Papa em Israel: "solução de dois Estados" não permaneça um sonho. Francisco deplora
atentado antissemita
Telaviv (RV) - Segundo dia da viagem apostólica do Papa Francisco à Terra Santa.
Após a visita desta manhã à cidade de Belém, vivida com momentos de particular comoção
e intensidade, o Santo Padre despediu-se do Estado da Palestina transferindo-se de
helicóptero para Telaviv, em cujo aeroporto internacional, Ben Gourion, teve lugar
a cerimônia de boas-vindas.
O Pontífice foi acolhido pelo presidente e pelo
primeiro-ministro israelenses, respectivamente, Shimon Peres e Benjamin Netanyahu.
Além de autoridades políticas, encontravam-se presentes autoridades civis e religiosas,
os Ordinários da Terra Santa e um grupo de jovens com um coro.
No discurso
que fez, após saudar todos os presentes e agradecer a Shimon Peres e Benjamin Netanyahu
pelas palavras que lhe foram dirigidas, Francisco ressaltou o fato de sua visita,
qual peregrino, dar-se à distância de cinquenta anos da histórica viagem de Paulo
VI.
"Seguindo os passos de meus predecessores, vim como peregrino à Terra Santa",
reiterou o Papa, evidenciando a importância desta terra para as "três grandes religiões
monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo", constituindo "ponto de referência
espiritual para grande parte da humanidade".
Recordando que Jerusalém significa
"cidade da paz", mas que esta, infelizmente, é ainda atormentada pelas consequências
de longos conflitos, evocou como sabida por todos a urgência e necessidade da paz,
"não só para Israel, mas também para toda a região".
Em seguida, fez uma premente
exortação em favor de uma solução justa e duradoura para os conflitos que causam tantos
sofrimentos.
"Em união com todos os homens de boa vontade, suplico a quantos
estão investidos de responsabilidade que não deixem nada de intentado na busca de
soluções équas para as complexas dificuldades, de tal modo que israelenses e palestinos
possam viver em paz."
Após evidenciar que "não há outro caminho" a não
ser o do diálogo, da reconciliação e da paz, Francisco renovou o apelo de Bento XVI
feito naquele lugar, em maio de 2009:
"Seja universalmente reconhecido que
o Estado de Israel tem o direito de existir e gozar de paz e segurança dentro de fronteiras
internacionalmente reconhecidas. Seja igualmente reconhecido que o Povo Palestino
tem o direito a uma pátria soberana, a viver com dignidade e a viajar livremente.
Que a «solução de dois Estados» se torne realidade e não permaneça um sonho!"
O
Bispo de Roma ressaltou como momento particularmente tocante de sua estada em Israel,
a visita a ser feita ao Memorial de Yad Vashem, em recordação dos seis milhões
de judeus vítimas da Shoah, pedindo a Deus que "jamais se repita semelhante crime,
de que foram vítimas também muitos cristãos e não só".
Exortando à promoção
de uma educação onde a exclusão e o conflito cedam lugar à inclusão e ao encontro,
onde não haja lugar para o antissemitismo, "seja qual for a forma em que se manifeste,
nem para qualquer expressão de hostilidade, discriminação ou intolerância contra indivíduos
e povos", deplorou o ataque armado verificado neste sábado contra o Museu judaico
de Bruxelas, em que três pessoas perderam a vida e uma permanece gravemente ferida:
"Com
coração profundamente entristecido, penso naqueles que perderam a vida no violento
atentado ocorrido ontem em Bruxelas. Ao renovar minha veemente deploração a tal criminoso
ato de ódio anti-semita, confio as vítimas a Deus misericordioso e peço o restabelecimento
dos feridos."
Saudando todos os cidadãos israelenses, expressou-lhes sua
proximidade, em particular ao que vivem em Nazaré e na Galileia, onde se encontram
presentes também muitas comunidades cristãs.
Por fim, o Santo Padre dirigiu
uma saudação fraterna e cordial aos bispos e fiéis cristãos encorajando-os a continuarem
a prestar, com confiança e esperança, seu sereno testemunho em favor da reconciliação
e do perdão, e exortou-os a serem "fermento de reconciliação, portadores de esperança
e testemunhas de caridade".
Antes de concluir seu discurso, assim como fizera
ao presidente palestino, repetiu ao presidente israelense o seguinte convite:
"Desejo
fazer um convite ao Sr. Presidente Shimon Peres, e ao Sr. Presidente Mahmoud Abbas,
a elevarem, juntos comigo, uma intensa oração, a fim de implorar de Deus o dom da
paz. Ofereço a minha casa, no Vaticano, para hospedar este encontro de oração. Construir
a paz é difícil, mas viver sem paz é um tormento! Todos os homens e mulheres desta
Terra e do mundo inteiro nos pedem para apresentar a Deus seu ardente desejo de paz.”
(RL)