Card. Hummes: "A misericórdia de Deus é para todos, não exclui ninguém"
Cidade
do Vaticano (RV) – Cidade do Vaticano (RV) – Em novembro de 2013, pouco antes
de completar o primeiro ano de Pontificado, o Papa Francisco publicou sua primeira
Exortação Apostólica, A Alegria do Evangelho. No documento, uma verdadeira plataforma
de ação, o Papa se dirige aos cristãos para convidá-los a uma nova etapa de evangelização
marcada por esta alegria, e indica direções para o caminho da Igreja nos próximos
anos.
Uma das inúmeras entrevistas concedidas por Francisco durante este primeiro
ano foi ao quinzenal jesuíta ‘Civiltà Cattolica’, ao qual o Papa não poupa críticas
ao clero. Francisco aponta que a coisa que a Igreja mais precisa hoje é “a capacidade
de curar as feridas e aquecer os corações dos fiéis, a proximidade e o companheirismo.
“Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar
a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar altos! É preciso curar as suas feridas.
Depois poderemos falar de tudo isso. Curar as feridas, cuidar as feridas... E é preciso
começar de baixo”.
Em sintonia com o pensamento do Papa Bergoglio, o Cardeal
Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, afirma que nesta caminhada, ninguém
pode ser excluído.
“O caminho é um caminho aberto, onde todos têm um processo,
todos têm uma caminhada a fazer. Não é um ‘ser ou não ser’, há um ‘vir a ser’ constante.
Não é apenas ‘ser ou não ser’ cristão, ou ‘ser ou não ser católico’. Há um ‘vir a
ser’. Esta proposta é para todo o mundo, todos devem de alguma forma poder começar
esta caminhada. Então não pode haver muros nem excluir alguém. Todos devem poder fazer
a caminhada”.
“Isto é um enfoque muito renovador – penso - e nos dá
a sensação de que é realmente por aí, porque Deus é por aí. A misericórdia de Deus
quer incluir todos, chamar todos; portanto, todos devem ter alguma forma de começar
este caminho, começar a percorrê-lo. E o Papa diz: “Nós que já temos fé, que somos
cristãos, sobretudo nós, pastores, temos que acompanhar as pessoas neste caminho”.
Acender luzes para que as pessoas consigam caminhar. Nunca podemos dizer ‘não, você
não tem mais condições’. Isto é excluir, e a Igreja não pode excluir. Estas coisas
atropelam a nossa maneira de fazer as coisas, e isto é muito bom, porque renova. Esta
é a reforma fundamental que o Papa pretende realizar na Igreja. Claro que existem
coisas mais pontuais: a reforma da Cúria, outras reformas devem ser feitas, as institucionais,
absolutamente necessárias para que sejam serviços segundo o Evangelho, e não segundo
a mentalidade do mundo. Há coisas também profundamente que têm a ver com o que nós
cremos e a forma em que vivemos. Muitas coisas ainda devem ser revistas”.