Presidente dos Bispos nigerianos: "O diálogo vence sempre, como vence o amor. Com
uma só voz, podemos vencer tudo!"
Abuja (RV) – Poucas horas após o duplo atentado num mercado na cidade nigeriana
de Jos, que matou ao menos 150 pessoas, foram cometidos outros dois na região de Borno,
provocando dezenas de mortes. A luta contra o terrorismo permanece uma prioridade,
reiterou o governo nigeriano, que imputa à seita islâmica di Boko Haram a responsabilidade
pelas tragédias. Permanecem ainda nas mãos dos terroristas, as 200 estudantes seqüestradas
há um mês.
“É um passo atrás nas tratativas de paz na região”, afirmou o Arcebispo
de Jos e Presidente da Conferência Episcopal nigeriana, Dom Ignatius Kaigama, mantendo,
no entanto, firmes esperanças na paz. Ele falou aos microfones da Rádio Vaticano:
Dom
Kaigama: “Devemos continuar a buscar a paz. Não obstante a tragédia, não devemos
parar. O que os terroristas querem é a guerra entre nós, cristãos e muçulmanos, ou
entre o norte e o sul da Nigéria. Querem colocar um contra o outro. Realizaram estes
ataques em Kano, em Maiduguri, em Abujas e agora em Jos, e continuam a agir assim”.
RV:
O senhor dizia que querem colocar cristãos contra muçulmanos. Na sua opinião, existe
o risco de que isto aconteça? As duas comunidades, como reagiram?
Dom Kaigama:
“Com o trabalho que fazemos, não vejo o risco de que isto possa acontecer. Aqui
existem tantas pessoas que trabalham pela paz entre muçulmanos e cristãos. Eu acredito
que não será possível colocar a Nigéria em guerra e acredito também que não será possível
converter todos os cidadãos nigerianos ao Islã. Isto não é possível, pela multiplicidade
das religiões, dos grupos étnicos e dos grupos políticos. Devemos conviver, devemos
ter uma coexistência, isto é importante”.
RV: Como reagiu a população
de Jos? O que lhe disseram os cristãos?
Dom Kaigama: “Ficaram comovidos
pelo que aconteceu. Foi uma grande surpresa, porque sempre trabalhamos muito para
encontrar a paz. Como eu dizia, temos tantas pessoas que procuram conviver juntas
na paz. O que aconteceu ontem foi para nós uma grande, uma grande surpresa. Não queríamos
encontrar uma situação como esta em Jos, mas aconteceu. Devemos continuar a viver,
isto é o importante. Os grupos religiosos, os grupos políticos e os grupos dos líderes
civis, devemos todos procurar colaborar juntos, para encontrar uma paz duradoura”.
RV:
A Igreja sempre pediu e incentivou o diálogo com o Boko Haram. Depois do que aconteceu
em Jos, considerando estes graves ataques terroristas que Boko Haram continua a perpetrar,
o senhor defende que a arma a ser usada deva ser ainda o diálogo com estas pessoas?
Dom
Kaigama: “O diálogo vence sempre, como vence o amor. As armas não levam à paz
duradoura, mas somente por pouco tempo. Eu estou convencido de que o diálogo com Boko
Haram seja importante, mas o problema é que não sabemos quem são estas pessoas. Atacam,
morrem nos ataques ou fogem. O diálogo é sempre uma arma muito potente e devemos usá-la.
Por isto, após este ataque, conversei com um líder muçulmano em Jos e dizemos um ao
outros que não devemos parar, mas devemos seguir em frente e fazer todo o possível
para encontrar a paz e convencer os adeptos do islamismo e do cristianismo, de que
podemos conviver todos juntos, sem fazer guerra. Devemos continuar assim. Os que realizam
estes ataques são terroristas e são poucos. Nós, que queremos viver juntos, somos
muitos, muçulmanos e cristãos. Somos muitos! Colaborando, podemos encontrar a paz.
A colaboração que temos visto entre os países do mundo contra o terrorismo na Nigéria
é uma boa coisa. Porém, queremos ver algo a mais: que os países do mundo colaborem
não somente contra o terrorismo, mas também contra a pobreza, a ignorância, a guerra
e tantas outras coisas, Com uma só voz podemos vencer tudo!”. (JE)