2014-04-26 16:35:14

Africanos convidados a assumir os seus destinos - Conferência de homenagem aos Papas João XXIII e João Paulo II


Sexta-feira, 25, segundo e último dia da Conferência sobre “A Igreja em África: do Concílio Vaticano II ao Terceiro Milénio: Homenagem da África aos Papas e João XXII e João Paulo II”, o cardeal Adrien Sarr, arcebispo de Dakar disse que é tempo de os povos da África assumirem o seu destino no que toca ao desenvolvimento integral do Continente.

“Os africanos – disse – devem levantar-se e enfrentar as questões que actuam contra eles. Não podemos deixar que sejam os outros a pensar por nós, fazer ou dizer-nos o que é necessário para o nosso desenvolvimento. Se quisermos ser respeitados e manter a nossa dignidade, temos não só de insistir sobre os nossos direitos, mas também assumir as nossas responsabilidades”.

Ilustrando as razões da criação do Departamento “Fé, Cultura e Desenvolvimento” pelo SCEAM, (Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar), o Cardeal Sarr, antigo Presidente deste Simpósio, exprimiu o desejo de que os africanos, tanto no Continente como na Diáspora, encontrem os recursos humanos e financeiros necessários para esse Departamento possa levar avante as suas actividades. Ele descreveu a mentalidade de dependência total de grande parte dos africanos em relação a ajudas externas como uma doença – “procuracionite” – o que significa não assumir as próprias responsabilidades na resolução dos próprios problemas, mas delegá-las a outras pessoas.

Segundo o arcebispo de Dakar, enquanto os africanos não assumirem as próprias responsabilidades para o seu desenvolvimento não haverá nenhum desenvolvimento digno deste nome no Continente.

Por seu turno, o cardeal Peter Turkson, Presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, ao traçar uma panorâmica dos dois Sínodos dos Bispos para a África, apelou os africanos a porem em prática as duas Exortações pós-sinodais “Ecclesia in África” e “Africae Munus”. O primeiro Sínodo – disse – foi realizado num período de alegria e tristezas para a África – alegria no sentido de que assistia-se naquele momento ao desmantelamento do Apartheid na África do Sul, e tristezas devido ao genocídio no Ruanda.

Referindo de modo especial a “Africae Munus”, disse que a situação no terreno indicava que havia necessidade duma sincera reconciliação dentro e fora da Igreja.

Um outro orador nesse segundo dia de trabalhos foi o Professor Albert Tevoedjire, Presidente da Fundação Cardeal Bernardin Gantin, sublinhou que o mundo só poderá ser protegido dos valores negativos se a família for firmemente enraizada em sãos valores morais. “Estamos a viver num mundo que está a destruir a família com muito maus valores. Por isso, a África tem de dizer “Não” a esse valores”. Advertiu, contudo, a Igreja em África a dar maior atenção à família e à educação dos jovens, assim como à formação de políticos e homens de negócio católicos. Chamou também a atenção para a necessidade de promover o dialogo inter-religioso a fim de desenraizar os conflitos de carácter religioso que estão a espalhar-se por todo o Continente.

Do painel de trabalho fazia parte também duas mulheres. A primeira a intervir foi a Irmã Teresa Okure, da Congregação Religiosa internacional “Sociedade do Santo Menino Jesus”, e Decana da Faculdade Teologia no Instituto Católico da África Ocidental.

Na sua intervenção sobre “A Mulher na Igreja”, traçou uma panorâmica dos progressos feitos pela Igreja no que toca ao dossier mulher a partir do Concilio Vaticano II até ao actual pontificado do Papa Francisco. Ela incitou “a aprendermos da História, a ouvirmos o apelo da Antropologia, da Teologia e da Justiça Cristológica (verdade na relação) e a permitir à “verdade do Evangelho” desafiar-nos e conduzir-nos a uma numa nova forma de ser Igreja – ao procurarmos avançar na questão da mulher na Igreja”. Isto – acrescentou – “permitirá regressar à identidade que Deus nos deu ao criar-nos, e sujeitar as actuais estruturas da Igreja, práticas e visões de homens e mulheres à visão libertadora de Cristo tal como o Papa João XXIII na Pacem in Terris), o Papa João Paulo II na “Novo Millennio Inenunte) e o Papa Francisco na “Evangeli Gaudium) nos convidam a fazer.

A irmã Teresa Okure acrescentou que homens e mulheres devem sempre colaborar na missão evangelizadora da Igreja. Por isso convidou a hierarquia da Igreja a dar mais espaço à mulher na Igreja, de modo particular no processo de tomada de decisões.

Falando do mesmo tema, a Senhora Agnes Adjaho, leiga empenhada, do Benin, deteve-se sobre o papel que a mulher está a ter na Igreja e na sociedade de forma geral. Condenou a dominação masculina sobre as mulheres, a violência e a marginalização da mulher na sociedade.

A Conferência que teve lugar na Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma nos dias 24 e 25 deste mês de Abril (2014), prestou uma homenagem aos dois Papas, João XXIII e João Paulo II, pela especial atenção que deram à África. Foi recordado que o primeiro Cardeal africano foi nomeado pelo Papa João XXIII e muitos outros cardeais africanos foram nomeados pelo Papa João Paulo II, que, aliás, visitou a África várias vezes. Segundo o P. nigeriano John Egboulefu, da Universidade Urbaniana, “A Igreja em África quis parar um momento para lhes prestar homenagem precisamente por ocasião da sua canonização porque esses dois Papas têm um significado particular para a historia contemporânea da Igreja em África num mundo, onde as relações entre as ração são muitas vezes tensas.”

O primeiro vice-Presidente do SCEAM, D. Luís Portella Mbuyu que presidiu à sessão de encerramento agradeceu a quantos contribuíram para o sucesso da conferência. Mencionou de forma especial D. B. Adoukounou, Secretário do Conselho Pontifício para a Cultura, pelo seu intenso trabalho, visão e empenho pelo trabalho do Fórum.

O Cardeal Francis Arinze que presidiu à Missa de encerramento tinha, no primeiro dia da Conferência, elogiado o SCEAM por ter dado vida, em 2010, ao Departamento “Fé, Cultura e Desenvolvimento”, com o objectivo de fazer da cultura africana um motor e não um freio ao desenvolvimento integral da África, isto é uma cultura ao serviço da fé e em permanente dialogo com a fé.

Aguardam-se agora as Resoluções e Recomendações da Conferência.

Fonte: comunicado do SCEAM








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