Cidade do Vaticano
(RV) - Em 9 de junho de 1957, morria em Reritiba, aos 63 anos de idade, o Padre
José de Anchieta, Apóstolo do Brasil, Defensor da liberdade dos índios, Taumaturgo
do Novo Mundo, de virtudes em Grau Heróico, declaradas pela Santa Sé. Foi o primeiro
propagador da Imaculada Conceição no Brasil, autor de seu Officium Parvum,
cantor de suas glórias no Poema de Beata Virgine. Foram necessários 417 anos - um
longo percurso marcado por percalços de toda ordem, mas também, sempre acompanhado
pela graça – para chegarmos a este momento.
Logo após a sua morte com fama
de santidade, os jesuítas começaram a movimentar-se para iniciar o processo de sua
canonização, não somente pela fama de santidade de Anchieta, mas também incentivados
pela forte manifestação de afeto dos índios.
37 anos após o início deste processo,
os jesuítas depararam-se com um primeiro obstáculo. O Papa Urbano VIII assinou um
decreto em que os Processos das Causas dos Santos só poderiam ser examinados 50 anos
após a morte do fiel cristão. Assim, somente a partir de 1647 a documentação de Anchieta
poderia ser investigada.
Com um decreto do Papa Inocêncio X, a Causa foi retomada,
começando pela Declaração da 'Não Existência de Culto Público'. Assim, no ano de 1652,
Anchieta era declarado Servo de Deus.
Após sofrer nova interrupção, desta
vez por falta de recursos, a Causa foi retomada em 1702. Em 1732, os escritos foram
examinados e aprovados no ano seguinte, sendo publicados por Roma com o título "Autos
sobre as Virtudes deste Apóstolo". Três anos após, com a publicação do Decreto das
Virtudes em Grau Heróico, a santidade de Anchieta era definitivamente reconhecida
pela Igreja, passando então a receber o título de 'Venerável'. Foram 21 os Processos
realizados e repetidos no Brasil, Portugal e Estados Pontifícios e em sete cidades:
Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Olinda, Évora, Lisboa e Roma.
Em 1760 os
jesuítas foram expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal e em 1773 o Papa Clemente
XIV suprimiu a Companhia de Jesus, provocando nova interrupção da Causa. Somente 110
anos após, em 1883, a Causa foi retomada. Em 1903, todos os processos anteriores foram
declarados válidos.
O episcopado brasileiro, em três séculos e meio, foi ininterruptamente
constante e pastoralmente fiel nos apelos dirigidos aos Sumos Pontífices, por meio
de cartas postulatórias em prol da Beatificação de Anchieta. Uma coleção destas cartas
pertencem aos Bispos da Bahia, Olinda e Rio de Janeiro, acrescidas pelas dos Bispos
de Portugal e Espanha, e pertencem aos séculos XVII e XVIII.
Cartas decisivas,
porém, que impressionaram o Papa Paulo VI e acabaram frutificando no Pontificado de
João Paulo II, foram as redigidas e assinadas pelo Presidente e Bispos da CNBB, nas
Assembléias de 1969, 1974 e 1977.
Em outubro de 1976, em Aparecida, Pe. Moutinho,
novo Vice-Postulador da Causa, consagrou a Causa a Nossa Senhora Aparecida, argumentando
com a Virgem que ela tinha uma dívida de gratidão com Anchieta pelas obras 'O Poema
da Virgem', o 'Pequeno Ofício' ou 'Horas da Imaculada Conceição'. Assim, em 1980,
após ouvir o pedido do Vice-Postulador, João Paulo II beatificou José de Anchieta,
reconhecendo sua fama de santidade e de "milagreiro".
Tendo sido beatificado,
era necessário ainda um esforço final para a sua canonização. Um pedido da Conferência
dos Bispos do Brasil, acompanhado pelos de cardeais, arcebispos, bispos, padres, representantes
dos poderes públicos e também dos leigos representantes de vários segmentos da sociedade,
foi encaminhado ao Papa Francisco para que inscrevesse o nome de José de Anchieta
no Catálogo dos Santos, estendendo seu culto para a Igreja espalhada por todo o mundo.
(JE)