Francisco: um dos desafios do nosso tempo: transmitir o saber e oferecer uma chave
de compreensão
Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu no final da manhã desta
quinta-feira, na Sala Paulo VI, no Vaticano, a Comunidade da Pontifícia Universidade
Gregoriana e os membros do Pontifício Instituto Bíblico e Pontifício Instituto Oriental.
No
seu discurso aos professores, estudantes e funcionários o Papa agradeceu primeiramente
as palavras o Prefeito da Congregação para a Educação Católica, Cardeal Zenon Grocholewski.
Presente também o Preposto Geral da Companhia de Jesus, Padre Nicolás.
O Santo
Padre recordou que as Instituições presentes no encontro – reunidas em Consórcio pelo
Papa Pio XI em 1928 – são confiadas à Companhia de Jesus e partilham o mesmo desejo
de “trabalhar por Deus sob a bandeira da Cruz e servir somente ao Senhor e à Igreja
Sua esposa, estando a disposição do Romano Pontífice, Vigário de Cristo na terra”
(Formula, 1). Francisco então sublinhou a importância de que entre essas Instituições
se desenvolvam a colaboração e as sinergias, preservando a memória histórica e ao
mesmo tempo assumindo o presente e olhando para o futuro com criatividade e imaginação,
procurando sempre ter uma visão global da situação e dos desafios atuais e um modo
compartilhado para enfrentar, encontrando novos caminhos.
O Papa Francisco
deteve-se então em dois aspectos pensando no compromisso dos membros dessas Instituições,
sejam eles professores, sejam estudantes. O primeiro aspecto sublinhado foi o da valorização
do lugar onde se encontram para trabalhar e estudar, isto é, a cidade e, sobretudo,
a Igreja de Roma.
“Há um passado e há um presente” – disse o Papa. Existem
as raízes da fé: as memórias dos Apóstolos e dos Mártires; e existe o hoje eclesial,
existe o caminho atual desta Igreja que preside a caridade, ao serviço da unidade
e da universalidade.
Mas ao mesmo tempo destacou o Papa “vocês trazem a variedade
de suas Igrejas, de suas culturas”. “Essa é uma das riquezas inestimáveis das instituições
romanas. Elas oferecem uma preciosa ocasião de crescimento na fé e de abertura da
mente e do coração ao horizonte da catolicidade. Dentro deste horizonte a dialética
entre “centro” e “periferias” assume uma forma própria, a forma evangélica, segundo
a lógica de um Deus que chega ao centro partindo da periferia e retorna à periferia.
O
segundo aspecto que o Papa citou foi o da relação entre estudo e vida espiritual.
“O seu compromisso intelectual, no ensino e na pesquisa, no estudo e na mais ampla
formação – disse o Santo Padre – será mais fecundo e eficaz se for animado pelo amor
a Cristo e à Igreja, tornando mais harmoniosa a relação entre estudo e oração”.
"Esse
é um dos desafios do nosso tempo: transmitir o saber e oferecer uma chave de compreensão
vital, não um acúmulo de noções não interligadas entre si. É necessária uma verdadeira
hermenêutica evangélica para entender melhor a vida, o mundo, os homens, não de uma
síntese, mas de uma atmosfera espiritual de busca e certeza baseada na verdade de
razão e de fé".
A filosofia e a teologia permitem adquirir as convicções que
estruturam e fortalecem a inteligência e iluminam a vontade... mas tudo isso é fecundo
somente se se faz com uma mente aberta e de joelhos. O teólogo que se satisfaz com
o seu pensamento completo e concluído é um medíocre. O bom teólogo e filósofo tem
um pensamento incompleto, sempre aberto ao “maius” de Deus e da verdade, sempre em
desenvolvimento, de acordo com a lei que São Vicente de Lerins descreve assim: se
consolidada ao longo dos anos, se expande com o tempo, se aprofunda com a idade. E
o teólogo que não reza e que não adora Deus acaba afundado no mais repugnante narcisismo.
"O
objetivo dos estudos em toda Universidade pontifícia é eclesial, destacou o Papa.
A pesquisa e o estudo devem ser integrados com a vida pessoal e comunitária, com o
compromisso missionário, com a caridade fraterna e a partilha com os pobres, com o
cuidado da vida interior na relação com o Senhor. Seus institutos não são máquinas
para a produção de teólogos e filósofos; são comunidades em que se cresce, e o crescimento
ocorre na família".
Na família universitária existe o carisma de governo, confiado
aos superiores, e existe a diaconia do pessoal não docente, que é essencial para a
criar o ambiente familiar na vida cotidiana, e também para criar um comportamento
de humanidade e de sabedoria concretos, que fará dos estudantes de hoje pessoas capazes
de construir humanidade, de transmitir a verdade na dimensão humana, de saber que
se falta a bondade e a beleza de pertencer a uma família de trabalho se acaba tornando
um intelectual sem talento, um especialista sem bondade, um pensador carente de esplendor
da beleza e apenas "maquiada" de formalismos. O contato respeitoso e diário com o
trabalho duro e o testemunho de homens e mulheres que trabalham em suas instituições
que lhes dará aquela dimensão necessária de realismo para que a sua ciência seja uma
ciência humana e não de laboratório. (SP)