Cidade do Vaticano (RV) – Nós no
Brasil, neste período da Quaresma, estamos refletindo sobre a proposta da Igreja Católica
apresentada na já tradicional Campanha da Fraternidade. Todos os anos os bispos brasileiros
escolhem um tema para toda a Igreja refletir: este ano o tema recorda a triste realidade
do tráfico humano. A preocupação da Igreja do Brasil bem como da Igreja presente em
todo o mundo foi, é, e sempre será, defender a dignidade do homem, na sua integridade.
Na sua mensagem enviada para o início da Campanha da Fraternidade no Brasil
o Papa Francisco, frequentador das periferias existenciais do homem, afirmou que “a
dignidade é igual para todos”. E recordou: “Não é possível permanecer indiferente
sabendo que existem seres humanos comprados e vendidos como mercadorias! Tenhamos
em conta as crianças das quais se tiram órgãos, as mulheres enganadas e obrigadas
a se prostituirem, os trabalhadores sem direito e sem voz”. O Papa ainda pediu que
se reflita sobre os abusos que acontecem dentro das próprias famílias. "Pais que escravizam
seus filhos, filhos que escravizam seus pais”.
A luta contra o tráfico de
seres humanos ganhou na semana que passou novos aliados. De fato, a Santa Sé assinou
um acordo com a Rede Global de Liberdade, formada por representantes das grandes religiões
do mundo, para desarraigar as formas modernas de escravidão e o tráfico de pessoas
até 2020, por meio de inúmeras iniciativas, inclusive da oração e do jejum. Papa Francisco
chama continuamente a atenção dos fiéis e dos homens de boa vontade para os temas
relativos a essas novas formas de escravidão, verdadeiro crime contra a humanidade.
Na
conclusão do encontro desta semana, no Vaticano, foi feita uma declaração conjunta
entre os signatários do acordo na qual se destaca como “a exploração física, econômica
e sexual de homens, mulheres e crianças leva hoje 30 milhões de pessoas à degradação".
Tolerar essa situação significa violar a nossa humanidade comum e ofendermos a consciência
de todos os povos. O apelo é para que cesse toda forma de indiferença em relação às
vítimas da exploração.
Um dos caminhos para erradicar essa terrível espiral
de violência e dor é o reforço dos valores humanos, dos ideais de humanidade. Essa
“escravidão moderna” é um dos maiores escândalos do nosso tempo. É inconcebível somente
pensar que milhões de seres humanos, pessoas com sentimentos e anseios, sejam vítimas
desse tipo de violações, exploradas e privadas de sua dignidade e seus direitos. Uma
realidade que atinge cada nação, cada sociedade, e também a sociedade brasileira.
Mulheres, crianças e adolescentes continuam a ser as principais vítimas.
O
tráfico de seres humanos é, em todo o mundo, o terceiro negócio ilícito mais rentável,
depois do tráfico de drogas e de armas. Sua causa principal é a pobreza e as grandes
desigualdades sociais.
Em um mundo que quer ser identificado como a terra
de homens livres, de homens civilizados, de homens de boa vontade, as vítimas da “escravidão
moderna” e do tráfico de pessoas são, infelizmente, parte do cotidiano, apesar da
negação de muitos e da escuridão que envolve esta realidade.
Vivemos na atualidade
uma derrota da humanidade, pois a mesma permite que seres humanos sejam tratados como
objetos, enganados, violentados, vendidos, mortos ou feridos no corpo e na alma; permite
que sejam descartados e abandonados. É uma vergonha, um crime, repetiu várias vezes
Papa Francisco.
É necessário que todos façam a sua parte, Igreja, governos,
povos; é necessário uma vontade geral para conseguir vencer a luta contra o tráfico
de seres humanos, e assim tutelar os direitos das vítimas e impedir a impunidade
dos corruptos e criminosos. E o tráfico de pessoas – recordamos - está relacionado
ao comércio de drogas, armas, transporte de imigrantes e máfia, verdadeiros cânceres
que consomem a sociedade moderna. A pessoa humana não é mercadoria, e é bom que fique
impresso nas nossas consciências que “quem a usa ou a explora se torna cúmplice deste
crime”. (Silvonei José)