Card. Poupard: abraço entre Atenágoras e Paulo VI foi uma reviravolta histórica na
Igreja
Cidade do Vaticano (RV) – “O mundo abriu os olhos diante de um acontecimento
totalmente imprevisto”. Foi o que afirmou o Presidente Emérito do Pontifício Conselho
da Cultura, Cardeal Paul Poupard, na manhã desta quarta-feira, na sede da Rádio Vaticano,
durante a apresentação do livro “O abraço de Jerusalém – há 50 anos, o histórico encontro
entre Paulo VI e Atenágoras”, editado pelas Paulinas. O texto, escrito por Valeria
Martano, concentra-se na reviravolta histórica ocorrida na história da Igreja, através
dos protagonistas da época, e olha com entusiasmo a próxima viagem do Papa Francisco
à Terra Santa.
Da Terra Santa partiu a salvação do mundo e mais uma vez foi
sinal da unidade e da esperança. Em pleno Concílio Vaticano II, em 5 de janeiro de
1964, sobre uma colina diante da cidade de Jerusalém, todos assistem ao abraço entre
Paulo VI e o Patriarca Atenágoras, de Constantinopla. Um evento pensado pelo Papa
João XXIII, que marcou a história para sempre. Com este gesto simples, de fato, as
duas Igrejas rompem séculos de distância, reconhecendo-se novamente como irmãs. O
Cardeal Paul Poupard, trabalhou em 1963 na preparação do encontro:
Cardeal
Poupard: “Eu lembro que acontece algo totalmente imprevisto no mundo e que
mudou a história do mundo! É o fato que mundos que se ignoravam – se posso assim dizer
– encontraram-se. Assim o mundo abriu os olhos, de um lado a outro. É uma coisa que
permaneceu como única! É a única viagem na história das longas viagens pontifícias
feita por um Papa em ‘Motu proprio'. Todos defendiam que seria impossível e assim
acabou sendo possível”.
“Biografias paralelas”, a de Atenágoras e a do
jovem Roncalli, que conseguiram preparar um encontro capaz de alargar os pulmões da
Igreja. Valeria Martano, autora do livro ‘O abraço de Jerusalém’:
Valeria
Martano: “Chega-se ao encontro entre Atenágoras e Paulo VI com um longo caminho
paralelo, que vê o desejo pela unidade nascer, de um lado no Oriente, em Atenágoras
que é um cristão oriental, que assiste à desagregação da coexistência otomana e sofre
pela divisão que se transforma em hostilidade e violência, do nacionalismo. Que compreende
e intui a necessidade da unidade, porém, também um homem que fez a experiência da
convivência: 20 anos nos Estados Unidos, um país multi-étnico, pluri-religioso; de
outro lado, paralelamente, nós temos um cristão ocidental, um Padre Bergamasco, que
passa 20 anos – quase os mesmos anos em que Atenágoras esteve no ocidente -, no Oriente.
Como dizia o Papa João: ‘Aprenda a amar os seus cantos, os seus ritos, a veneração
dos ícones, a compreender que estes irmãos, diferentes de nós, têm o mesmo coração
que o nosso’. Existe um kairós no início da estação conciliar destas duas figuras,
que se encontram à frente de suas respectivas Igrejas, que respiraram com dois pulmões,
como depois dirá João Paulo II: ‘o pulmão oriental e o ocidental da Igreja’. Se buscam
e nunca se encontrarão, pela biografia de João XXIII, que é muito idoso. Assim, não
conseguem se encontrar em tempo. Paulo VI, porém, recolhe o testemunho no arco de
pouquíssimos meses da eleição ao Pontificado e leva a termo esta grande história com
o encontro de Jerusalém. Portanto, com a possibilidade que, sem nenhuma submissão
e sem nenhuma cessão, de nenhuma das partes, os cristãos puderam se encontrar como
irmãos onde a fé nasceu”.
Uma ponte construída há 50 anos, que favorecerá
também a próxima viagem do Papa Francisco à Terra Santa e que contemplará a celebração
ecumênica no Santo Sepulcro, em 25 de maio próximo:
Cardeal Poupard:
“A ligação com esta viagem é muito importante, porque é a memória e a esperança
do futuro. E estamos vivendo isto com esta nova viagem”. (JE)