2014-06-21 10:06:00

Editorial: Reiventar a solidariedade


Cidade do Vaticano (RV)RealAudioMP3 Nesta última semana o Papa Francisco, entre os muitos discursos e homilias que proferiu, chamou a atenção para dois temas que dizem respeito à nossa atualidade: a corrpução e a pobreza; uma filha da outra. Já na segunda-feira quando recebeu os participantes de um encontro dedicado à pobreza que teve como tema “Investir para os pobres ”, promovido entre outros pelo Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, e pela Catholic Relief Services (Caritas EUA), Francisco afirmou que a “solidariedade para com os pobres e os excluídos nos faz refletir sobre uma forma emergente de investimento responsável, conhecida como investimento de impacto”.
Explicando um pouco o que é o investidor de impacto, o Papa disse que é um conhecedor da existência de profundas desigualdades sociais e de penosas condições de desvantagem enfrentadas por populações inteiras. Assim a lógica que anima esse investidor é a lógica que “reconhece a ligação entre lucro e solidariedade”, ou seja, a existência de um círculo virtuoso entre ganho e doação.
Está ai então um caminho interessante para o cristão, redescobrir, viver e anunciar esta preciosa e original unidade entre lucro e solidariedade.
Neste mundo da economia, muitas vezes fechado, desconhecido, intransponível, é importante que a ética retome seu espaço e que os mercados se ponham a serviço dos interesses dos povos e do bem comum da humanidade. Não podemos mais tolerar – disse o Papa - que os mercados financeiros governem o destino dos povos, ao invés de servirem às suas necessidades, ou que poucos prosperem recorrendo à especulação financeira enquanto muitos sofrem as suas consequências.
O desenvolvimento tecnológico deu velocidade às transações financeiras, dando oportunidade a especulações que atingem de cheio muitos setores da vida da nossa sociedade, em primeiro lugar, e mais dramático, os preços dos alimentos; um verdadeiro escândalo que tem graves consequências para o acesso dos pobres à comida.
E nesta ótica o segundo tema sobre o qual o Papa se deteve nesta semana, e desta vez durante a Santa Missa na Casa Santa Marta, por dois dias seguidos, foi o da corrupção: E a pergunta; quem paga a corrupção?: são os pobres.
Francisco não usou meias palavras ao falar que a corrupção dos poderosos acaba sendo “paga pelos pobres”, e que por causa da avidez dos mesmos, os deserdados ficam sem aquilo de necessitam e têm direito. “Lemos tantas vezes nos jornais sobre o político que enriqueceu magicamente, disse o Papa. Foi processado, levado ao tribunal, ou sobre o empresário que ficou rico como num passe de mágica, ou seja, explorando seus operários. Fala-se também do bispo que enriqueceu e deixou a sua função pastoral para cuidar de seus bens. “Os corruptos políticos e os corruptos eclesiásticos estão em todos os lugares”. Porém, se pergunta o Papa, “quem paga a corrpução?”. A corrupção na verdade “quem paga é o pobre”. Pagam os hospitais sem medicamentos, os doentes que não recebem cura, as crianças sem educação. E o Papa vai mais longe e pergunta quem paga a corrupção de um prelado? Pagam as crianças, que não sabem fazer o sinal da cruz, que não recebem catequese, que não são acompanhadas. Pagam os doentes que não são visitados, pagam os encarcerados que não recebem atenções espirituais.
E a receita para vencer a corrupção – disse Francisco - é o serviço aos outros. “O corrupto irrita Deus e faz o povo pecar”, disse.
Corrupão e pobreza; dois temas de grande atualidade e que se tocam, se entrelaçam, frutos de uma sociedade egoista, individualista e que vê no outro somente uma mercadoria, um objeto a ser explorado, e jamais um sujeito a ser respeitado. É necessário que a nossa sociedade seja transformada, regenerando aquelas raízes profundas que foram renegadas, iniciando precisamente por escolhas que vão ao encontro do bem comum, dos últimos, dos deserdados. Devemos reiventar a palavra solidariedade num mundo cada vez mais individualista, para que ninguém fique de fora, para que ninguém seja descartado, para que ninguém viva e sobreviva à margem da vida de uma sociedade, sociedade que se diz moderna. (Silvonei José)








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