dizer que os sul-coreanos tiveram nos últimos 50 anos um desenvolvimento tão rápido que as outras nações precisariam de ao menos 100 anos para crescer igualmente. Estima-se que no último meio século os coreanos tenham alcançado mudanças realmente rápidas no campo da indústria, da democracia e também da evangelização. Todavia, no processo que levou a esse rápido progresso passamos por várias reações contrárias, que ainda produzem sofrimentos e protestos entre a população. Em campo político vivemos ainda um confronto muito duro entre conservadores e liberais. Em campo econômico, embora a nação tenha alcançado êxitos enormes (como o PIB demonstra), o abismo entre os muito ricos e as massas de muito pobres tornou-se quase insuperável. No campo da evangelização, a Igreja obteve grandes êxitos do ponto de vista das conversões. No último meio século a população católica passou de 500 mil para 5 milhões. Mas hoje começamos a nos questionar sobre a qualidade da evangelização. A Igreja na Coreia pode inclusive ter convertido um grande número de pessoas à nossa religião, mas não possuímos a confiança plena de termos evangelizado a vida da população coreana a ponto de esta poder testemunhar os valores evangélicos na sociedade. Hoje a nossa sociedade deve dar um passo adiante: do desenvolvimento econômico mecânico deve alcançar um desenvolvimento que integre realmente o ser humano; da democracia de fachada deve passar a uma democracia do espírito, que verdadeiramente respeite os direitos humanos e os valores de todo indivíduo; das atividades missionárias voltadas somente para fora (ad extra) deve alcançar uma maturidade evangélica na Igreja (ad intra)."

AN: Qual o valor missionário da visita do Papa Francisco?

Dom Peter Kang U-il:- "Vendo as visitas que o Papa fez até agora, entendemos que ele é muito sensível aos problemas dos pobres, sejam de Lampedusa (ilha situada no extremo-sul da Itália, porta de entrada de imigrantes provenientes do norte da África, ndr), do Brasil ou do muro que separa palestinos e israelenses. Cremos que hoje queira visitar esta nação porque aqui vivemos todos os dias no perigo permanente de uma guerra e porque nesta península se acirram as tensões das potências globais, movidas pelos próprios interesses e pelo desejo de hegemonia na região. Esperamos que o Papa provoque uma verdadeira oportunidade de mitigar o confronto hostil, abrindo o caminho para a paz. E rezamos para que possa estimular a sociedade coreana a alcançar uma verdadeira maturidade humana em todos os níveis." (RL)







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