2014-03-10 20:37:43

Sínodo sobre a família: Cardeal Kasper explica suas propostas


Cidade do Vaticano (RV) - O volume "O Evangelho da família", de autoria do Cardeal Walter Kasper, estará nas livrarias italianas nestes próximos dias. O livro contém o texto integral da conferência introdutória do purpurado alemão feita no recente Consistório extraordinário sobre o tema da família. Entre os temas mais candentes encontra-se no texto a questão da admissão dos divorciados recasados à Comunhão. A Rádio Vaticano pediu ao Cardeal Kasper que nos falasse sobre esse texto:

Cardeal Walter Kasper:- "'O Evangelho da família' pretende dizer que Deus quer bem à família e que a família é fundada por Deus desde o início da Criação: é a mais antiga instituição da humanidade. Jesus Cristo fez seu primeiro milagre durante as bodas de Caná: Ele apreciou a família e a elevou a Sacramento, e isso significa que o amor entre o homem e a mulher está integrado no amor de Deus. Por isso é um Sacramento. Hoje devemos novamente reforçar essa realidade num período em que há uma crise da família nas atuais condições de crise econômica e das condições de trabalho, e devemos dar a nossa ajuda porque a grande maioria dos jovens quer uma família, quer uma relação estável, para a vida inteira. A felicidade dos homens depende também da vida familiar."

RV: O senhor propõe uma abordagem mais tolerante em relação às famílias em dificuldade, sem negar a natureza indissolúvel do Sacramento do matrimônio: o que propõe, exatamente?

Cardeal Walter Kasper:- "Proponho uma via além do rigorismo e do laxismo: é óbvio que a Igreja não pode simplesmente adaptar-se ao 'status quo'; outrossim, devemos encontrar uma via de meio, que era o caminho da moral tradicional da Igreja. Recordo, sobretudo, Santo Alfonso de Liguori, que queria essa via entre os dois extremos, e essa é a que devemos encontrar também hoje; é também a via de Santo Tomás em sua "Summa Theologica": portanto, estou em boa companhia, com a minha proposta. Não é contra a moral, não é contra a doutrina, mas, sobretudo, a favor de uma aplicação realista da doutrina à situação atual da grande maioria dos homens, e para contribuir à felicidade das pessoas."

RV: O senhor fala de abismo entre a doutrina atual da Igreja e a prática de muitos católicos. Alguns dão a culpa a grupos que promovem uma política agressiva contra o conceito tradicional de família...

Cardeal Walter Kasper:- "É óbvio que existem pessoas e grupos que têm um interesse político contra a família: isso é claro. Mas a Igreja sempre foi contestada, em toda a sua história. Mas não há somente esses interesses ideológicos e políticos: há também problemas econômicos, problemas que dizem respeito às condições de trabalho e que hoje são muito graves. As condições de vida na sociedade mudaram bastante e muitos têm dificuldade de realizar o próprio projeto de felicidade. A maioria dos jovens, porém, quer uma relação estável, uma família estável, mas não consegue; e a Igreja, por sua vez, deve ajudar as pessoas que se encontram em dificuldade."

RV: O senhor faz a comparação com o modo com o qual o Concílio Vaticano II trouxe uma verdadeira revolução nas relações ecumênicas e inter-religiosas, sem negar o Magistério da Igreja. O senhor é otimista com a possibilidade de o Sínodo sobre a família poder trazer o mesmo tipo de revolução?

Cardeal Walter Kasper:- "Eu não falaria em uma revolução, mas, sobretudo, num aprofundamento e um desenvolvimento, porque a doutrina da Igreja é um rio que se desenvolve e assim também a doutrina sobre o matrimônio se desenvolveu. Desse modo, penso que este passo atual é um passo semelhante ao do Concílio, em que havia posições da Cúria Romana contra o ecumenismo e contra a liberdade religiosa; o Concílio conservou a doutrina vinculadora – e também aí quero conservar a doutrina vinculadora –, mas encontrou uma via para superar essas questões e encontrou uma saída. E é a que também devemos encontrar, hoje. E assim, não se trata de uma novidade, quanto de uma renovação da praxe da Igreja, que é sempre necessária e possível."

RV: A sua conferência aos cardeais deveria permanecer reservada. Ao invés, foi publicada na mídia. E reacendeu um debate...

Cardeal Walter Kasper:- "Sim, é necessário se ter um debate, e na realidade eu esperava isso e o disse ao Papa: no início, se terá um debate. E o Papa disse: 'tudo bem. Queremos um debate. Não queremos uma Igreja que dorme, queremos uma Igreja vivaz'. Isso é normal. Mas não era um documento secreto: um texto que é colocado nas mãos de 150 pessoas não pode ser secreto, seria muito irrealista e utópico. Portanto, pensei publicar o texto e me foi dito que eu tinha a liberdade de fazê-lo. Mas o que fez um diário italiano, ou seja, publicá-lo sem autorização, é contra a lei. A meu ver, desse modo sabotaram a vontade do Papa. Eles querem fechar a discussão, enquanto o Papa quer uma discussão aberta no Sínodo. Contudo, o resultado dependerá do Sínodo e do Papa. Fiz uma proposta, como o Papa me pediu que fizesse, e nos próximos dois anos se verá como será a discussão." (RL)







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