Pe. Lombardi: balanço da peregrinação de Francisco
Cidade do Vaticano
(RV) - O último dia do Papa Francisco na Terra Santa foi rico de mensagens e gestos
fortes. Um dia marcado pelo encontro com o mundo muçulmano, pelos vários eventos relacionados
à comunidade judaica e ao Estado de Israel e, finalmente, pelos momentos com a comunidade
cristã no Getsêmani e no Cenáculo, na dimensão da oração, típica desta peregrinação.
Para comentar esta viagem histórica, conversamos por telefone com o Diretor da Sala
de Imprensa da Santa Sé e Diretor da Rádio Vaticano que acompanhou Francisco, Padre
Federico Lombardi :
R. - Com certeza, na parte da manhã de ontem o encontro
com o Islã, os encontros com o judaísmo e com o Estado de Israel foram particularmente
significativos e também estavam ao centro da atenção da mídia internacional. Acho
que o pequeno ato original desta viagem, o momento do abraço diante do Muro das Lamentações
do Papa com o rabino e o amigo muçulmano; o abraço de três amigos, de três religiões
diferentes diante do Muro das Lamentações tenha sido realmente um pequeno, mas grande
sinal, porque, além de todos os discursos sobre o diálogo inter-religioso, da dificuldade
em compreender um ao outro e assim por diante, e depois a cultura do encontro mencionada
pelo Papa, o encontro entre pessoas reais que são capazes de se entenderem, e também
de trabalharem juntas para construir a paz, que é - eu acho – o caminho fundamental.
Outro grande encontro pessoal, que parece ter caracterizado a manhã de ontem, foi
o encontro entre o Papa e o Presidente Peres: eu tive a impressão que são dois grandes
sábios construtores de paz. O Papa, naturalmente, com a sua autoridade de líder religioso
que convida a rezar pela paz, e também o presidente uma pessoa verdadeiramente sábia
que passou uma longa vida através de muitas situações, mas que se vê, que realmente
aspira a um mundo melhor, que pretende colocar a sua experiência de vida ao serviço
do bem comum dos povos, superando as tensões e fazendo a paz. A maneira com a qual
o Papa também falou da acolhida de Peres, e na qual "casa", ele se sentia feliz, parece-me
tenha sido um grande elogio e uma boa premissa também para o próximo encontro de oração
pela paz, que é foi confirmado pelas pessoas convidadas, e que por isso esperamos
que possa acontecer em tempos breves, no Vaticano.
P. - Em alguns momentos,
o Papa pareceu emocionado, mas também muito triste: quando disse o seu "não" a violência
em nome de Deus, mas também o "nunca mais a monstruosidade do Holocausto", quase como
se tivesse sobre si a vergonha do homem, daquilo que o homem consegue fazer nos momentos
de escuridão total ...
R. - É verdade. O Papa usou uma expressão que eu acho
que é muito sua, característica, quando ele fala da vergonha. É uma palavra bíblica,
que também os antigos profetas, quando falavam da experiência do pecado e do peso
do pecado sobre a humanidade e sobre o povo de Israel, diziam: "A vergonha sobre nós
que não fomos capazes de construir a paz". Portanto, esta palavra, vergonha, de fato,
no discurso do Papa no Yad Vashem me pareceu precisamente trazer à luz esse seu sentimento
profético muito forte que lhe dá, às vezes, um tom particularmente voltado para o
futuro que nos toca e nos sacode.
R. - Em fim, no Getsêmani, depois no Cenáculo
os últimos dois compromissos desse intenso dia, e mais uma vez é a luz da esperança
que o Papa pede aos cristãos que testemunhem. E depois reafirmou também a ideia de
uma Igreja em saída, uma Igreja a serviço, que é outro tema que o Papa tem muito a
peito...
R - Sim, porque no Cenáculo foi celebrada a Missa de Pentecostes,
e portanto, precisamente o evento da Igreja que, recebendo o Espírito, torna-se missionária.
Eu diria que pudemos experimentar a alegria desta celebração próprio no lugar original
da missão da Igreja na força do Espírito.
P. - No entanto, o tema da esperança
pareceu quase prevalecer, nesses últimos momentos do dia ...
A. - Certamente:
a presença do Espírito que dá vida, que o acompanha, que torna presente Jesus Cristo
ressuscitado, é um espírito que alimenta, evidentemente, uma esperança mais forte
do que qualquer forma de desânimo diante das dificuldades que estão ao nosso redor.
Assim, também nesta terra, mesmo com os problemas que as comunidades eclesiais possam
ter, e que as comunidades dos povos possam ter. E, com o anúncio do Espírito que desce
para nos tornar missionários e nos renovar, para renovar a Criação, é um anúncio de
esperança para todos! (SP)