Presidente dos bispos coreanos: o Papa leve nossa sociedade a amadurecer, em todos
os níveis
Seul (RV) - A Coreia do Sul viveu no último meio século "um desenvolvimento
impressionante do ponto de vista econômico, político e religioso. Demos passos inacreditáveis,
mas agora precisamos parar um pouco e refletir sobre nossa maturidade também como
Igreja Católica. O Papa nos ajudará nesse processo, estimulando-nos a transformar
o crescimento mecânico numa relação mais humana em todos os campos".
Foi o
que disse à agência AsiaNews o bispo de Cheju e presidente da Conferência Episcopal
Coreana, Dom Peter Kang U-il. Repropomos, a seguir, a entrevista que o prelado concedeu
à referida agência missionária.
AN: Dom Peter, quais são os frutos que,
a seu ver, a visita do Papa em agosto próximo poderá portar à Coreia?
Dom
Peter Kang U-il:- "Hoje o povo coreano – não somente os cristãos, mas também muitos
que não pertencem à Igreja Católica – espera de modo sincero esta visita com grande
esperança e muitas expectativas. Uma das maiores expectativas de todos é que o Papa
possa abrir um novo momento, uma nova fase em prol da reconciliação e da unidade entre
as duas Coréias, do Norte e do Sul. Vivemos sempre, nos últimos 64 anos, com apreensão
e sob a perene ameaça de guerra. Alguém disse que a era da Guerra Fria global acabou
com o esfacelamento da União Soviética, mas na península coreana somos obrigados a
viver ainda sob aquela tensão da Guerra Fria. Inúmeras famílias encontram-se divididas
pela Zona desmilitarizada, cujas pessoas há mais de meio século não conseguem se encontrar
novamente desde separação. Aqueles que deixaram a própria casa durante a última Guerra
da Coréia (1950 - 1952) esperam desesperadamente uma reunificação ou ao menos um encontro,
vez que muitos estão morrendo por causa da idade avançada e de enfermidades. Muitos
coreanos sentem que seus líderes políticos têm limites que não os tornam capazes de
eliminar a cortina de confronto e ódio. Desde há algum tempo também começamos a sentir-nos
esmagados entre as super-potências do nordeste da Ásia. Nosso maior sonho é a paz,
mas somente o Senhor poderá remover os obstáculos e as barreiras existentes entre
o Norte e o Sul. Somente a esse ponto veremos Sua paz realizar-se verdadeiramente.
Nós, como coreanos, sinceramente esperamos que o Papa Francisco possa abrir uma nova
era de reconciliação e diálogo, lançando sua mensagem de paz no nordeste da Ásia.
Isso poderá certamente contribuir muito para a paz em nosso planeta."
AN:
Quais são, hoje, as necessidades da sociedade e da Igreja coreana?
Dom Peter
Kang U-il:- "Costuma-se dizer que os sul-coreanos tiveram nos últimos 50 anos
um desenvolvimento tão rápido que as outras nações precisariam de ao menos 100 anos
para crescer igualmente. Estima-se que no último meio século os coreanos tenham alcançado
mudanças realmente rápidas no campo da indústria, da democracia e também da evangelização.
Todavia, no processo que levou a esse rápido progresso passamos por várias reações
contrárias, que ainda produzem sofrimentos e protestos entre a população. Em campo
político vivemos ainda um confronto muito duro entre conservadores e liberais. Em
campo econômico, embora a nação tenha alcançado êxitos enormes (como o PIB demonstra),
o abismo entre os muito ricos e as massas de muito pobres tornou-se quase insuperável.
No campo da evangelização, a Igreja obteve grandes êxitos do ponto de vista das conversões.
No último meio século a população católica passou de 500 mil para 5 milhões. Mas hoje
começamos a nos questionar sobre a qualidade da evangelização. A Igreja na Coreia
pode inclusive ter convertido um grande número de pessoas à nossa religião, mas não
possuímos a confiança plena de termos evangelizado a vida da população coreana a ponto
de esta poder testemunhar os valores evangélicos na sociedade. Hoje a nossa sociedade
deve dar um passo adiante: do desenvolvimento econômico mecânico deve alcançar um
desenvolvimento que integre realmente o ser humano; da democracia de fachada deve
passar a uma democracia do espírito, que verdadeiramente respeite os direitos humanos
e os valores de todo indivíduo; das atividades missionárias voltadas somente para
fora (ad extra) deve alcançar uma maturidade evangélica na Igreja (ad intra)."
AN:
Qual o valor missionário da visita do Papa Francisco?
Dom Peter Kang U-il:-
"Vendo as visitas que o Papa fez até agora, entendemos que ele é muito sensível aos
problemas dos pobres, sejam de Lampedusa (ilha situada no extremo-sul da Itália, porta
de entrada de imigrantes provenientes do norte da África, ndr), do Brasil ou
do muro que separa palestinos e israelenses. Cremos que hoje queira visitar esta nação
porque aqui vivemos todos os dias no perigo permanente de uma guerra e porque nesta
península se acirram as tensões das potências globais, movidas pelos próprios interesses
e pelo desejo de hegemonia na região. Esperamos que o Papa provoque uma verdadeira
oportunidade de mitigar o confronto hostil, abrindo o caminho para a paz. E rezamos
para que possa estimular a sociedade coreana a alcançar uma verdadeira maturidade
humana em todos os níveis." (RL)