Africanos convidados a assumir os seus destinos - Conferência de homenagem aos Papas
João XXIII e João Paulo II
Sexta-feira, 25, segundo e último dia da Conferência sobre “A Igreja em África: do
Concílio Vaticano II ao Terceiro Milénio: Homenagem da África aos Papas e João XXII
e João Paulo II”, o cardeal Adrien Sarr, arcebispo de Dakar disse que é tempo de os
povos da África assumirem o seu destino no que toca ao desenvolvimento integral do
Continente.
“Os africanos – disse – devem levantar-se e enfrentar as questões
que actuam contra eles. Não podemos deixar que sejam os outros a pensar por nós, fazer
ou dizer-nos o que é necessário para o nosso desenvolvimento. Se quisermos ser respeitados
e manter a nossa dignidade, temos não só de insistir sobre os nossos direitos, mas
também assumir as nossas responsabilidades”.
Ilustrando as razões da criação
do Departamento “Fé, Cultura e Desenvolvimento” pelo SCEAM, (Simpósio das Conferências
Episcopais da África e Madagáscar), o Cardeal Sarr, antigo Presidente deste Simpósio,
exprimiu o desejo de que os africanos, tanto no Continente como na Diáspora, encontrem
os recursos humanos e financeiros necessários para esse Departamento possa levar avante
as suas actividades. Ele descreveu a mentalidade de dependência total de grande parte
dos africanos em relação a ajudas externas como uma doença – “procuracionite” – o
que significa não assumir as próprias responsabilidades na resolução dos próprios
problemas, mas delegá-las a outras pessoas.
Segundo o arcebispo de Dakar,
enquanto os africanos não assumirem as próprias responsabilidades para o seu desenvolvimento
não haverá nenhum desenvolvimento digno deste nome no Continente.
Por seu
turno, o cardeal Peter Turkson, Presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, ao
traçar uma panorâmica dos dois Sínodos dos Bispos para a África, apelou os africanos
a porem em prática as duas Exortações pós-sinodais “Ecclesia in África” e “Africae
Munus”. O primeiro Sínodo – disse – foi realizado num período de alegria e tristezas
para a África – alegria no sentido de que assistia-se naquele momento ao desmantelamento
do Apartheid na África do Sul, e tristezas devido ao genocídio no Ruanda.
Referindo
de modo especial a “Africae Munus”, disse que a situação no terreno indicava que havia
necessidade duma sincera reconciliação dentro e fora da Igreja.
Um outro orador
nesse segundo dia de trabalhos foi o Professor Albert Tevoedjire, Presidente da Fundação
Cardeal Bernardin Gantin, sublinhou que o mundo só poderá ser protegido dos valores
negativos se a família for firmemente enraizada em sãos valores morais. “Estamos a
viver num mundo que está a destruir a família com muito maus valores. Por isso, a
África tem de dizer “Não” a esse valores”. Advertiu, contudo, a Igreja em África a
dar maior atenção à família e à educação dos jovens, assim como à formação de políticos
e homens de negócio católicos. Chamou também a atenção para a necessidade de promover
o dialogo inter-religioso a fim de desenraizar os conflitos de carácter religioso
que estão a espalhar-se por todo o Continente.
Do painel de trabalho fazia
parte também duas mulheres. A primeira a intervir foi a Irmã Teresa Okure, da Congregação
Religiosa internacional “Sociedade do Santo Menino Jesus”, e Decana da Faculdade
Teologia no Instituto Católico da África Ocidental.
Na sua intervenção sobre
“A Mulher na Igreja”, traçou uma panorâmica dos progressos feitos pela Igreja no que
toca ao dossier mulher a partir do Concilio Vaticano II até ao actual pontificado
do Papa Francisco. Ela incitou “a aprendermos da História, a ouvirmos o apelo da Antropologia,
da Teologia e da Justiça Cristológica (verdade na relação) e a permitir à “verdade
do Evangelho” desafiar-nos e conduzir-nos a uma numa nova forma de ser Igreja – ao
procurarmos avançar na questão da mulher na Igreja”. Isto – acrescentou – “permitirá
regressar à identidade que Deus nos deu ao criar-nos, e sujeitar as actuais estruturas
da Igreja, práticas e visões de homens e mulheres à visão libertadora de Cristo tal
como o Papa João XXIII na Pacem in Terris), o Papa João Paulo II na “Novo Millennio
Inenunte) e o Papa Francisco na “Evangeli Gaudium) nos convidam a fazer.
A
irmã Teresa Okure acrescentou que homens e mulheres devem sempre colaborar na missão
evangelizadora da Igreja. Por isso convidou a hierarquia da Igreja a dar mais espaço
à mulher na Igreja, de modo particular no processo de tomada de decisões.
Falando
do mesmo tema, a Senhora Agnes Adjaho, leiga empenhada, do Benin, deteve-se sobre
o papel que a mulher está a ter na Igreja e na sociedade de forma geral. Condenou
a dominação masculina sobre as mulheres, a violência e a marginalização da mulher
na sociedade.
A Conferência que teve lugar na Pontifícia Universidade Urbaniana
de Roma nos dias 24 e 25 deste mês de Abril (2014), prestou uma homenagem aos dois
Papas, João XXIII e João Paulo II, pela especial atenção que deram à África. Foi recordado
que o primeiro Cardeal africano foi nomeado pelo Papa João XXIII e muitos outros cardeais
africanos foram nomeados pelo Papa João Paulo II, que, aliás, visitou a África várias
vezes. Segundo o P. nigeriano John Egboulefu, da Universidade Urbaniana, “A Igreja
em África quis parar um momento para lhes prestar homenagem precisamente por ocasião
da sua canonização porque esses dois Papas têm um significado particular para a historia
contemporânea da Igreja em África num mundo, onde as relações entre as ração são
muitas vezes tensas.”
O primeiro vice-Presidente do SCEAM, D. Luís Portella
Mbuyu que presidiu à sessão de encerramento agradeceu a quantos contribuíram para
o sucesso da conferência. Mencionou de forma especial D. B. Adoukounou, Secretário
do Conselho Pontifício para a Cultura, pelo seu intenso trabalho, visão e empenho
pelo trabalho do Fórum.
O Cardeal Francis Arinze que presidiu à Missa de encerramento
tinha, no primeiro dia da Conferência, elogiado o SCEAM por ter dado vida, em 2010,
ao Departamento “Fé, Cultura e Desenvolvimento”, com o objectivo de fazer da cultura
africana um motor e não um freio ao desenvolvimento integral da África, isto é uma
cultura ao serviço da fé e em permanente dialogo com a fé.
Aguardam-se agora
as Resoluções e Recomendações da Conferência.