Jales (SP) - Há momentos marcantes na assembléia da CNBB. Um deles é a missa
para lembrar os bispos falecidos desde a última assembléia. Os respectivos substitutos
fazem a procissão de entrada, cada um trazendo uma vela acesa, que é colocada diante
do altar, enquanto se lê o nome de cada um dos bispos falecidos.
A média de
idade se encarrega de garantir, cada ano, um bom número de falecimentos. Desta vez,
a foice passou mais rasante, chegando a envolver a própria assembléia.
Poucos
dias antes dela se iniciar, faleceu repentinamente o Bispo de Três Lagoas, no Mato
Grosso do Sul, D. José Moreira. E em plena assembléia, justo no dia em que a liturgia
colocava em destaque os bispos eméritos, chegava a notícia do falecimento de Dom Tomás
Balduino.
Seu enterro se realizou enquanto no Santuário de Aparecida a liturgia
lembrava os bispos falecidos.
Para a morte não existe hora nem dia marcado.
Mas desta vez parecia de fato que a data fora escolhida de propósito. Pois parecia
bem adequado que o bispo que mais valorisou as assembléias da CNBB, morresse justo
no dia em que a CNBB estava reunida em assembléia.
Com sua longa trajetória
de bispo, desde os tempos do Concílio Vaticano II, passando pelo período da ditadura,
Dom Tomás encarna, à perfeição, o legítimo perfil da CNBB. Nascido em Goiás, desde
cedo, como frade dominicano, assumiu a clara postura de homem independente e corajoso,
identificado profundamente com as causas sociais, sempre atento na defesa dos mais
fracos e vulneráveis. De maneira muito concreta, assumiu a causa dos índios, a serviço
dos quais se empenhou de tal maneira que chegou a aprender duas línguas indígenas
para melhor se comunicar com eles.
Nomeado Bispo de Goiás Velho, a mais antiga
diocese do Estado de Goiás, permaneceu no posto até sua aposentadoria. Mas mesmo depois
de bispo emérito, não diminuiu o pique, nem esmoreceu na sua luta.
Por sua
lúcida atuação nas assembléias, ele agora bem que mereceria uma pesquisa, para verificar
as atas, e comprovar que sem dúvida ele foi um dos bispos mais atuantes nas assembléias,sempre
com intervenções muito lúcidas, além de muito livres e autênticas. Bem que a Providência
lhe reservou esta coincidência, de fazer sua última intervenção na assembléia, desta
vez com o silêncio da morte, para que todos percebessem melhor a importância do seu
testemunho de vida.
Mas na missa em memória dos bispos falecidos, foi lembrado
outro gigante do episcopado brasileiro, Dom Waldyr Calheiros, bispo de Volta Redonda,
no Estado do Rio de Janeiro.
A morte de ambos, no mesmo intervalo de assembléias,
veio simbolizar a profunda sintonia que sempre existiu entre ambos, D. Tomás e D.
Waldyr. Ambos tiveram, de fato, uma trajetória episcopal muito parecida. Nomeados
bispos no início da década de sessenta, puderam participar do Concílio Vaticano Segundo,
tendo sido dos mais ardorosos artífices da profunda renovação pastoral que o Concílio
inspirou naquelas décadas.
Lembrados na mesma celebração, ficou ressaltada
sua amizade, a ponto de parecerem irmãos gêmeos, tal a identificação existente entre
eles. Eles fizeram parte de uma geração de bispos, quase todos já falecidos.
Deles
convém guardar bem viva a memória, não só para lembrar suas pessoas, mas para não
esquecermos o perfil da CNBB, que os atuais bispos sentem o desafio de conservar,
mesmo que as circunstâncias histórias tenham mudado.
Tanto Dom Tomás como Dom
Waldyr, junto com Dom Aloísio Lorscheider, Dom Ivo, Dom Luciano, e tantos outros,
fazem parte da galeria dos bispos que nos legaram um impressionante testemunho de
pastores corajosos e coerentes com sua missão.
É compromisso nosso, guardar
agora sua memória, para seguir seu exemplo.