Santa Maria (RV) - Por que será que se fala e se sabe tão pouco sobre este
tema? Uma das respostas poderia ser: porque é feito às escondidas para fugir do flagrante
e da punição. Essa “invisibilidade” é denunciada pela CF 2014, que pede à sociedade
que esteja atenta à sua prática, aprenda a identificá-la e a denuncie com determinação
e coragem.
Infelizmente, no mundo, o tráfico humano é muito grande. Segundo
a revista Época (n. 770), “um estudo do Escritório da ONU sobre Drogas e Crimes, estima
que 800 mil a 2,4 milhões de pessoas vivem traficadas hoje no mundo – um negócio ilegal
que movimenta pelo menos 32 bilhões de dólares por ano. No Brasil, o cenário é parecido.
A Polícia Federal, entre 2005 e 2011, abriu 514 inquéritos sobre o tráfico de pessoas.
A maior parte foi aliciada para trabalho escravo e exploração sexual” (cfr. p.44-46).
O
que a Igreja diz sobre o tráfico humano?
Muitas vezes a Igreja tem se pronunciado,
assim como age na prevenção e na denúncia desse crime horrendo. O Papa João Paulo
II afirmou: “O comércio de pessoas humanas constitui uma chocante ofensa contra a
dignidade humana e uma grave violação dos direitos humanos fundamentais. Já o Concílio
Vaticano II apontou ‘a prostituição, o mercado de mulheres e jovens e também as condições
degradantes do trabalho, que reduzem os operários a meros instrumentos de lucros,
sem respeitar-lhes a personalidade livre e responsável’ como ‘infâmias’ que ‘envenenam
os que as cometem’ e constituem ‘uma suprema desonra ao Criador’” (GS 27).
O
Papa Francisco recentemente afirmou: “Insisto que o tráfico de pessoas é uma atividade
ignóbil, uma vergonha para as nossas sociedades, que se dizem civilizadas! Exploradores
e clientes de todos os níveis deveriam fazer um exame sério de consciência diante
de si mesmo e perante Deus! Hoje a Igreja renova o seu apelo vigoroso a fim de que
sejam sempre salvaguardadas a dignidade e a centralidade de cada pessoa, no respeito
pelos seus direitos fundamentais, como ressalta a sua doutrina social, direitos que
ela pede que sejam estendidos realmente onde não são reconhecidos para milhões de
homens e mulheres em todos os Continentes... Num mundo onde se fala tanto de direitos,
parece que o único que os tem é o dinheiro. Vivemos num mundo onde é o dinheiro que
manda. Não vos esqueçais da carne de Cristo que está na carne dos refugiados: a carne
deles é a carne de Cristo” (24/05/2013).
Naturalmente surge a pergunta: o que
nós podemos e devemos fazer contra o tráfico humano? Entre outras atitudes, podemos
e devemos: 1. Interessar-nos pelo assunto, aprendendo a identificar os casos de tráfico
humano; 2. Acompanhar as celebrações, reflexões e outras atividades da Campanha da
Fraternidade na comunidade e pelos meios de comunicação; 3. Estudar, de preferência
em grupo, o Texto-Base da CF 2014, redigido pela CNBB; 4. Descobrir e participar de
pastorais e outros grupos que defendem e promovem a dignidade humana; 5. Denunciar
os casos de tráfico humano.
Certamente esta CF 2014 vai produzir muitos frutos
na sociedade brasileira, pois, “a defesa e a promoção da dignidade da pessoa humana
nos foram confiadas pelo Criador. Em todas as circunstâncias da história, os homens
e as mulheres são rigorosamente responsáveis e obrigados a esse dever” (GS 26).
Dom
Hélio Adelar Rubert Arcebispo Metropolitano de Santa Maria - RS