Roma - (RV) - “O grande desafio do Sínodo será evidenciar o fundamento da doutrina
da Igreja sobre matrimônio e família que está no Evangelho. Será importante porquê
o Evangelho é capaz de entrar em contato com a vida concreta." A declaração é de Dom
Juan José Pérez Soba, professor de teologia pastoral do matrimônio e da família, do
Pontifício Instituto João Paulo II, da Universidade Lateranense, de Roma. “Se examinarmos
os vários problemas pastorais individualmente, corremos o risco de dar uma resposta
fragmentada. É o Evangelho que dá unidade, esperança e cura às feridas. A primazia
do Evangelho, neste Sínodo, deve ser muito clara", afirmou.
Em torno da necessidade
de encontrar novas linguagens para comunicar o Evangelho da família, enfatizada pelo
'Instrumentun Laboris' da próxima assembléia sinodal, Dom Pérez Soba está convicto
de que as novas linguagens já existem, mas que é hora de torná-las conhecidas. “Já
temos a grande catequese de São Giovanni Paulo II, o Papa da Família. Aquela de Wojtyla
é uma linguagem muito nova e se o Sínodo contribuirá a torná-la mais conhecida será
de grande enriquecimento para toda a Igreja", disse ele.
Dom Pérez Soba também
falou sobre a dificuldade que as pessoas têm hoje de reconhecerem as leis naturais
relacionadas à família. “Em relação às leis naturais as pessoas têm uma reação errada,
mas o conceito de lei no Antigo Testamento tem um valor muito mais positivo do que
se pensa, encarna a sabedoria de Deus que é comunicada ao Homem. Se a lei natural
vem intensa, através de um comando arbitrário imposto ao Homem, não se colhe os valores.
Isto deriva da falta de uma catequese básica sobre as leis naturais no interior da
Revelação. É um conceito que não se configura como um comando, mas a unidade profunda
do destino entre os homens,” explicou o teólogo.
A propósito do paradoxo entre
o forte desejo do matrimônio e a família presente na sociedade e a crise destas instituições
– algo evidenciado no Instrumentum laboris – Dom Pérez Soba está convicto de que este
seja um dado conhecido há tempo. “Os estudos sociológicos demonstram que a família
é a instituição mais apreciada. Existe, porém, um verdadeiro hiato entre uma cultura
que deforma a compreensão da família e o desejo da família, aquele desejo que está
nas pessoas. E isto, para a Igreja, é um grande desafio pastoral e uma grande oportunidade
da qual deve estar consciente, perdendo o medo de falar de família”, disse ele.
“É
preciso seguir o ensinamento de São João Paulo II, que convida a falar ao coração
das pessoas, porque é ali que se encontra o desejo da família e não nas leis que muitos
querem mudar. A Igreja deve garantir que as pessoas possam viver plenamente aquilo
que mais desejam, ou seja, a família. Uma das situações pastorais difíceis evidenciadas
no 'Instrumentum' é aquela da convivência ou união estável, que correspondem a uma
concepção particular de amor. A Igreja deve fazer entender que agindo assim, se transforma
o amor em um fato íntimo que não envolve toda a vida. E se age assim somente por medo,
porque as pessoas na verdade não desejam isto. O Evangelho nos motiva a crer verdadeiramente
no amor e não considerá-lo uma coisa a mais, entre tantas outras. O Evangelho cura
o coração do homem que é capaz de viver a beleza do amor.”
A propósito da situação
de irregularidade canônica, das separações, dos divórcios e do pedido de alguns divorciados-casados
para terem acesso aos sacramentos, todos elementos presentes no 'Instrumentum', o
teólogo espanhol enfatiza que é preciso sempre evidenciar a realidade doutrinal e
não pensar, portanto, que do ponto de vista pastoral se pode fazer qualquer coisa.
Está em jogo a realidade do sacramento do matrimônio que a Igreja recebeu de Cristo.
E a fidelidade a Cristo deve ser a luz fundamental para chegar às pessoas que têm
necessidade da misericórdia e da verdade do amor. É preciso chegar para curar certas
feridas e não somente afirmar que certas feridas não têm importância," concluiu Dom
Pérez Soba. (EF)