No Cenáculo de Jerusalém nasceu a Igreja e daí "saiu": Papa Francisco na Missa final
da sua peregrinação à Terra Santa
Naquele que constituía praticamente o último número do carregadíssimo programa deste
terceiro e último dia da sua peregrinação à Terra Santa, Papa Francisco presidiu esta
tarde à Missa no Cenáculo, local que evoca a Última Ceia de Jesus, e afirmou que ali
“nasceu a Igreja”:
“Aqui nasceu a Igreja, e nasceu em saída. Daqui partiu,
com o Pão repartido nas mãos, as chagas de Jesus nos olhos e o Espírito de amor no
coração”, disse na homilia que pronunciou diante dos patriarcas orientais, bispos
e outros responsáveis católicos da Terra Santa. A viagem do Papa levou a Israel
o patriarca dos maronitas (Líbano), cardeal Bechara Rai, o que aconteceu pela primeira
vez desde 1948. A celebração não contou com a presença de outros fiéis, dada a exiguidade
do espaço.
“O Senhor concede-nos um grande dom, ao reunir-nos aqui no Cenáculo,
para celebrar a Eucaristia. Aqui, onde Jesus comeu a Última Ceia com os Apóstolos;
onde, ressuscitado, apareceu no meio deles; onde o Espírito Santo desceu poderosamente
sobre Maria e os discípulos”, declarou Francisco.
“O grande rio da santidade
da Igreja, sempre sem cessar, tem origem daqui, do Coração de Cristo, da Eucaristia,
do seu Santo Espírito”, acrescentou. O Cenáculo, realçou o Papa, recorda a todos os
católicos o “serviço, “a partilha, a fraternidade, a harmonia, a paz”.
“Lavar
os pés uns aos outros significa acolher-se, aceitar-se, amar-se, servir-se reciprocamente.
Quer dizer servir o pobre, o doente, o marginalizado”, afirmou.
Este local
evoca também, lembrou o Papa Francisco, a “traição” da Última Ceia: “Reproduzir na
vida estas atitudes não sucede só aos outros, mas pode acontecer a cada um de nós,
quando olhamos com desdém o irmão e o julgamos; quando, com os nossos pecados, atraiçoamos
Jesus”.
Finalmente, disse, o Cenáculo recorda “o nascimento da nova família,
a Igreja, constituída por Jesus ressuscitado”, para a qual “estão convidados e chamados
todos os filhos de Deus de cada povo e língua”.
No final da celebração, o padre
Pierbattista Pizzaballa, custódio da Terra Santa, dirigiu uma saudação ao Papa, agradecendo
o seu testemunho de “paz e unidade”.
Francisco seguiu depois para um um heliporto,
em Jerusalém, para regressar ao aeroporto de Telavive, de onde, após a cerimónia
de despedida, toma o avião para Roma, aonde a chegada está prevista para as 23 horas
locais.
Amados Irmãos! Um grande dom nos concede o Senhor, ao reunir-nos
aqui, no Cenáculo, para celebrar a Eucaristia. Aqui, onde Jesus comeu a Última Ceia
com os Apóstolos; onde, ressuscitado, apareceu no meio deles; onde o Espírito Santo
desceu poderosamente sobre Maria e os discípulos. Aqui nasceu a Igreja, e nasceu em
saída. Daqui partiu, com o Pão repartido nas mãos, as chagas de Jesus nos olhos e
o Espírito de amor no coração. Jesus ressuscitado, enviado pelo Pai, no Cenáculo
comunicou aos Apóstolos o seu próprio Espírito e, com esta força, enviou-os a renovar
a face da terra (cf. Sal 104, 30). Sair, partir, não quer dizer esquecer. A Igreja
em saída guarda a memória daquilo que aconteceu aqui; o Espírito Paráclito recorda-lhe
cada palavra, cada gesto, e revela o seu significado. O Cenáculo recorda-nos o
serviço, o lava-pés que Jesus realizou, como exemplo para os seus discípulos. Lavar
os pés uns aos outros significa acolher-se, aceitar-se, amar-se, servir-se reciprocamente.
Quer dizer servir o pobre, o doente, o marginalizado. O Cenáculo recorda-nos,
com a Eucaristia, o sacrifício. Em cada celebração eucarística, Jesus oferece-Se por
nós ao Pai, para que também nós possamos unir-nos a Ele, oferecendo a Deus a nossa
vida, o nosso trabalho, as nossas alegrias e as nossas penas..., oferecer tudo em
sacrifício espiritual. O Cenáculo recorda-nos a amizade. «Já não vos chamo servos
– disse Jesus aos Doze – (…) mas a vós chamei-vos amigos» (Jo 15, 15). O Senhor faz
de nós seus amigos, confia-nos a vontade do Pai e dá-Se-nos a Si mesmo. Esta é a experiência
mais bela do cristão e, de modo particular, do sacerdote: tornar-se amigo do Senhor
Jesus. O Cenáculo recorda-nos a despedida do Mestre e a promessa de reencontrar-se
com os seus amigos: «Quando Eu tiver ido (…), virei novamente e hei-de levar-vos para
junto de Mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também» (Jo 14, 3). Jesus
não nos deixa, nunca nos abandona, vai à nossa frente para a casa do Pai; e, para
lá, nos quer levar consigo. Mas, o Cenáculo recorda também a mesquinhez, a curiosidade
– «quem é o traidor?» – a traição. E reproduzir na vida estas atitudes não sucede
só nem sempre aos outros, mas pode suceder a cada um de nós, quando olhamos com desdém
o irmão e o julgamos; quando, com os nossos pecados, atraiçoamos Jesus. O Cenáculo
recorda-nos a partilha, a fraternidade, a harmonia, a paz entre nós. Quanto amor,
quanto bem jorrou do Cenáculo! Quanta caridade saiu daqui como um rio da sua fonte,
que, ao princípio, é um ribeiro e depois se alarga e torna grande... Todos os santos
beberam daqui; o grande rio da santidade da Igreja, sempre sem cessar, tem origem
daqui, do Coração de Cristo, da Eucaristia, do seu Santo Espírito. Finalmente,
o Cenáculo recorda-nos o nascimento da nova família, a Igreja, constituída por Jesus
ressuscitado. Família esta, que tem uma Mãe, a Virgem Maria. As famílias cristãs pertencem
a esta grande família e, nela, encontram luz e força para caminhar e se renovar no
meio das fadigas e provações da vida. Para esta grande família, estão convidados e
chamados todos os filhos de Deus de cada povo e língua, todos irmãos e filhos do único
Pai que está nos céus. Este é o horizonte do Cenáculo: o horizonte do Ressuscitado
e da Igreja. Daqui parte a Igreja em saída, animada pelo sopro vital do Espírito.
Reunida em oração com a Mãe de Jesus, ela sempre revive a espera de uma renovada efusão
do Espírito Santo: Desça o vosso Espírito, Senhor, e renove a face da terra (cf. Sal
104, 30)!