No Vaticano, o Coro Sinodal do Patriarcado de Moscou
Cidade do Vaticano (RV) – A Solenidade dos Santos Pedro e Paulo renova também
neste ano a sua característica ecumênica, acolhendo o Coro Sinodal do Patriarcado
de Moscou, que junto à Capela Musical Pontifícia, realizará no sábado um concerto
na Capela Sistina intitulado “Ut unum sint” e no domingo, animará a celebração
litúrgica na Basílica de São Pedro presidida pelo Papa Francisco.
Os dois corais
cantarão juntos - com os dois maestros se alternando na direção -, repertórios emblemáticos
das duas Igrejas. “O que foi separado pela história reencontra a sua unidade na arte”,
explicou à Rádio Vaticano o Diretor da Capela Sistina, Massimo Palombella:
Palombella:
“Acredito que fazer experiência deste ponto de vista seja, antes de tudo, responder
a um mandato eclesial profundo, isto é, por meio da arte, lançar pontes de diálogo
e de encontro, usando as fontes comuns, usando a linguagem que vai além da teologia
e da diplomacia. A segunda coisa é que ganhamos em profissionalismo, porque o serviço
eclesial nos obriga à verdade de nós mesmos”.
RV: “Ut unum sint”
é o título deste concerto. Pergunto ao senhor: vocês também cantaram em Moscou e portanto
conhecem este coral, tem um repertório que é o da música da Igreja latina. Qual tem
sido a resposta, até o momento, em se fazer música juntos?
Palombella:
“O Coral de Moscou é aquele que eu “mais temia”, justamente porque trabalhar com
Westminster Abbey ou São Tomás de Lipsia – portanto anglicanos e luteranos – bem ou
mal, estamos em um contexto europeu, motivo pelo qual é fácil encontrar fontes comuns.
Ali, no entanto, nos encontrávamos diante de uma realidade mais longínqua, culturalmente
falando. A resposta foi excelente, no sentido de que fizemos um duplo movimento. Nós
cantamos em russo transliterando tudo e eles cantaram em latim. Não pedimos para nos
adequar, fizemos ambos um movimento voltado para pontos comuns. A coisa interessante,
depois, é que também no concerto nos alternamos na direção do Coro com o Maestro do
Coro Sinodal. E na Basílica de São Pedro, em 29 de junho, a celebração iniciará com
o “Tu es Petrus” de Palestrina – na Festa dos Santos Pedro e Paulo – e o dirigirá
o maestro do Coro Ortodoxo de Moscou. Estes são grandes sinais do ponto de vista ecumênico
e cultural”.
RV: Uma palavra para dizer o que os dois repertórios
exprimem na tradição eclesial...
Palombella: “Exprimem a compreensão
da fé em um momento histórico preciso. A Igreja latina teve momentos históricos em
que a fé dialogou profundamente com a cultura e tornou-se plástica por meio da arte.
A mesma coisa ocorreu na Igreja Ortodoxa, com parâmetros culturais diferentes, mas
é o mesmo processo”.
RV: Portanto, quando separado pela história
revive, por outro lado, a sua unidade na arte....”.
Palombella: “Necessariamente,
porque a arte destinada à liturgia é o fruto do atormentado diálogo que a fé deve
ter com a cultura. Se isto não ocorre, é uma fé estéril. E a fé que dialoga com a
cultura é um processo profundo que devemos fazer e é através deste processo que nós
podemos reconstruir unidade”.
RV: O Papa nunca lhe fez algum comentário,
alguma solicitação?
Palombella: “Nós começamos este trabalho com
o Papa Bento e realizamos o diálogo com os anglicanos. Depois mudou o Papa e havia
este trabalho de diálogo com os luteranos, e então escrevemos pedindo se o projeto
poderia continuar e a resposta foi: “Absolutamente sim!”. E todo o discurso do diálogo
com a Igreja Ortodoxa foi levado em frente com força, por ele; no sentido de que é
um projeto no qual ele investiu pessoalmente. Portanto, neste sentido encontramos
uma absoluta continuidade na forma de agir dos dois Papas”.
RV:
“E, portanto, podemos dizer que as divergências não devem nunca nos assustar, mensagem
esta também da Igreja. Vocês encarnam esta realidade?
Palombella: “Obviamente.
Mas porque depois, no campo artístico, as divergências são superadas, como aconteceu
quando fizemos a oração pela paz nos Jardins Vaticanos: também ali foi muito interessante
ver músicos judeus, muçulmanos e cristãos que tocavam juntos. Querendo tocar juntos,
querendo dar sinais de que existem coisas e realidades que superam as nossas compreensões
culturais e às quais devemos olhar para ser mais humanos do que como nos parece que
somos”. (JE)