2014-04-18 09:39:00

No meio do caminho tinha uma pedra


Petrópolis (RV) - Ecoa em minha memória o poema de Carlos Drummond de Andrade: "No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma pedra. No meio do caminho tinha uma pedra".

A aparente obviedade dos versos do poeta pode ilustrar os sentimos confusos que, há dois mil anos, dilaceravam o coração dos Discípulos de Jesus. Sim! Puseram uma pedra sobre a sepultura do Mestre, e tudo estava acabado. Dentro, o silêncio de um corpo inerte; fora, a decepção dos que acreditaram que Ele jamais morreria. Os maus venceram... e agora sobrara, tão somente, o luto os justos!

Entretanto, a vitória dos maus dura pouco, porque a vitória do amor não termina nunca. A história terrena de Deus não podia findar com o riso farfalhoso da aliança diabólica selada entre Herodes, Pilatos, Judas e o Sinédrio. Se o mal aprisiona, Deus liberta. Tudo o que não pôde ser, tudo o que ficou pelo meio, tudo o que foi arruinado pelo desamor, encontrará no Ressuscitado a sua plena transformação. A vida venceu a morte, expulsando para longe o desejo do poder como norma de vida, e a morte como sentença para os desafetos. Ele deu o "direito de o ferirem" e nos concedeu o "direito" de salvação. Nisso está todo o mistério do amor misericordioso de Deus para conosco.

Assim, na Páscoa de Jesus o amor se revelou mais forte do que o mal e a morte. Ele nos dá a conhecer em que mãos estamos, e para onde ela nos conduz. Viver desta alegria não é perder a lucidez perante o drama do sofrimento, do desemprego, da precariedade de vidas e das incertezas. O povo traz na pele sua paixão, sua dor, sua morte. Porém, somente a certeza de que a Vida venceu - e vencerá - nos põe a caminho para superar nossas mazelas estruturais.

A Páscoa é a ressurreição do Cristo e, nela, a restauração de nossas almas. Este é o dia de renascer, começar tudo de novo. De nos libertarmos do mal que corrompeu nossas almas e nos recobrirmos com o véu da pureza que um dia tivemos. Hoje é dia de abandonarmos tudo o que é velho e antigo e olharmos para a frente com coragem, dedicando-nos à vida como quem sorve o sumo de um fruto saboroso, que somente Jesus pode nos fazer saborear.

Sim, Jesus ressuscitou! E sua presença se torna ainda mais viva em nosso dia a dia, pois, por causa desse Senhor, uma pedra de desesperança foi removida de nossas vidas. Por isso nós cremos... por isso temos a certeza de que ressuscitaremos, pois Ele nos precedeu no triunfo sobre a morte, fazendo com que a vida tomasse um rumo novo, baseado no amor e na misericórdia de um Deus vivo, que nos dá participar da mesma vida que Ele fez surgir e sobre a qual tem total poder.

Dom Gregório Paixão, OSB
Bispo da Diocese de Petrópolis (RJ)







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