Brasília (RV) - "Quando alimentei os pobres chamaram-me santo, mas quando
perguntei por que há gente pobre chamaram-me COMUNISTA".
Dom Helder Câmara
O Golpe Militar de 1964 foi uma ocupação violenta de todos os aparelhos de
Estado, regida por atos institucionais, pela tirania, pela violação dos direitos humanos,
pela repressão e pela violência.
O então Presidente da República João Goulart
defendia reformas de base para modificar as estruturas sociais e econômicas do país.
"Não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral
ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza
da vida democrática, pela justiça social e pelo progresso do Brasil".
Em consequência,
a opção pelos mais pobres e a luta por uma estrutura econômica mais justa gerou a
manipulação da ideia da conspiração Comunista contra a pátria. O fortalecimento das
organizações populares, como os sindicatos, levou à acusação de que se queria implantar
uma “República Sindicalista”. Num mundo bipolar, em plena guerra fria, entre os Estados
Unidos e a União Soviética, os militares, as elites brasileiras e a mídia se organizaram
e difundiram que as reformas pretendidas pelo governo de João Goulart eram comunistas.
Iniciou-se um processo de denuncismo e difundiram a idéia de que o país seria submisso
à União Soviética e que os valores cristãos seriam destruídos. Na verdade tinham medo
de perder seus privilégios.
Nessa época, muitos jovens católicos estavam em
movimentos ligados à Ação Católica, como a Juventude Universitária Católica (JUC),
a Juventude Operária Católica (JOC) e a Juventude Estudantil Católica (JEC). Um importante
movimento, que foi tomando consciência dos problemas brasileiros era a Ação Popular
que nasceu dentro da JUC anos de 1959/60. Após o golpe militar esses movimentos foram
enxergados como laboratórios de idéias comunistas, e os seus participantes foram duramente
perseguidos pelo regime militar.
Por mais de 20 anos prevaleceu o medo e o
martírio imposto a população brasileira. Jovens estudantes, operários, padres, frades,
irmãs e todos os que se opuseram ao regime militar estavam sujeitos as barbáries executadas
pelos militares.
Recentemente, documentos revelados pela Comissão Nacional
da Verdade evidenciaram que a JUFRA foi objeto de investigação na época da Ditadura
Militar. O prontuário de Nº 002800, de 30 de maio de 1974, com o título de “Juventude
Franciscana – JUFRA” alegava que “é interessante que as atividades da organização
passem a ser acompanhadas, pois dada a sua estrutura e poder de envolvimento psicológico
do jovem, pode tornar-se perigoso instrumento de atividades subversivas no futuro,
como ocorreu com várias organizações, entre as quais a AP (Ação Popular), que inicialmente
tinham finalidades salutares, mas que depois tornaram-se facções de cunho esquerdista”.
Na realidade, o grande perigo no Brasil e na América Latina sempre foi o capitalismo
selvagem que criou o maior fosso de desigualdades entre ricos e pobres, sem paralelos
no mundo até os dias atuais. O golpe de 64 não foi um golpe contra o presidente João
Goulart, e sim contra o povo brasileiro. O Golpe implantou uma ditadura que oprimiu
o povo. Através da chamada doutrina de segurança nacional, os militares censuraram,
torturam e mataram. Milhares de dirigentes torturados, mortos, desaparecidos, outros
tantos exilados, documentos e sindicatos destruídos.
Passaram-se 50 anos,
mas ainda continua denuncismo moralista a serviço do enfraquecimento do Estado, os
interesses do capital internacional, as elites com sua resistência às políticas sociais
e aos direitos do povo, e uma mídia golpista. A memória é fundamental e junto com
ela o julgamento dos crimes da ditadura, para que nunca mais se repitam.
Para
conferir os documentos de investigação da Jufra acessem: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/upload/Deops/Prontuarios/BR_SP_APESP_DEOPS_SAN_P002800_01.pdf
Fraternalmente, Igor Bastos Subsecretario Nacional de Direitos Humanos,
Justiça, Paz e Integridade da Criação Juventude Franciscana do Brasil