Presidente da Nigéria visita cidade de Chibok e vai a Paris. Cardeal Onaiyeken considera
positivo o diálogo
O Presidente
da Nigéria, Goodluck Jonathan, desloca-se nesta sexta-feira a Chibok, a pequena cidade
do Nordeste do país, onde foram raptadas, a 14 de Abril passado, umas 200 adolescentes
do dormitório da sua escola.
Segunda a Agência France Press, que cita fontes
cobertas por anonimato, o Presidente vai a Chibok antes de se deslocar a Paris, a
fim de tomar parte, sábado, numa reunião organizada pelo Chefe de Estado francês “para
debater sobre novas estratégias destinadas a fazer face à falta de segurança provocada
por Boko Haram e outros grupos terroristas na África Ocidental e Central” – informação
esta dada pela presidência nigeriana através dum comunicado, refere a AFP.
Na
reunião de Paris tomam parte também os Presidentes do Benin, Camarões, Níger e Chade,
para além de representantes dos Governos dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, e União
Europeia.
Entretanto, depois de se reunir com os chefes do Exercito e dos
Serviços de Segurança nigerianos, o Parlamento do país prolongou ontem para mais seis
meses o estado de sítio em três Estados do Nordeste nigeriano: Adamawa, Yobe e Borno,
este último baluarte histórico de Boko Haram.
Esta seita extremista islâmica,
surgida em 2009, já provocou milhares de mortos, cerca de dois mil só este ano, indica
a agência France Press, que dá a notícia de que quarta-feira à noite Boko Haram incendiou
duas escolas nas aldeias de Shadarki e Yelwan Darazo, sempre no Norte do país. Felizmente,
não houve vítimas. A mesma fonte informa que nenhum dos atacantes, que fizeram irrupção
nas escolas a bordo de carros e motorizadas, foram detidos pela polícia que se recusou
a esclarecer se eram de Boko Haram ou não.
Boko Haram que significa “A educação
ocidental é proibida” já destruiu, segundo a AFP, centenas de escolas no Nordeste
da Nigéria.
Como é sabido nos últimos dias, o Governo da Nigéria e Boko Haram
declaram-se prontos a dialogar, facto que, em entrevista à colega francesa da nossa
emissora, Helene Destombes, o Cardeal John Onayeken, arcebispo de Abuja considerou
positivo:
“É um sinal de esperança não só do lado do Governo nigeriano,
mas também do lado de Boko Haram, pois que até agora tinha sempre dito que não está
pronto para nenhum diálogo. Então quando dizia isto, não havia modo de avançar. Se
agora estão disponíveis a dialogar, e o Governo também, o que resta agora é encontrar
os meios, os canais, as pessoas intermediárias que possam intervir nesse assunto.”
Quem
são as pessoas que poderiam ser intermediárias?
“Não sei
bem, mas sei que há muitas pessoas que têm ideias muito próximas das de Boko Haram
e que poderiam tornar-se também intermediárias. Se decidimos falar de diálogo, o Governo
deve estar disposto a tratar com todos. O outro lado deve também estar disposta a
falar com o Governo, mas tudo isso deve ser para o bem do país.”
Os
líderes religiosos poderiam desempenhar o papel de mediadores entre as duas partes?
“Sim, É pena que até agora o Governo tenha pensado que este
assunto não é de carácter religioso; tem dito muitas vezes que Boko Haram não tem
nada a ver com a religião. Também os chefes muçulmanos têm sempre dito: “essas pessoas
não são muçulmanas, são criminosas”. Mas falando deste modo não se vai nunca à realidade
das coisas, porque é claro que Boko Haram tem uma matriz religiosa. E está claro
que falam sempre de islão. Vimo-lo de forma clara no vídeo. Então, é necessário que
os chefes religiosos, muçulmanos e cristãos, aceitem que temos problemas com esses
grupos e, juntos, procuremos os meios de ter acesso a essa gente. Não sei se o Governo
vai dar maior espaço aos chefes religiosos, particularmente os chefes muçulmanos.”
Era
importante que condenassem os actos de Boko Haram!?
“Já o fizeram,
mas digo que não é suficiente. É preciso ir mais longe. Não só condenar. E é isto
que digo também a propósito das organizações islâmicas internacionais. Há condenação
do que se passou, mas digo que não é suficiente. É preciso ir mais longe
do que condenar. É preciso encontrar a forma de progredir no nosso esforço
de mudar a mentalidade dessa gente. Se as autoridades religiosas nigerianas muçulmanas
aceitarem isso, poderemos avançar e ter muito sucesso.”
Boko Haram
já cometeu muitos crimes, mas este rapto, que já mobilizou a comunidade internacional,
permite finalmente aplicar-se para resolver o problema?
“Sim,
Boko Haram sempre fez essas coisas. Já mataram muita gente. Fala-se de pelo menos
duas mil pessoas assassinadas, mas parece que a comunidade internacional considera
isso normal, quase, quase normal. E as pessoas que aqui vivem na região do Nordeste
começaram a pensar que o Governo não tem nenhum interesse pelos seus problemas. Agora,
graças à forte pressão internacional, o Governo nigeriano teve de tomar medidas muito
precisas e muito claras. Mas, a propósito de diálogo, o caso das meninas raptadas
mostra muito claramente que quando se está perante terroristas há sempre um limite
para as forças militares. Porque mesmo quando se descobrir o lugar onde se encontram
essas meninas para as libertar, sãs e salvas, não é com metralhadora que se vai fazer
isto, será necessário encontrar a forma de convencer essas pessoas; disseram-nos que
pediram, como contrapartida, a libertação dos seus prisioneiros. Poder-se-á tomar
isso em consideração, porque devemos fazer todo o possível par libertar essas meninas.”
Há dias tinha denunciado a incapacidade do Governo nigeriano de reagir,
de tentar encontrar essas adolescentes. Acha que o Governo tomou agora a sério a questão,
nomeadamente aceitando uma cooperação como a dos Estados Unidos?
“O
que eu reclamava era que o Governo nigeriano, com as nossas forças de segurança, devia
fazer mais. Continuo a pensar que o Governo nigeriano deve ter a possibilidade de
enfrentar este problema. Se se trata de adquirir material especial que compre,
temos muito dinheiro! Temos muito dinheiro do petróleo. É preciso comprar
todas essas coisas.”
Está a falar de armas?
“É
preciso comprar tudo o que precisamos. É papel do Governo garantir a seguranças das
pessoas. É também papel do Exercito garantir a segurança das pessoas, defendê-las
contra o terrorismo, contra os grupos armados, etc.. Mas, parece que em todo esse
tempo as Forças Armadas nigerianas não fizeram nada para travar as actividades de
Boko Haram e, de modo particular, para defender as pessoas nessa região. Então, se
é porque não o queriam fazer, agora é preciso ter a vontade política de o fazer. Mas
se é porque não temos meios para o fazer e se é por isso que convidaram os outros
– Governo americano, chinês, etc., a vir ajudar-nos, então digo que é pena!, porque
o Governo nigeriano deve ter a possibilidade de se armar suficientemente para fazer
o trabalho de defender os cidadãos. Na minha opinião o problema principal é como ter
do Governo uma posição forte, unida, que procure a forma de afastar todas essas querelas
no seio do próprio Governo nigeriano. A oposição política acha que o Governo não pôs
talvez suficientemente a tónica na segurança dos nigerianos e que talvez pense mais
em como continuar a governar, em como ganhar as eleições, e tudo isso não permitiu
ver as coisas claramente, com toda a seriedade necessária.” ** O Cardeal Onaiyeken
entrevistado, há dois dias atrás, pela colega francesa, Helene Destombes. Entretanto,
segundo o Ministro britânico encarregado das questões africanas, Mark Simmonds, que
teve um encontro quarta-feira com o Chefe de Estado Nigeriano, referiu que Goodluck
Jonathan recusa o pedido de Boko Haram de libertar prisioneiros desta seita extremista
em troca da libertação das adolescentes raptadas.
Também Ayuba Chibok, tio
duma das raptadas, explicou que os familiares das adolescentes não aceitam essa troca,
considerando que a libertação das adolescentes deve ser feitas “sem condições”.
Ele referiu ainda que os familiares das meninas estão devastados pela angustia, mas
que o vídeo difundido há dias por Boko Haram deu-lhes um pouco de esperança. Oiça
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