2014-03-29 09:13:07

Editorial: Momento de conversão


Cidade do Vaticano (RV) RealAudioMP3 Todos os dias somos bombardeados com notícias e imagens, através dos meios de comunicação, de guerras fratricidas, de morte e desespero de homens, mulheres e crianças. Vivemos o cotidiano de conflitos com a “ilusão” de que tudo faz parte da imaginação, e não da realidade, e que ao desligarmos a televisão ou rádio, tudo desaparece. O Papa Francisco não se cansa de chamar a atenção para essa dor causada pelo próprio homem, para a dor do irmão que cai sob a violência de outro irmão; e tudo pela busca efêmera de poder, de dinheiro, de querer ser mais do que o outro, de querer ter mais direitos.

Apelos para que se coloquem fim a essas violências são uma constante nas palavras de Francisco, que olha para além das fronteiras erguidas pelos países, para além das raças e religiões a que pertencem as pessoas, e de sua condição social. Um dos últimos apelos foi dirigido no último domingo ao Sudão do Sul: o Papa pediu que se assegure ajuda humanitária e se promova a paz neste pedaço de terra martirizada. A mensagem foi enviada à Diocese de Juba e lida pelo Presidente do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, Cardeal Peter Turkson, durante a Missa por ele presidida na Catedral de Santa Teresa, na conclusão de sua visita de cinco dias ao país.

Recordamos que o Sudão do Sul, um país jovem presente no cenário das nações independentes há apenas três anos, viu explodir a violência em dezembro de 2013, num conflito étnico envolvendo as forças governamentais do Presidente Kiir, de etnia dinka, e os seguidores do Vice-presidente Machar, de etnia nuer.

O que o Papa diz a esta nação, que está ainda em dores de parto, serve para todas aquelas realidades onde a paz ainda é uma quimera, onde a violência é o tom dos discursos e conversas. “Sem paz não existe desenvolvimento”, escreveu Francisco. A guerra ceifa a vida de pessoas inocentes, provoca divisões e causa pobreza, fome, doenças e morte. “Não podemos permanecer indiferentes diante dessas realidades”, sublinhou o Santo Padre, que não se esquece da dramática situação dos refugiados e deslocados obrigados a se exilarem, em condições contrárias à sua dignidade; a grande parcela deles não é considerada gente, mas sim estatística sem nome.

Os apelos do Papa em prol do fim dos conflitos em todo o mundo, como o da Síria, que dura já mais de 3 anos, visam tocar as partes envolvidas, mas também a comunidade internacional, para que essas espirais de violência tenham um fim e que as ajudas humanitárias, que permitem a sobrevivência de povos inteiros, cheguem sem obstáculos aos verdadeiros necessitados. A morte e o sofrimento de tantos inocentes devem impulsionar a busca, sem medidas, de soluções pacíficas, onde o respeito pela dignidade de cada homem e de cada mulher esteja no centro de todos os interesses.

Hoje vivemos um momento particular da história da humanidade, com o desenvolvimento de tantas opções tecnológicas, de tantas oportunidades de vencer doenças antes incuráveis, de correr o mundo em segundos com as redes telemáticas, de poder acabar com o sofrimento imane de multidões de deserdados, e não conseguimos – apesar das possibilidades – sentarmos ao redor da mesma mesa para resolver questões que alimentam violências, e desenvolver uma “cultura do encontro”. Sim para desenvolver essa cultura do encontro – tão pedida pelo Papa Francisco - devemos, antes de tudo, rejeitar o egoísmo, a centralidade de pensamento, - só eu sei, só eu posso -, rejeitar o pensamento de ver no outro somente um inimigo, e não um irmão com quem trabalhar junto.

Hoje é difícil encontrar o outro e respeitá-lo na sua totalidade, deixando de lado o desejo pessoal. A arte do encontro que tanto o Papa pede, somente será uma realidade quando todos nós, cada um de nós, nos descobrirmos limitados, necessitados do outro. Descobrirmos que não podemos viver sozinhos e que não somos o centro de tudo, existe o outro.

É o momento da conversão para o outro, da conversão do coração, da consciência para um mundo mais justo, mais fraterno, de partilha. Mente e coração em um novo momento de crescimento, de reconciliação, de diálogo. Somente assim a paz poderá ser uma realidade para todos os homens e mulheres. (Silvonei José)










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