2014-04-15 19:55:27

Fundação João Paulo II para Sahel - sinal do amor de Deus manifestado pelo Papa Wojtyla àquelas populações africanas


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Na iminência da canonização de Papa Roncali e do Papa Wojtyla, recordamos hoje aqui na rubrica “África Global” a Fundação João Paulo II para o Sahel…

Numa homilia muito articulada em que estabelecia uma relação entre a questão da água na Bíblia e a seca no deserto africano do Sahel, o Papa João Paulo II lançava, a 10 de Maio de 1980, em Ougadougou, no actual Burkina-Faso, um premente apelo às instituições internacionais, aos governos, às ONG’s, aos investigadores, aos fieis do mundo inteiro… a ajudarem, de todas as formas, as populações sahelianas martirizadas pela seca e a desertificação…

A esse apelo responderam com generosidade sobretudo os fieis católicos da Alemanha, aos quais se juntou mais tarde a Conferência Episcopal Italiana.

Quatro anos mais tarde, em 1984, o Papa criava a Fundação João Paulo II para o Sahel para - dizia – “dar forma orgânica, permanente e eficaz às ajudas da Igreja destinadas aos Países do Sahel, num espírito de caridade e de autêntica promoção humana”.

2014 é, portanto, o trigésimo aniversário da Fundação, e é o ano da canonização do Beato João Paulo II. Mais do que uma simples coincidência, trata-se de um mistério – consideraram os bispos africanos administradores da Fundação, na sua assembleia anual, no Senegal, em Fevereiro passado.

Senegal é, de facto, um dos nove países membros da Fundação. Os outros oito são Cabo Verde, Guiné-Bissau, Chade, Gâmbia, Mali, Mauritânia e Níger.

A Fundação tem um secretariado em Ouagadougou, capital do Burkina-Faso, mas a sua sede é no Vaticano, junto do Conselho Pontifício “Cor Unum” que a tutela legalmente e controla o capital, informando periodicamente o Pontífice sobre a situação.

Segunda-feira, numa conferência de imprensa, sobre as duas Fundações criadas pelo Papa João Paulo I - a para o Sahel e a Fundação Populorum Progressio para a América Latina - o actual Secretário de Cor Unum, Mons. Dal Toso, fazia notar que o Papa João Paulo II sempre quis evitar que a Fundação fosse uma imposição dos países do Norte aos do Sul, como muitas vezes acontece. De facto, numa das ocasiões, Karol Wojtyla sublinhava que citamos “a solução está nas mão dos africanos: colaborar com eles, mesmo no plano técnico, não quer dizer substituí-los”. Trata-se, portanto, duma realização concreta da comunhão eclesial, fruto também da co-responsabilidade de todos.

Por sua vez, na emissão “Afrofonia” da RV, dedicada sábado passado à Fundação JPII para o Sahel, Mons. Karel Kasteel, antigo Secretario do “Cor Unum” e como tal observador da Santa Sé junto da Fundação João Paulo II para o Sahel, falava com grande alegria da Fundação…

“É uma grande alegria poder falar desta Fundação pontifícia que acompanhei quase desde o início, de 1993 a 2009 e, por isso, vi como o ideal do grande Santo Papa João Paulo II se pôde realizar. É verdade que o objectivo principal era e é combater a seca e colaborar para encontrar a melhor forma de combater a desertificação, mas por vezes esquece-se que o espírito da Fundação é também o de levar toda a população, não só católicos, mas também muçulmanos e membros da Religião Tradicional Africana a colaborar nisso. Aliás, é preciso também recordar a memória do servo de Deus, Cardeal Zoungrana, arcebispo de Ouagadougou (primeiro arcebispo africano francófono) que inspirou o Papa para que criasse essa Fundação com vista também numa grande colaboração entre todos, tanto é que uma importante oferta para a Fundação foi feita por um muçulmano do Burkina-Faso em jeito de reconhecimento pela atenção que o Papa João Paulo II tinha tido em relação a esse grande país”.

Como observador do Papa junto da Fundação, teve a oportunidade de visitar os países beneficiários dela. Que imagem se fez deles e da utilidade da Fundação para eles?


Como observador do Papa pude efectivamente visitar os nove países. Cada um tem a sua própria identidade e características próprias. É verdade que o Burkina-Faso, estando de certo modo no centro, exerceu maior influência sobre o conjunto dos países, tanto é que por um certo tempo nos reuníamos sempre lá, mas devo dizer que conservo maravilhosas recordações seja do Níger, seja de Cabo Verde… as ilhas de Cabo Verde juntaram-se depois à Fundação… primeiro eram só 8 países; depois, graças ao então bispo da Praia, pôde-se acrescentar Cabo Verde à Fundação. E então passamos a ter também Cabo Verde que, como sabe, é um país de antiga tradição católica, tem muitos séculos de catolicismo, enquanto que os outros são de mais recente cristandade… mas cada um deles é tão maravilhoso que quando uma pessoa vai uma vez, fica sempre com vontade de regressar… Também é marcante a gratidão das pessoas, o apego que têm em relação ao Santo Padre e a compreensão do desejo que João Paulo II teve de ajudar mesmo as populações das aldeias mais remotas a fim de que as mulheres não tenham de ir buscar a água sabe-se lá a quanto quilómetros de distância….
É todo um conjunto de coisas! … Um dos projectos de que me recordo particularmente era nos arredores de Bamako, no Mali, um dos maiores países do Sahel, um projecto que permitia a um grupo de mulheres ter perto da cidade hortas onde pudessem cultivar, com água suficiente, tudo o que lhes ocorria para a alimentação familiar e também vender um pouco daquilo que cultivavam. Visitar esse projecto, (assim como tantos outros), foi uma festa porque via-se que a Fundação tinha atingido a sua velocidade de cruzeiro, como costumava dizer o Cardeal Etchegaray que, na qualidade de Presidente do Cor Unum na altura, visitou também esses países para constatar pessoalmente o andamento da Fundação.”

A Fundação forma animadores, operadores da saúde, hidráulicos, mecânicos, agricultores, criadores de gado, técnicos florestais, etc. Financia sobretudo pequenos projectos comunitários, realizados em colaboração com a Igreja e com as comunidades locais. É também um instrumento de diálogo inter-religioso, na medida em que a grande maioria dos beneficiários nos nove países membros são de religião muçulmana.

Actualmente a Fundação está em fase de reestruturação. É que a crise financeira internacional faz-se sentir também sobre ela. Mas é só isso? Ainda Mons. Karel Kasteel…

“Inicialmente houve essa grande generosidade dos católicos alemães na sequência do apelo feito – recordo - de joelhos pelo Papa no Estádio de Ouagadougou. Depois, a generosidade todos os anos da Conferência Episcopal italiana. Mas não é tanto o facto que os fundos diminuem, é que aumentam os projectos, aumenta a necessidade de ajudar as pessoas. Por isso, não há dúvida de que o capital deve ser aumentado. E, como para todas as fundações, é preciso encontrar, de um modo ou doutro, mais fundos para ir ao encontro das necessidades: bolsas de estudo, procura da água… e de tudo o que serve para combater a desertificação que é, efectivamente, um problema gravíssimo em toda essa região.”

No âmbito da reestruturação da Fundação – disse-nos tanto Mons. Dal Toso como D. Pedro Zilli, bispo de Bafatá na Guiné-Bissau – está-se a tentar diversificar as fontes de entrada. Neste sentido nasceu recentemente na França, por ex., uma Associação Amigos da Fundação João Paulo II para o Sahel que vai também ajudar a modernizar o site. Também se está a tentar sensibilizar os próprio africanos, especialmente os que têm meios, para que contribuam para o capital da Fundação. Recorde-se que uma vez por ano, fazem-se colectas em cada um dos países membros destinadas à Fundação. No plano administrativo – disse-nos D. Pedro Zilli - vão tentar reduzir as despesas de viagens para reuniões, procurando fazê-las via skipe, por ex.

A Fundação gere anualmente cerca de dois milhões de dólares.
Em 2013 financiou, nos nove países membros, 131 projectos num total de 1 milhão e 600 mil dólares.

No âmbito desta reestruturação, um perito francês na elaboração de projectos, contratado pelo Conselho Pontifício Cor Unum está a fazer uma ronda pelos países membros da Fundação para formar formadores… Em Cabo Verde esteve 6 dias no início de Março. Marina Almeida, Secretária da Caritas Nacional dava conta disso, em entrevista à Rádio Nova, sublinhando o empenho a fim de que a Fundação que é dos sahelianos leve avante o seu objectivo de promoção humana das comunidades.

Com efeito, é com olhos postos no crescimento integral e humano das comunidades que a Igreja age, manifestando a misericórdia e a proximidade de Cristo em relação a quem está em dificuldades, sublinhava o Papa João Paulo II, no encontro com os Conselhos de Administração das duas Fundações, Populorum Progressio e João Paulo II para o Sahel, em Julho de 2000…

“(…) Através da sua acção, a Igreja quer indicar que Deus se faz próximo de quem está em dificuldades para que volte a ter esperança e dignidade. A Igreja não pretende ser uma simples agência de ajuda humanitária; quer, isso sim, dar testemunho da caridade de Cristo que liberta o ser humano de todos os males. Nesta luz vão as iniciativas empreendidas por estas duas fundações em nações e continentes particularmente provados. É nesta luz que se coloca toda a acção caritativa da Igreja, que o Conselho Pontifício “Cor Unum” é chamado a inspirar e a coordenar.” RealAudioMP3


















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