Cidade do Vaticano (RV) – No próximo mês de outubro
as atenções da Igreja Católica estarão direcionadas para o Vaticano onde se realizará
o Sínodo dos Bispos sobre o tema da família. De fato, entre os dias 5 e 19 de outubro
os padres sinodais vão refeltir sobre o tema “Os desafios pastorais da família no
contexto da evangelização”. O tema da família sempre foi um tema importante para a
Igreja Católica, e hoje ganha uma dimensão ainda mais importante diante dos desafios
que a atualidade apresenta, diante de situações familiares difíceis, da educação para
a fé e a vida. No âmbito da preparação para esse evento que diz respeito à toda a
Igreja foi apresentado nesta quinta-feira na Sala de Imprensa da Santa Sé o “Instrumentum
laboris” da assembleia extraordinária. O documento contém e sintetiza as respostas
ao questionário sobre os temas do matrimônio e da família, contido no Documento preparatório
ao Sínodo, publicado em novembro de 2013. As respostas, numerosas e minuciosas,
foram enviadas pelos Sínodos das Igrejas Orientais Católicas sui iuris, pelas Conferências
Episcopais, pelos Dicastérios da Cúria Romana e pela União dos Superiores-Gerais.
Para melhor entender esse documento que serve de base para as discussões devemos
recordar que o mesmo está dividido em três partes: a primeira trata do desígnio de
Deus, do conhecimento bíblico e magisterial e da sua recepção, da lei natural e da
vocação da pessoa em Cristo. Uma constatação do escasso conhecimento do ensinamento
da Igreja, que exigem então dos agentes pastorais uma maior preparação e compromisso. Uma
reflexão específica é dedicada à dificuldade de compreender o significado e o valor
da “lei natural”, colocada na base da dimensão esponsal entre o homem e a mulher.
Para muitos, "natural" é sinônimo de "espontâneo", o que comporta que os direitos
humanos são entendidos como a autodeterminação do sujeito individual que tende à realização
dos próprios desejos. Já a segunda parte, se detém sobre os desafios que estão
relacionados com a família. Neste capítulo do texto a atenção se concentra nas situações
pastorais difíceis, que dizem respeito às convivências e às uniões de fato, aos separados,
aos divorciados, aos divorciados recasados e aos seus eventuais filhos, às mães solteiras,
a quantos se encontram em condições de irregularidade canônica e a quantos pedem o
matrimônio sem serem crentes ou praticantes. É uma temática de grande atualidade e
sobre a qual se espera, por parte da Igreja, novas luzes, indicações precisas para
enfrentar muitas sombras que ao longo se formaram neste âmbito da célula da sociedade.
O documento frisa a urgência de permitir que as pessoas feridas se curem e se reconciliem,
voltando a ter confiança e serenidade renovadas. Por isso é invocada uma pastoral
capaz de oferecer a misericórdia que Deus concede a todos sem medidas. Trata-se portanto
de “propor, não de impor; acompanhar e não obrigar; convidar, não expulsar; inquietar,
nunca desiludir”. A propósito das uniões entre pessoas do mesmo sexo, se põe em
evidência que todas as Conferências Episcopais dizem não à introdução de uma legislação
que permite tal união "redefinindo" o matrimônio entre homem e mulher. Pede-se, contudo,
uma atitude respeitosa e de não-julgamento em relação a estas pessoas, enquanto se
destaca a falta de programas pastorais a este respeito, uma vez que se trata de fenômenos
recentes. Na terceira parte temáticas relativas à abertura à vida, como o conhecimento
e as dificuldades na recepção do magistério, as sugestões pastorais, a praxe sacramental
e a promoção de uma mentalidade acolhedora. De fato, se diz que é pouco conhecida
na sua dimensão positiva a Doutrina da Igreja sobre a abertura à vida da parte dos
esposos, pelo que é considerada como uma ingerência na vida do casal e uma limitação
à autonomia da consciência. Daqui a confusão que se cria entre os contraceptivos e
os métodos naturais de regulação da fertilidade. Relativamente à profilaxia contra
a Aids, é necessário que a Igreja explique melhor a sua posição, também para contrastar
algumas “reduções caricaturais” dos meios de comunicação e para evitar reduzir o problema
a uma mera questão “técnica”, quando na realidade se trata de “dramas que marcam profundamente
a vida de inumeráveis pessoas”. Nos seus encontros com as famílias, Francisco
encoraja sempre a família a olhar com esperança para o próprio futuro, recomendando
estilos de vida através dos quais se conserva e se faz prosperar o amor em família:
pedir licença, agradecer e pedir perdão, sem jamais deixar que o sol se ponha sobre
uma desavença ou uma incompreensão, ter a humildade de pedir desculpa um ao outro.
Três palavras que podem mudar o sentido de uma vida em comum. Basta começar a usá-las.
Na premissa desse documento se pode notar a consciência da Igreja de que as dificuldades
não determinam o horizonte último da vida familiar e de que as pessoas não se encontram
unicamente diante de problemáticas inéditas, sobretudo entre os jovens, que fazem
entrever uma nova primavera para a família. (Silvonei José)