Cidade do Vaticano (RV) – Nesta última semana
o Papa Francisco, entre os muitos discursos e homilias que proferiu, chamou a atenção
para dois temas que dizem respeito à nossa atualidade: a corrpução e a pobreza; uma
filha da outra. Já na segunda-feira quando recebeu os participantes de um encontro
dedicado à pobreza que teve como tema “Investir para os pobres ”, promovido entre
outros pelo Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, e pela Catholic Relief Services
(Caritas EUA), Francisco afirmou que a “solidariedade para com os pobres e os excluídos
nos faz refletir sobre uma forma emergente de investimento responsável, conhecida
como investimento de impacto”. Explicando um pouco o que é o investidor de impacto,
o Papa disse que é um conhecedor da existência de profundas desigualdades sociais
e de penosas condições de desvantagem enfrentadas por populações inteiras. Assim a
lógica que anima esse investidor é a lógica que “reconhece a ligação entre lucro e
solidariedade”, ou seja, a existência de um círculo virtuoso entre ganho e doação.
Está ai então um caminho interessante para o cristão, redescobrir, viver e anunciar
esta preciosa e original unidade entre lucro e solidariedade. Neste mundo da economia,
muitas vezes fechado, desconhecido, intransponível, é importante que a ética retome
seu espaço e que os mercados se ponham a serviço dos interesses dos povos e do bem
comum da humanidade. Não podemos mais tolerar – disse o Papa - que os mercados financeiros
governem o destino dos povos, ao invés de servirem às suas necessidades, ou que poucos
prosperem recorrendo à especulação financeira enquanto muitos sofrem as suas consequências. O
desenvolvimento tecnológico deu velocidade às transações financeiras, dando oportunidade
a especulações que atingem de cheio muitos setores da vida da nossa sociedade, em
primeiro lugar, e mais dramático, os preços dos alimentos; um verdadeiro escândalo
que tem graves consequências para o acesso dos pobres à comida. E nesta ótica
o segundo tema sobre o qual o Papa se deteve nesta semana, e desta vez durante a Santa
Missa na Casa Santa Marta, por dois dias seguidos, foi o da corrupção: E a pergunta;
quem paga a corrupção?: são os pobres. Francisco não usou meias palavras ao falar
que a corrupção dos poderosos acaba sendo “paga pelos pobres”, e que por causa da
avidez dos mesmos, os deserdados ficam sem aquilo de necessitam e têm direito. “Lemos
tantas vezes nos jornais sobre o político que enriqueceu magicamente, disse o Papa.
Foi processado, levado ao tribunal, ou sobre o empresário que ficou rico como num
passe de mágica, ou seja, explorando seus operários. Fala-se também do bispo que enriqueceu
e deixou a sua função pastoral para cuidar de seus bens. “Os corruptos políticos e
os corruptos eclesiásticos estão em todos os lugares”. Porém, se pergunta o Papa,
“quem paga a corrpução?”. A corrupção na verdade “quem paga é o pobre”. Pagam os hospitais
sem medicamentos, os doentes que não recebem cura, as crianças sem educação. E o Papa
vai mais longe e pergunta quem paga a corrupção de um prelado? Pagam as crianças,
que não sabem fazer o sinal da cruz, que não recebem catequese, que não são acompanhadas.
Pagam os doentes que não são visitados, pagam os encarcerados que não recebem atenções
espirituais. E a receita para vencer a corrupção – disse Francisco - é o serviço
aos outros. “O corrupto irrita Deus e faz o povo pecar”, disse. Corrupão e pobreza;
dois temas de grande atualidade e que se tocam, se entrelaçam, frutos de uma sociedade
egoista, individualista e que vê no outro somente uma mercadoria, um objeto a ser
explorado, e jamais um sujeito a ser respeitado. É necessário que a nossa sociedade
seja transformada, regenerando aquelas raízes profundas que foram renegadas, iniciando
precisamente por escolhas que vão ao encontro do bem comum, dos últimos, dos deserdados.
Devemos reiventar a palavra solidariedade num mundo cada vez mais individualista,
para que ninguém fique de fora, para que ninguém seja descartado, para que ninguém
viva e sobreviva à margem da vida de uma sociedade, sociedade que se diz moderna.
(Silvonei José)