Curso sobre 'Foro Íntimo'. Card. Piacenza: que os sacerdotes saibam 'habitar o confessionário'
com coração paterno
Cidade do Vaticano (RV) – Teve início na tarde desta segunda-feira, no Vaticano,
o 25º Curso sobre ‘Foro íntimo’, organizado pela Penitenciaria Apostólica. O encontro
- que reúne cerca de 500 sacerdotes e seminaristas próximos à ordenação, para um aprofundamento
sobre o Sacramento da Reconciliação - concluir-se-á na sexta-feira com uma audiência
com o Papa Francisco e com a participação na celebração penitencial. A Rádio Vaticano
entrevistou o Penitencieiro Mor, Cardeal Mauro Piacenza, que abriu os trabalhos na
tarde desta segunda-feira.
RV: A Igreja fala de conversão e de misericórdia.
É este o tema privilegiado da pregação quaresmal. Como se desenvolve tudo isto?
R:
“A Igreja não somente anuncia a conversão e o perdão, mas ao mesmo tempo, é sinal
de tudo isto, sinal que traz reconciliação com Deus e com os irmãos. Portanto, é certamente
um sinal de paz eficaz no mundo. A celebração do Sacramento da Reconciliação insere-se
no contexto de toda a vida eclesial, sobretudo em relação ao mistério pascal celebrado
na Eucaristia e – eu diria – fazendo referência ao Batismo vivido, à Confirmação e
às exigências do mandamento da caridade, do amor. É sempre uma celebração alegre do
amor de Deus que doa a si mesmo, destruindo o nosso pecado quando estamos dispostos
a reconhecê-lo com humildade”.
RV: Que incidência tem na vida social
o Sacramento da Penitência?
R: “Se tende à reconciliação plena segundo
a lógica do ‘Pai Nosso’, as Bem-aventuranças e o mandamento do amor. É um caminho
de purificação dos pecados e também um itinerário para a identificação com Cristo.
Este caminho penitencial é hoje, como sempre, de extrema importância, como fundamento
para construir uma sociedade que viva a comunhão. Também – e aqui a incidência – no
modo de ler os acontecimentos deste mundo assim como nos são jogados pelas crônicas
cotidianas e pelas situações sociais, acredito que se deva sempre ter presente a realidade
do pecado original. O não querer ter presente que o homem tem uma natureza ferida,
inclinada também para o mal, provoca graves erros no campo educativo, no campo político,
etc”.
RV: Devem ser confessados também os pecados veniais?
R:
“Quando se entra na dinâmica evangélica do perdão, fica fácil compreender a importância
de confessar também os pecados leves e as imperfeições. Por que isto? Porque passa
a existir uma decisão de progredir na imitação de Cristo, em percorrer a via do Espírito
e com o desejo de transformar verdadeiramente a própria vida em expressões da misericórdia
divina para com os outros. Deste modo, se entra em sintonia com os sentimentos de
Cristo “que sozinho – como diz São Paulo na carta aos Romanos e na primeira Carta
de São João – expiou pelos nossos pecados”. Portanto, certo, os pecados graves devem
ser confessados; as imperfeições e todo o resto, é bom confessá-los”.
RV:
Como deve ser a confissão?
R: “A confissão deveria ser clara,
simples, íntegra dos próprios pecados. A “conversão”, como retorno ao projeto do Pai,
implica – e esta, portanto, é outra característica – o arrependimento sincero, e portanto,
a acusação clara e a disposição em reparar a própria conduta. Assim, se volta a orientar
a própria existência no caminho do amor para com Deus e para com o próximo. O penitente,
diante de Cristo ressuscitado presente no sacramento (mas de qualquer maneira também
no ministro), confessa os próprios pecados, exprime o próprio arrependimento e se
empenha em corresponder à graça de Deus para poder emendar-se. A graça do Sacramento
da Reconciliação é graça do perdão que chega até à raiz do pecado cometido após o
Batismo e cura as imperfeições e os desvios, dando ao crente a força para a ‘conversão’
verdadeira”.
RV: O Papa Francisco exorta os sacerdotes a serem misericordiosos.
O que significa isto, concretamente?
R: “É importante mais do que
nunca que o confessor saiba acolher o penitente. E a primeira acolhida é anterior
e é constituída pela oração e pela penitência que o sacerdote deve fazer por aqueles
que se aproximarão da Confissão. É necessário, após, “habitar o confessionário”, ou
seja, estar ali em horários que vão de encontro aos fiéis e com um coração incandescente
de paternidade. A ajuda, durante a confissão, tende ao verdadeiro conhecimento de
si mesmo, à luz da fé, em vista de uma atitude de contrição e de propósito de conversão
permanente, íntima, para superar a insuficiente resposta ao infinito amor misericordioso
de Deus. A caridade pastoral impulsiona o sacerdote confessor à máxima disponibilidade
na acolhida das ovelhas feridas, antes ainda, ir ao seu encontro para reconduzi-los
ao redil. O Papa Francisco usa frequentemente uma expressão icônica ao apresentar
a Igreja quando diz: “É como um hospital de campanha”. Partindo desta mesma expressão,
se poderia dizer que a Confissão é como um setor de urgência de tal Hospital. O confessor
é pastor, pai, mestre educador, juiz misericordioso, médico que deve ajudar o penitente
a retomar o pleno vigor”.
RV: Qual deve ser a formação de um Confessor?
R:
“Se requer uma cuidadosa formação para exercitar proficuamente o ministério de
confessor. É necessário uma delicada sensibilidade espiritual e pastoral, uma preparação
teológica, moral e pedagógica de modo a permitir uma verdadeira compreensão do que
é vivido pelo penitente. Portanto, é necessário saber ver onde vive o penitente, a
sociedade onde está inserido, o contexto familiar... Tudo isto deveria fazer parte
não somente da formação inicial, mas também daquela permanente do clero. O Curso sobre
Foro Íntimo que faremos nestes dias é uma pequena contribuição para a formação de
um bom confessor”.
RV: Fala-se também de alegria. Em que sentido?
R:
“Sim, O Sacramento da Reconciliação é um grandíssimo dom, um dom também para nós
sacerdotes que, mesmo chamados a exercitar este ministério, temos as nossas faltas
a serem perdoadas; portanto, somos penitentes e confessores ao mesmo tempo. A alegria
de perdoar e a alegria de sermos perdoados caminham juntas. Portanto, nesta sede auguro
a todos: confessores e penitentes de poder experimentar esta alegria cristalina. É
o meu mais cordial auguro pascal!”.
RV: Vocês organizam
este Curso sobre Foro Íntimo: o senhor poderia nos dizer como ele se desenvolverá?
R:
“A Penitenciaria Apostólica, já há 25 anos organiza um Curso sobre Foro Íntimo
voltado aos sacerdotes novos ou recém ordenados e seminaristas próximos da ordenação
presbiterial. Neste ano o curso se realizará a partir desta segunda-feira até 28 de
março na sede da Penitenciaria, no Palácio do Tribunais, na Praça da Chancelaria.
Até o momento existem cerca de 500 inscritos pertencentes a vários continentes. Após
a ‘lectio magistralis’ do Cardeal Penitencieiro Mor sobre o tema “...renovar o encontro
pessoal com Jesus Cristo”, se alternarão o Cardeal Prefeito da Congregação para o
Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, o Monsenhor regente, os Prelados da Penitenciaria
e os diversos oficiais da mesma. As várias exposições serão seguidas de debates. Às
12 horas do dia 28 teremos o dom da audiência com o Santo Padre para a Penitenciaria,
para todos os penitencieiros ordinários e extraordinários das 4 Basílicas papais,
mas a audiência será estendida aos participantes do curso. Na tarde de sexta-feira,
às 16h30min, na Basílica de São Pedro, haverá uma celebração penitencial presidida
pelo Santo Padre, quando ele ouvirá a confissão de alguns fiéis”. (JE)