2014-03-13 11:35:23

Card. Hummes: "Igreja está mudando. Abertura acarreta conversões pastorais profundas"


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Cidade do Vaticano (RV) – Uma Igreja sempre de “portas abertas”, pede o Papa Francisco em sua Exortação, Alegria do Evangelho. Uma Igreja que se abra, literalmente, a todos, sem excluir ninguém requer, na prática, bispos-pastores dispostos à conversão pastoral, que tenham “cheiro de ovelhas”, sejam próximos do povo, amem a pobreza, e não tenham “psicologia de príncipes”.

Neste primeiro ano de Pontificado, Francisco pediu várias vezes também que a Igreja, discípula missionária, se “descentralize”, deixe de ser auto-referencial, e vá ao encontro das “periferias existenciais”. Esta abertura pode acarretar mudanças realmente profundas? O Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, nosso hóspede, responde:

“Pode não, deve acarretar, é absolutamente necessário, porque a Igreja, sobretudo nos países de antiga tradição cristã, não tem ais a mesma dinâmica missionária, uma prática missionária. Os padres nem foram educados para isto, mas para ser pastores de uma comunidade já constituída, e dizem: basta, que já tenho bastante trabalho com este pessoal da minha comunidade. Só que este Papa nos lembra muito incisivamente que a comunidade ainda não é uma comunidade cristã se não for missionária. Não pode ficar olhando prá si mesma, ser auto-referencial. O padre não pode ficar só pensando na sua comunidade, ou em melhorá-la. Isto acaba sendo uma comum auto-referencial, diz o Papa. Nesta medida, nós nos tornamos mundanos, porque começamos a cuidar de nós mesmos. Isto o mundo faz, ao passo que Jesus Cristo diz que devemos cuidar do outro e não de nós mesmos”.

“Isto não é só uma palavra bonita, mas muda tudo, porque todos nós, eu também, cada um de nós, tem a tendência de cuidar de si mesmo: isto é ser mundano, diz o Papa. No Evangelho, Deus é para o outro, é uma relação para o outro: Pai para o filho, o filho para o Pai, o Pai e o filho para o Espírito Santo. É sempre para o outro. Nós somos feitos à imagem deste Deus. Por isso Deus é amor, porque é para o outro. Não há amor se não há um outro. A auto-referencialidade é o contrário do amor, porque você cuida de si mesmo e não do outro. Quando isto se leva realmente como paradigma, como um programa, como uma identidade muda uma montanha de coisas. Eu creio de fato que a Igreja está se deixando interpelar, mas que esta mudança é lenta – deveria ser mais rápida – mas é lenta, e sempre deve ser retomada, porque é um programa em que você deve se despojar. É aqui que está a cruz do Senhor no meio do caminho. Você tem que morrer a você mesmo para se dedicar ao outro. É ali que está a vida, a nossa identidade real. Seremos mais felizes se nós assim morrermos para nós mesmos”.

“Eu sou otimista, penso que haverá grandes mudanças, sim. A Igreja vai se transformar, vai ser muito mais missionária, menos auto-referencial. O Papa diz que devemos derrubar os muros que impedem as pessoas de virem a nós, de se sentirem dentro da Igreja... Nós construímos muros para dizer ‘não você não pode entrar, você deve ficar fora, você não é digno, você não tem condições’, enfim.. e vamos construímos muros. Nós então pensamos que estamos seguros, pois temos uma teologia segura, um direito canônico seguro, uma disciplina segura, que nos diz que este é o caminho da salvação, quem não entra aqui tá fora. E o Papa diz que não é assim, que esta segurança é só uma ilusão!”.

Ouça Dom Cláudio clicando acima.
(CM)







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