2014-03-15 12:23:34

Bispos de Timor Leste em Roma. Entrevista a D. Basílio do Nascimento


Tem início na próxima segunda-feira, 17 de março, a visita “ad limina Apostolorum” (Papa e Cúria Romana) dos três bispos que compõem a Conferência Episcopal de Timor Leste. Rafael Belicanta entrevistou, há dias, telefonicamente, D. Basílio do Nascimento, bispo de Baucau, presidente da Conferência Episcopal.

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- Até bem pouco tempo a Igreja teve um papel fundamental na independência do Timor Leste, como o senhor avalia este papel, antes e depois da independência?
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- A importância da Igreja continua. De facto, tanto os governantes como o povo, ainda continuam reconhecidos ao papel da Igreja. Simplesmente hoje em dia penso que a Igreja também tem que saber situar-se nesta nova realidade. Eu costumo dizer que num tempo a Igreja foi protetora, logo no início da invasão indonésia, a um dado momento foi denunciadora dos direitos e da falta de respeito pelos timorenses. Numa fase a Igreja tentou ser reconciliadora entre os irmãos indonésios, e hoje em dia penso que o papel que cabe à Igreja desenvolver é o papel de educador. Educador não no sentido de facultar pura e simplesmente a capacidade de aprender a ler e a escrever mas, sobretudo, de aprender a viver nesta nova situação, com costumes novos. A democracia, por exemplo, não é um costume da governação timorense, de maneira que nós passamos de um sistema tradicional para um sistema moderno e tudo isso acarreta uma aprendizagem e penso que a Igreja hoje em dia tenha um papel fundamental nesta educação da população para saber viver esta nova situação.

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- Em relação a visita Ad Limina, a primeira dos bispos de Timor Leste a Papa Francisco, especificamente, o que trará na bagagem para ser apresentado ao Papa?

- Nós, primeiro, vamos apresentar aquilo que Timor é, para pegar em duas palavras que são caras a Papa Francisco: a periferia: é um País da periferia. Periferia em relação aos grandes centros de desenvolvimento do mundo e, depois, é um país do “fim do mundo”. Acho que em relação ao Timor essa expressão tem toda a pertinência porque de fato aqui é o fim do mundo. Mas é um País que, apesar de tudo, apesar da sua pequenez, apesar de ser recentemente independente, é um país com tradição católica de 500 anos. De maneira que, uma das coisas que vamos apresentar ao Papa é um convite para ver se a Sua Santidade se disponibiliza a vir celebrar conosco os 500 anos de presença portuguesa mas sobretudo de evangelização, a comemorar-se em 2015. Outra coisa é apresentar o que é a vida da Igreja timorense na realidade e apresentar também as nossas dificuldades, as nossas carências e sobretudo a realidade que estamos a viver hoje como Igreja.

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- Como foi recebida a eleição de Papa Francisco no Timor Leste e como os fiéis veem o Papa neste primeiro ano de pontificado?

- O nome do Santo Padre não era conhecido. E, portanto, foi assim uma surpresa e sobretudo tendo em atenção aquilo que a comunicação social tinha ventilado em relação a alguns nomes mais soantes, mas desde o primeiro dia que o Santo Padre Francisco impressionou e conquistou sobretudo as pessoas pela sua simplicidade e pela sua linguagem muito direta. Este é um País maioritariamente católico, 97% da população é batizada, é um Papa que causou impressão junto dos cristãos, mas ao mesmo tempo uma simpatia enorme do Santo Padre precisamente por sua maneira de ser, por sua simplicidade, e pela sua linguagem “terra a terra”. Parece que quando fala, o Papa engloba ou atinge a realidade das pessoas, a realidade do dia a dia das pessoas.

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- Qual é a realidade hoje da Conferência Episcopal timorense em relação à família, objeto de discussões do próximo Sínodo?

- Nós vamos também levar um retrato da família em Timor Leste, quais são as influências modernas sobre esta forma de viver. A família aqui ainda tem muito valor, muito peso, mas neste momento encontra-se em confrontação com essas ideias novas que vem de fora e que neste momento trazem alguma confusão porque a família tradicional timorense é uma família homem – mulher e uma família numerosa. E, agora, com estas igualdades todas e a limitação na natalidade, somente para citar estes dois fatos, cria sim uma certa confusão aqui na cabeça das pessoas. Precisamente por uma realidade, isto é, os timorenses em relação ao Ocidente tem uma ideia que o Ocidente seja Portugal. E Portugal foi o País que inculcou valores para esta sociedade. Agora, hoje em dia, que nesse vai e vem gente e ideias, para os timorenses alguns valores ainda são relacionados com aquilo que Portugal transmitiu, que significava ou significa ou mundo de fora, hoje em dia as pessoas sentem-se um pouco confusa, porque até agora nos ensinaram uma coisa e agora nos ensinam outra...Estamos a avançar num período de confusão de ideias, mas pronto, antigamente nós éramos sozinhos, não havia estas influências e hoje em dia essas consequências do mundo claro que é necessário a gente saber situar-se dentro desta nova realidade.

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- Qual é o grande desafio para as três dioceses do Timor Leste?

- Fundamentalmente é a formação das pessoas. Quando disse que o Timor Leste tem 97% da população católica, de fato o é, mas para sermos mais realistas, temos 97% de batizados. Porque a formação cristã é muito defeituosa. Tudo isso é fruto da situação da guerra em que muita gente foi batizada pura e simplesmente por circunstância, digamos assim, só que a Igreja depois não teve ainda tempo de criar estruturas, sobretudo em nível de recursos humanos, para instruir, para formar, estes batizados todos na fé cristã. Para nós, o grande desafio é este. E depois também, como sabe, um País que começa, mesmo em nível de estruturas de formação, estamos bastante carentes. De maneira que hoje em dia o nível de formação do clero também está bastante deficiente, a formação dos agentes pastorais também está bastante deficiente. Estamos a tentar ajudas, sobretudo em nível de recursos humanos, para as Igrejas irmãs. Até aqui pedimos para Portugal. Este ano, Brasil já nos deu alguma coisa. Realizou-se mais um projeto mais concreto, vindo professores recomentados pela CNBB (Conferência Episcopal Brasileira), para formar professores no Seminário Maior. De maneira que, para sintetizar, a maior preocupação nossa, a maior dificuldade, é a formação em todos os níveis, dos quadros humanos.

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