Belo Horizonte (RV) - Alegrai-vos! Este é o impactante convite de Jesus Ressuscitado
a cada discípulo. Mais que isso, é uma intimação que o Mestre faz ao coração dos homens,
que foi feito para hospedar a alegria. A humanidade procura a felicidade e sem ela
não dá conta de viver. Mas, tantas vezes, busca ser feliz de modo desarvorado, comprometendo
situações sociais e humanas. É importante compreender que a verdadeira felicidade
é o bem supremo. Por isso, o Mestre Ressuscitado, vencedor da morte, faz o convite
para que todos se alegrem diante dos dons e bênçãos, tesouro inesgotável do amor de
Deus.
O tempo pascal é, pois, na força pedagógica da liturgia da Igreja Católica,
a oportunidade rica de exercitar o coração na procura do bem supremo, a verdadeira
felicidade. Essa tarefa deve ser vivida fixando o olhar no Ressuscitado, a vitória
perfeita e completa na história da humanidade, vida que venceu a morte, amor que venceu
o ódio. Há de se ter presente o que Aristóteles sublinhava quanto às diferentes concepções
de felicidade, identificada com a conquista de bens diversos, desde virtudes, sabedoria
prática, sabedoria filosófica, acompanhada ou não por prazer, ou como posse de bens
matérias. Nem mesmo ele, admirável nas raízes da sabedoria filosófica, conseguiu articular
uma conclusão que pudesse fazer entender o significado da felicidade.
Santo
Agostinho a definia como a posse do verdadeiro absoluto, isto é, a posse de Deus,
fonte de todas as outras felicidades. Nesta mesma direção, São Boaventura a compreende
como ponto final do itinerário que leva a alma ao Criador. Essas reflexões concluem
que a felicidade não é, então, a conquista de patrimônios nem de poder, mas conhecimento,
amor e posse de Deus. Assim, ela não é um simples estado de alma, mas algo recebido
de fora, que se relaciona a um bem maior e verdadeiro.
Essas ponderações apontam
para o enorme desafio existencial vivido atualmente, quando a experiência da felicidade
é confundida com a conquista de bens materiais e prazeres efêmeros. Um entendimento
inadequado que sustenta a dinâmica perversa de se buscar conquistas a qualquer preço.
Deste modo, cresce o egoísmo, a mesquinhez, e a humanidade se distancia da vivência
da solidariedade, o que acaba com qualquer perspectiva de alegria verdadeira. A solidariedade
é o que pode curar os males da convivência humana, tão deteriorada em um tempo de
tantas possibilidades. A razão crucial dessa crise, indiscutivelmente, está na identificação
da felicidade como acúmulo, sem limites, de bens materiais e poder, o que resulta
na efemeridade dos bens da criação e no distanciamento do Criador.
São
vários os entendimentos a respeito da felicidade no pensamento filosófico. Em comum,
a anuência de que ela não é um bem em si mesmo, já que para ser felicidade é indispensável
o conhecimento dos bens que são a sua fonte. Assim, pode-se afirmar que sua conquista,
com simplicidade, é a experiência do encontro com Deus, o bem supremo, tão próximo
de nós. Sua experiência existencial tornou-se possível pela encarnação do Verbo, Jesus
Cristo, o Filho de Deus que morre e ressuscita para resgate e salvação da humanidade.
Ele é o Salvador do mundo, o bem supremo, próximo de cada pessoa.
A conquista
da felicidade é o encontro pessoal com Deus, que produz a efusão da alegria. Trata-se
de uma felicidade que não é passageira ou periódica e tem a força que possibilita
grandes transformações. É exemplar para a história da humanidade a força da alegria
produzindo a radical mudança dos discípulos de Jesus. A presença amorosa de Cristo
Ressuscitado faz dos discípulos ignorantes homens sábios. O medo cede lugar à audácia
amorosa. Essa alegria experimentada é fruto da ação do Espírito de Deus, que tira
Jesus da morte, vencida definitivamente pela vida. Uma felicidade autêntica e duradoura,
fonte da força dos discípulos de Jesus, origem da sabedoria necessária para transformar
tudo o que precisa ser mudado, pela alegria.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte