Na Via Sacra o Papa Francisco evoca sofrimentos e injustiças da humanidade – o texto
de D. Bregantini deixou críticas à sociedade atual
O Papa Francisco
evocou nesta Sexta-Feira Santa os sofrimentos provocados pela doença e pelo abandono,
ao concluir a Via-Sacra no Coliseu de Roma, e condenou as injustiças cometidas por
"cada Caim contra o seu irmão". "Todos juntos, recordemos os doentes, lembremos
todas as pessoas abandonadas sob o peso da cruz, a fim de que encontrem na provação
da cruz a força da esperança, da esperança da ressurreição e do amor de Deus", disse
o Santo Padre. Após as 14 estações, que evocam o julgamento e execução de Jesus,
o Papa Francisco disse que Deus colocou na Cruz de Cristo o peso dos pecados da humanidade,
"a amargura" da traição, a "vaidade" dos prepotentes, a "arrogância dos falsos amigos". "Era
uma cruz pesada, como a noite das pessoas abandonadas, como a morte dos entes queridos"
– referiu num texto lido antes da bênção final – mas era também "uma cruz gloriosa",
porque simboliza o amor de Deus. "Na cruz vemos a monstruosidade do homem, quando
se deixa guiar pelo mal, mas também vemos a imensidão da misericórdia de Deus, que
não nos trata segundo os nossos pecados” – afirmou o Papa Francisco. “O mal – declarou
– não terá a última palavra", mas sim "o amor, a misericórdia, o perdão". Uma forte
crítica às chagas da sociedade atual foi o mote das reflexões da Via-Sacra propostas
por D. Giancarlo Bregantini, Arcebispo de Campobasso em Itália. Este refere que no
madeiro da Cruz levado por Jesus até ao calvário estão “o peso de todas as injustiças
que produziram a crise económica, com as suas graves consequências sociais: precariedade,
desemprego, demissões, dinheiro que governa em vez de servir, especulação financeira,
suicídios de empresários, corrupção e usura, juntamente com empresas que deixam os
países”. Nas reflexões feitas pelo arcebispo italiano para as 14 estações da Paixão,
o sofrimento das mulheres também ocupou o seu lugar. Neste contexto, D. Bregantini
pediu que se chore “pelas mulheres escravizadas pelo medo e a exploração”, mas recordou
que “não basta bater no peito e sentir comiseração”. As mulheres devem “ser tranquilizadas
como Ele fez, devem ser amadas como um dom inviolável para toda a humanidade”, acentuou
o prelado. O texto da Via-Sacra teve como tema “Rosto de Cristo, Rosto do Homem”
e numa das estações o arcebispo Bregantini criticou também as condenações e “acusações
fáceis, os juízos superficiais entre o povo, as insinuações e os preconceitos que
fecham o coração e se tornam cultura racista, de exclusão e de descarte”. D. Bregantini,
no texto da Via Sacra, questionou ainda se os homens e as mulheres de hoje sabem “ter
uma consciência reta e responsável, transparente, que nunca volte as costas ao inocente,
mas se posicione, com coragem, em defesa dos fracos, resistindo à injustiça e defendendo
em todo o lado a verdade violada?” De referir que a Cruz foi transportada nesta
noite de sexta-feira, no Coliseu de Roma por um operário, um empresário, dois sem-abrigo,
crianças, idosos, doentes e presos. Segundo D. Giancarlo Bregantini, Cristo é o
rosto que ilumina o Homem – como referiu à Rádio Vaticano em entrevista à nossa colega
Tiziana Campisi:
“…Cristo é o rosto que ilumina o Homem é o homem e o rosto
que encarna. Este é o título: ‘Rosto de Cristo, Rosto do Homem’. Por isso é muito
belo poder dizer: ‘Eu sofro com o meu Senhor. O sofrimento é o seu beijo, a aliança
que eu crio com Ele leva-me a tornar-me seu aliado. E outra mensagem é aquela muito
sublinhada pela ‘Evangelii Gaudium’: ‘o sofrimento do outro é redentor do meu sofrimento’.
Eu não encontro sentido olhando para mim e acariciando as minhas feridas, mas eu encontro
esperança olhando os sofrimentos do outro’. (RS)