2014-03-22 07:16:08

Editorial: Mercadoria do tempo moderno


Cidade do Vaticano (RV) – RealAudioMP3 Nós no Brasil, neste período da Quaresma, estamos refletindo sobre a proposta da Igreja Católica apresentada na já tradicional Campanha da Fraternidade. Todos os anos os bispos brasileiros escolhem um tema para toda a Igreja refletir: este ano o tema recorda a triste realidade do tráfico humano. A preocupação da Igreja do Brasil bem como da Igreja presente em todo o mundo foi, é, e sempre será, defender a dignidade do homem, na sua integridade.

Na sua mensagem enviada para o início da Campanha da Fraternidade no Brasil o Papa Francisco, frequentador das periferias existenciais do homem, afirmou que “a dignidade é igual para todos”. E recordou: “Não é possível permanecer indiferente sabendo que existem seres humanos comprados e vendidos como mercadorias! Tenhamos em conta as crianças das quais se tiram órgãos, as mulheres enganadas e obrigadas a se prostituirem, os trabalhadores sem direito e sem voz”. O Papa ainda pediu que se reflita sobre os abusos que acontecem dentro das próprias famílias. "Pais que escravizam seus filhos, filhos que escravizam seus pais”.

A luta contra o tráfico de seres humanos ganhou na semana que passou novos aliados. De fato, a Santa Sé assinou um acordo com a Rede Global de Liberdade, formada por representantes das grandes religiões do mundo, para desarraigar as formas modernas de escravidão e o tráfico de pessoas até 2020, por meio de inúmeras iniciativas, inclusive da oração e do jejum. Papa Francisco chama continuamente a atenção dos fiéis e dos homens de boa vontade para os temas relativos a essas novas formas de escravidão, verdadeiro crime contra a humanidade.

Na conclusão do encontro desta semana, no Vaticano, foi feita uma declaração conjunta entre os signatários do acordo na qual se destaca como “a exploração física, econômica e sexual de homens, mulheres e crianças leva hoje 30 milhões de pessoas à degradação". Tolerar essa situação significa violar a nossa humanidade comum e ofendermos a consciência de todos os povos. O apelo é para que cesse toda forma de indiferença em relação às vítimas da exploração.

Um dos caminhos para erradicar essa terrível espiral de violência e dor é o reforço dos valores humanos, dos ideais de humanidade. Essa “escravidão moderna” é um dos maiores escândalos do nosso tempo. É inconcebível somente pensar que milhões de seres humanos, pessoas com sentimentos e anseios, sejam vítimas desse tipo de violações, exploradas e privadas de sua dignidade e seus direitos. Uma realidade que atinge cada nação, cada sociedade, e também a sociedade brasileira. Mulheres, crianças e adolescentes continuam a ser as principais vítimas.

O tráfico de seres humanos é, em todo o mundo, o terceiro negócio ilícito mais rentável, depois do tráfico de drogas e de armas. Sua causa principal é a pobreza e as grandes desigualdades sociais.

Em um mundo que quer ser identificado como a terra de homens livres, de homens civilizados, de homens de boa vontade, as vítimas da “escravidão moderna” e do tráfico de pessoas são, infelizmente, parte do cotidiano, apesar da negação de muitos e da escuridão que envolve esta realidade.

Vivemos na atualidade uma derrota da humanidade, pois a mesma permite que seres humanos sejam tratados como objetos, enganados, violentados, vendidos, mortos ou feridos no corpo e na alma; permite que sejam descartados e abandonados. É uma vergonha, um crime, repetiu várias vezes Papa Francisco.

É necessário que todos façam a sua parte, Igreja, governos, povos; é necessário uma vontade geral para conseguir vencer a luta contra o tráfico de seres humanos, e assim tutelar os direitos das vítimas e impedir a impunidade dos corruptos e criminosos. E o tráfico de pessoas – recordamos - está relacionado ao comércio de drogas, armas, transporte de imigrantes e máfia, verdadeiros cânceres que consomem a sociedade moderna. A pessoa humana não é mercadoria, e é bom que fique impresso nas nossas consciências que “quem a usa ou a explora se torna cúmplice deste crime”. (Silvonei José)








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