Dom Hélder Câmara: a santidade e o compromisso com os direitos humanos
Recife (RV) – Carta solicitando autorização para início do processo de canonização
de Dom Hélder Câmara está a caminho de Roma. Basta o aval da CNBB para ser enviada
à Itália. Nesta semana, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, assinou
o documento que deve ser encaminhado para a Congregação da Causa dos Santos. É o primeiro
passo para reconhecer o ex-arcebispo emérito da Cúria Metropolitana como santo.
No
documento, são explicados os motivos que baseiam o pedido de santificação e a biografia
do religioso. Na expectativa de uma resposta afirmativa, será constituída uma comissão
encarregada de pesquisar e analisar escritos e documentos que justifiquem o pedido
da canonização. O processo completo até a santificação é longo, podendo levar anos
para chegar até a conclusão.
O religioso, que era do Ceará, faleceu aos 90
anos em 1999 e teve forte atuação contra a ditadura militar de 1964. Tornou-se internacionalmente
conhecido pela dedicação aos pobres e oprimidos. Ficou conhecido como “Dom da Paz”
e “Pastor da Liberdade” por ser um defensor incansável dos direitos humanos, combatendo
injustiças e denunciando a prática de tortura contra presos políticos no Brasil.
Indicado
quatro vezes ao Nobel da Paz, era seguidor da Teologia da Libertação. Na sua gestão
à frente da Arquidiocese, criou a Comissão de Justiça e Paz (CJP), em março de 1968.
Sempre lutou contra a opressão e as multinacionais por monopolizarem a economia mundial,
gerando milhões de pessoas em condições miseráveis de vida. Dom Hélder acolhia
o próximo como um irmão, vendo nele a face de Jesus. Se pudesse, abraçaria o mundo.
Costumava dizer que “se dou pão aos pobres, me chamam de santo. Mas se mostro porque
os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo”. É uma das figuras mais
iluminadas do Concílio Vaticano II. Foi inspirando-se nele, que Papa João declarou:
“a Igreja Católica é Igreja de todos, mas principalmente dos pobres”. Sua obra
permanece viva no Centro de Documentação em Recife, que leva o seu nome, e reúne 22
livros publicados em 15 línguas, além de mais de 7 mil reflexões e centenas de cartas
escritas durante os 67 anos de sacerdócio de Dom Hélder. Em 1950, fundou a CNBB e,
em 1955, ajudou na criação do CELAM. Em 1970, Sunday Times o definiu como “o
homem mais influente da América Latina depois de Fidel Castro”. (AC)