Rio de Janeiro (RV) - Ao concluir o tempo litúrgico da Páscoa, precedido pela
Novena e Vigília de Pentecostes e, aqui no hemisfério sul, pela Semana de Orações
pela Unidade dos Cristãos, celebramos a Solenidade da vinda do Espírito Santo. Nossa
Arquidiocese vive intensamente estes eventos nessa semana e, com renovado entusiasmo,
se coloca à acolhida do Espírito Santo em sua vida e em nossa caminhada. É tempo de
abrir a vida, a mente, o coração e acolher o “fogo do amor de Deus” e sair pelo mundo
anunciando a grande notícia da Ressurreição de Jesus.
O Papa Francisco, em
sua última missa na Terra Santa celebrou-a no Cenáculo, quando recordou que ali onde
Jesus celebrou a última ceia e instituiu a Eucaristia é também o lugar da experiência
de pentecostes, de onde saiu a Igreja enviada ao mundo para evangelizar.
Portanto,
esta solenidade para nós é um marco do qual vemos o surgimento da Igreja, que é sustentada
e animada pelo Dom e pela Força do Espírito Santo. A palavra Pentecostes, do grego
pentekosté, é o quinquagésimo dia após a Páscoa. Comemoramos nesta solenidade o envio
do Espírito Santo à Igreja. A partir da Ascensão de Cristo, os discípulos e a comunidade
não tinham mais a presença física do Mestre. Em cumprimento à promessa de Jesus: “quando
vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade que vem
do Pai, ele dará testemunho de mim e vós também dareis testemunho” (Jo 15, 26-27).
Dessa maneira, o Espírito Santo foi enviado sobre os Apóstolos e Cristo está presente
na Igreja, que é continuadora da Sua missão.
A origem da festa de Pentecostes
vem do Antigo Testamento: uma celebração da colheita (Ex 23, 14), dia de alegria e
ação de graças, inicialmente uma festa agrária. Nela, o povo oferecia a Deus os primeiros
frutos que a terra tinha produzido. Mais tarde, tornou-se a festa da renovação da
Aliança no Sinai (Ex 19, 1-16). No Novo Testamento, Pentecostes está relatado no livro
dos Atos dos Apóstolos 2, 1-13. Como era costume, os Apóstolos, juntamente com Maria,
Mãe de Jesus, estavam reunidos nessa época quando se ouviu um ruído, "como se soprasse
um vento impetuoso". "Línguas de fogo" pousaram sobre os apóstolos e todos ficaram
repletos do Espírito Santo e começaram a falar em diversas línguas.
Pentecostes
é a coroação da Páscoa de Cristo. Nele, acontece a plenificação da Páscoa, pois a
vinda do Espírito Santo sobre os discípulos manifesta a riqueza da vida nova do Ressuscitado
no coração, na vida e na missão dos discípulos. Podemos notar a importância de Pentecostes
nas palavras do Patriarca Atenágoras (1948-1972): "Sem o Espírito Santo, Deus está
distante, o Cristo permanece no passado, o evangelho uma letra morta, a Igreja uma
simples organização, a autoridade um poder, a missão uma propaganda, o culto um arcaísmo,
e a ação moral uma ação de escravos". O Espírito traz presente o Ressuscitado à sua
Igreja e lhe garante a vida e a eficácia da missão. “Todos ficaram cheios do Espírito
Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava”. Que
Espírito é este que encheu hoje os Apóstolos e a inteira Igreja de Cristo? Ele é o
Espírito do Ressuscitado, soprado pelo Cristo Senhor. “Jesus disse: ‘Como o Pai me
enviou, eu também vos envio’. Depois soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito
Santo’”!
Nele, tudo fora criado desde o princípio: “O Espírito do Senhor encheu
o universo; ele mantém unidas todas as coisas e conhece todas as línguas” (Sb 1,7).
Somente no Santo Espírito podemos compreender que toda a criação e toda a história
são penetradas pela vida de Deus que nos vem pelo Cristo; somente no Santo Espírito
podemos perceber a unidade e bondade radicais da criação que nos cerca, mesmo com
tantas trevas e contradições. É o Santo Espírito, doce Consolador, que nos livra do
desespero e da falta de sentido!
Nele, tudo se mantém, tudo tem consistência,
tudo é precioso: “Encheu-se a Terra com as vossas criaturas: se tirais o seu respiro,
elas perecem e voltam para o pó de onde vieram. Enviais o vosso Espírito e renascem,
e da Terra toda a face renovais”. É por sua ação constante que tudo existe e persiste
no ser. Sem ele, tudo voltaria ao nada e nada teria consistência real. Nele, tudo
tem valor, até a mais simples das criaturas.
Sem ele, nada, absolutamente,
podemos nós: “Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele!” Por isso,
Jesus disse: “Sem mim, nada podeis fazer (Jo 15,5)”, porque sem o seu Espírito Santo,
que nos sustenta e age no mais íntimo de nós, tudo quanto fizéssemos não teria valor
para o Reino dos Céus. Jesus é a videira, nós, os ramos; o Espírito é a seiva que,
vinda do tronco, nos faz frutificar...
Ele é a nova Lei – não aquela
inscrita sobre tábuas de pedra, mas inscrita no nosso coração (cf. Ez 11,19; Jr 31,31-34),
pois “o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado”
(Rm 5,5). A lei de Moisés, em tábuas de pedra, fora dada no Sinai em meio a relâmpagos,
trovões, fogo, vento e terremotos (cf. Ex 19); agora, a Nova Lei, o Santo Espírito,
nos vem em línguas de fogo e vento barulhento e impetuoso, para marcar o início da
Nova Aliança, do Amor derramado no íntimo de nós!
Ele tudo perdoa
e renova em Cristo, pois é Espírito para a remissão dos pecados: “A quem perdoardes
os pecados, eles lhes serão perdoados”! É, pois, no Espírito que a Santa Igreja anuncia
a paz do Evangelho do perdão de Deus para a humanidade em Cristo Jesus. Ele nos
une no Corpo de Cristo, que é a Igreja, pois “fomos batizados num único Espírito para
formarmos um só corpo...” – Neste Corpo, ele nos enche de dons, carismas e ministérios,
pois “a cada um é dada a manifestação do Espírito para o bem comum”. É no Espírito
que a Igreja é una na diversidade de tantos dons e carismas; una nas diferenças de
seus membros...
Ele faz a Igreja falar todas as línguas, fá-la abrir-se
ao mundo, procurar o mundo com “santa inquietude”, não para render-se ao mundo ou
imitá-lo ou perder-se nele, mas para “anunciar as maravilhas de Deus” em Cristo Jesus,
chamando o mundo à conversão e à vida nova em Cristo!
Enfim, Ele
torna Jesus sempre presente no nosso coração e no coração da Igreja e no-Lo testemunha
incessantemente, sempre e em tudo que Jesus é o Senhor, pois “ninguém pode dizer:
Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo”! – para a glória de Deus Pai.
“No
Espírito Santo o cosmos é enobrecido pela geração do Reino, o Cristo Ressuscitado
está presente, o evangelho se faz força do Reino, a Igreja realiza a comunhão trinitária,
a autoridade se transforma em serviço, a liturgia é memorial e antecipação, a ação
humana se deifica” (Atenágoras).
Temos visto a ação do Espírito Santo na vida
e a ação da Igreja, através da história, em nossas comunidades, em tantos irmãos e
irmãs! Que a ação desse mesmo Espírito nos faça sempre olhar o mundo com os olhos
de “discípulos missionários”.
Não tenhamos medo! Acolhamos hoje esse “dom de
Deus”, o Espírito Santo, em nossa vida e deixemo-nos conduzir por Ele no seguimento
de Cristo a caminho para o Pai! A vida transformada nos fará sinais da presença do
Ressuscitado na história.
Vinde, Espírito Santo, renovai a face da Terra!
Orani
João, Cardeal Tempesta, O.Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ