Cidade do Vaticano (RV) - O Beato
João Paulo II passou para a casa do Pai no dia 2 de abril de 2005, em meio à comoção
geral de fiéis e não fiéis reunidos na Praça São Pedro e daqueles que através dos
meios de comunicação seguiam os momentos derradeiros de um homem que fez parte da
vida de milhões de pessoas. Não somente porque era o líder de mais de um bilhão de
católicos em todo o mundo, mas porque era um homem que fascinou os corações dos homens
de boa vontade, seja de qualquer religião à qual pertencessem. Um homem que foi instrumento
de Deus. O mundo ficou paralisado naqueles dias vendo a invasão pacífica de Roma
e Vaticano por pessoas provenientes de todas as partes do mundo: era um mar de gente
que veio dar o último adeus a um homem que conquistou e sacudiu corações e mentes. Os
meios de comunicação naqueles dias abriram janelas intermináveis em suas programações
para contar o que estava acontecendo em Roma; sim, os mesmos meios de comunicação
que seguiram o Pontificado de João Paulo II por mais de 27 anos, contando e analisando
com sua palavra, cada gesto seu. Foi uma relação de amizade cultivada durante todo
o seu percurso como pontífice; uma amizade que com o tempo cresceu sem medida, tornando
os comunicadores que seguiam o seu magistério, pessoas da família, pessoas a quem
contar a Boa Nova do Evangelho. O apreço pelos meios de comunicação e pelos comunicadores
foi tanto da parte de João Paulo II que no seu último Angelus, em que pode expressar
palavras, no dia 13 de março de 2005, ainda na Policlíncia “Gemelli”, onde estava
internado, afirmou que sentia de modo particular a presença e a atenção de tantos
trabalhadores dos mass media. “Hoje – disse com a voz cansada - desejo dirigir-lhes
uma palavra de gratidão, porque conheço o sacrifício com que desempenham o seu precioso
serviço, graças ao qual os fiéis, em todas as partes do mundo, podem sentir-me mais
próximo e acompanhar-me como afeto e com a oração”. Palavras textuais de um Papa,
que mesmo no sofrimento, se recordou daqueles que, debaixo de sol e chuva, continuavam
a contar ao mundo o drama vivido pelo “homem que veio de longe”. João Paulo II
naquela ocasião não perdeu a oportunidade de deixar a sua mensagem, que é atual, aos
meios de comunicação e aos comunicadores, reforçando o importante papel dos mesmos
na nossa época de comunicação global. Grande responsabilidade de quantos trabalham
neste campo, chamados a fornecer sempre uma informação exata, respeitadora da dignidade
da pessoa humana e atenta ao bem comum. Era tempo de Quaresma e JPII convidou todos
a se alimentarem da Palavra de Deus, acrescentando: “apraz-me recordar que é possível
nutrir o próprio espírito também mediante o rádio, a televisão e a internet. Estou
grato a quantos se dedicam a estas novas formas de evangelização valorizando os meios
de comunicação social”. João Paulo II foi um homem que sempre usou os meios de
comunicação para falar ao mundo e jamais se furtou de salientar o grande respeito
e amor que tinha por aqueles que neles trabalham orientando e recordando a missão
que cada um tem dentro da comunicação. Não interessa a que meio de comunicação você
como comunicador pertença, grande ou pequeno, você, com o seu trabalho, é capaz de
entrar na vida das pessoas e muitas vezes modificá-la, criar indagações, colocar pontos
interrogativos. O Beato João Paulo II que em breve será declarado Santo, certamente
será sempre recordado, para além da sua grandeza como pessoa, como homem, como pontífice,
como um homem de comunicação, e que fez entrar pela porta da frente a comunicação
na Igreja. Basta recordar a sua Encíclica Redemptoris Missio na qual afirma que a
Comunicação Social não pode ser reduzida a simples instrumentos para a pregação, mas
é um lugar de pregação da Boa Nova, revestindo as relações entre a Igreja Católica
e a Comunicação Social com as roupas da Inculturação. Wojtyła tinha profunda consciência
da importância da Comunicação e estava convencido da capacidade da Comunicação Social
transformar as pessoas. Ele deixou aos comunicadores e aos meios de comunicação
um legado de responsabilidade afirmando que “comunciar é evangelizar”. Para muitos
João Paulo II foi o Papa, por excelência, da comunicação, “midiático” desde o instante
em que foi eleito. Falava às massas, mas o diálogo era como se fosse com cada um,
era individual. Em uma conversa com João Paulo II o então Diretor da Sala de Imprensa
da Santa Sé, Joaquín Navarro-Valls, fez uma pergunta – disse ele – estúpida. “Nós
estávamos nas montanhas, caminhando bem no alto. Era verão. “Santo Padre, se por acaso
queimassem o Evangelho, se ele desaparecesse da terra, e o senhor tivesse a possibilidade
de salvar só uma frase do evangelho, que frase seria?”. João Paulo II não teve dúvida
nem por um segundo. “Aquela frase do Evangelho de São João que diz que ‘a verdade
vos libertará’”. Este sem dúvida é para mim o grande legado de João Paulo II para
nós comunicadores; comunicar a verdade, a beleza da verdade. (Silvonei José)