Luto nacional em Ruanda, nos 20 anos do genocídio de 1994
No Ruanda, decorre
a partir de ontem, 7 de abril, um período de “luto nacional” comemorativo dos 20 anos
do início do genocídio de 1994. Aliás desde janeiro passado que uma tocha – simbolizando
a memória colectiva daquela tragédia – está a percorrer uma a uma todas as localidades
do país. Iniciado a 7 de abril, na sequência do abatimento do avião em que viajava
o então presidente Juvenal Habyarimana, o massacre prolongou-se por mais de três meses,
até 19 de julho de 1994. Segundo a ONU, extremistas da etnia hútu assassinaram barbaramente
pelo menos 800 mil pessoas de etnia tutsi e hútus moderados. Também a Igreja contou
as suas vítimas, nomeadamente o arcebispo de Kigali e outros três bispos, mais 123
padres (109 diocesanos e 14 religiosos) e umas 300 religiosas. Insistentes e repetidos
foram os apelos lançados por João Paulo II, que foi o primeiro a falar em “genocídio”,
na audiência geral de 27 de abril de 1994, suplicando que se pusesse termo àquele
“banho de sangue”. Domingo passado, ao meio-dia, na praça de São Pedro, por ocasião
do Angelus, também o Papa Francisco evocou este triste aniversário do início do genocídio
no Ruanda, apelando à paz no país africano. “Nestas circunstâncias, desejo exprimir
a minha paterna vizinhança ao povo ruandês, encorajando-o a prosseguir, com determinação
e esperança, o processo de reconciliação que já manifestou os seus frutos e o compromisso
de reconstrução humana e espiritual do país”. Convidando todos a rezarem conjuntamente
a Nossa Senhor de Kibeho, padroeira do Ruanda, o Papa confiou-lhe a população ruandesa,
à qual dirigiu um apelo: “A todos digo: não tenhais medo! Construí a vossa sociedade
sobre a rocha do Evangelho, no amor e na concórdia, porque só assim se gera uma paz
duradoura”. O Papa recordou também o encontro tido, quinta-feira passada, com os
bispos do país africano, vindos todos ao Vaticano, em visita “ad limina Apostolorum”.
Nessa altura, o Papa recordou expressamente o “terrível genocídio” no Ruanda, considerando
que subsistem “feridas que estão ainda longe de estar cicatrizadas”. “Associo-me
de todo o coração ao luto nacional”, declarou então o Papa, assegurando a sua oração
“pelos bispos, pelas comunidades tão dilaceradas e por todas as vítimas e as suas
famílias, por todo o povo ruandês, sem distinção de religião, de etnia ou de opção
política”. Para o Papa, duas décadas após estes “trágicos eventos”, “a reconciliação
e a cura de feridas continuam a ser, sem dúvida, a prioridade da Igreja no Ruanda”.