Maringá (RV) - No dia 03 de abril O Padre José de Anchieta é canonizado sem
os dois milagres geralmente necessários; um para a beatificação e outro para a canonização
propriamente dita. Os canonistas chamam este procedimento de “canonização equivalente”,
pois ela equivale ao processo normal para declarar que determinada pessoa falecida
se encontra junto de Deus, intercedendo pelos que ainda vivem na terra. Na canonização
equipolente deve-se ater a três requisitos básicos: 1) a prova do culto antigo ao
candidato a santo, 2) o atestado histórico incontestável da fé católica e das virtudes
do candidato, 3) a fama ininterrupta de milagres intermediados pelo candidato.
José
de Anchieta nasceu em 19 de março de 1534 em Tenerife, nas Ilhas Canárias, na Espanha.
Era primo do fundador da Companhia de Jesus, Santo Inácio de Loyola, onde ingressou
em 1551. Chegou ao Brasil em 1553, aos 19 anos, por iniciativa do Padre Manuel da
Nóbrega, que precisava de reforço para a evangelização no País. No Brasil José de
Anchieta percorreu vários Estados, como Bahia, São Paulo e Espírito Santo. Foi criador
do Colégio de Piratininga, inaugurado em 25 de janeiro de 1554 e que deu origem à
cidade de São Paulo. O jovem jesuíta catequizou índios, fundou e construiu povoados,
colégios e igrejas. Também lutou contra invasores franceses no Espírito Santo e fundou
e dirigiu o Colégio dos Jesuítas em Vitória.
José de Anchieta morreu na aldeia
de Rerigtiba, atual município que leva seu nome, em 9 de junho de 1597 e seu corpo
foi transportado pelos índios até a Catedral de Vitória, onde foi sepultado. Enquanto
era transportado, o corpo caiu no chão e os índios bradaram “Aba ubu”, que significa
“O padre caiu”. O local da queda é o atual balneário de Ubu, pertencente ao município
de Anchieta. Em 1611 os seus restos mortais foram transladados. Uma parte foi levada
para o Colégio São Thiago, que dirigiu em Vitória, hoje Palácio Anchieta, sede do
Governo do Espírito Santo, e outra enviada para Roma.
O Padre Anchieta foi
beatificado pelo papa João Paulo II, em Roma, em 22 de junho de 1980. O processo durou
417 anos e foi um dos mais longos da História. O Arcebispo de Vitória, Dom Luiz Mancilha,
afirma que o Beato Anchieta teve grande influência na formação religiosa do Estado
e do Brasil: “Ele foi um grande catequista, um grande missionário, grande professor,
grande místico, um homem de Deus!”. Sua disposição em caminhar fazia com que ele,
pelo menos duas vezes por mês, percorresse a trilha litorânea entre Iririgtiba (atual
balneário de Iriri) e Vitória, 105 quilômetros, conhecida como os “Passos de Anchieta”,
hoje é um caminho percorrido por muitos brasileiros e estrangeiros.
Popularizado
como o Apóstolo do Brasil, Anchieta foi um missionário incomparável, fundador de cidades,
gramático, poeta, historiador e teatrólogo. O apostolado não o impediu de cultivar
as letras, pelo contrário, o incentivou a compor belíssimos textos, o que fez em quatro
línguas: português, castelhano, latim e tupi, em prosa e verso. Festejamos com muita
fé o dia 03 de abril quando o Papa assinou o decreto de Canonização.
A canonização
de José de Anchieta é um acontecimento social e religioso. Deveras, a pujança, a desenvoltura
da cidade de São Paulo em muito é tributária da operosidade dinâmica dos jesuítas.
Da mesma forma que a Companhia de Jesus se expandiu avassaladoramente em pouquíssimo
tempo, São Paulo progrediu miraculosamente, talvez graças ao toque inicial de São
José de Anchieta e Padre Manoel da Nobrega.