Cardeal Capovilla: como João XXIII, o Papa Francisco quer cardeais santos
Cidade do Vaticano (RV) - Os novos cardeais entram na Igreja de Roma, não numa
corte. Essa é uma das passagens mais fortes da homilia do Papa Francisco na missa
deste domingo na Basílica de São Pedro pelos 19 novos purpurados. O Pontífice fez
também uma forte evocação à santidade. Para uma reflexão sobre essas palavras do Papa,
a Rádio Vaticano entrevistou o neo-Cardeal Loris Francesco Capovilla, 98 anos, ex-secretário
particular do Papa João XXIII:
Cardeal Loris Francesco Capovilla:- "Saúdo
vocês como padre romano e o faço com satisfação porque este "novo" padre romano evoca
a minha vocação e aquilo que o Papa João XXIII dizia não somente a mim, mas a todos
os padres do mundo: "O padre é aquele homem jovem que, chamado pelo bispo, vai até
a cátedra onde está o bispo para a imposição das mãos apostólicas". Dois objetos são
colocados no altar, entre os quais o novo padre se coloca: a divina revelação – ou
seja, o Missal – e o Cálice, que resume a nossa relação com Deus, o culto. Essa é
a primeira impressão. Minha segunda impressão sobre a homilia do Santo Padre é que
nos faz entrar no clima da santidade. De fato, este ano será marcado – em 27 de abril
– pela inscrição de João XXIII e João Paulo II na lista dos Santos."
RV:
Numa passagem de sua homilia, o Papa Francisco disse: "ser santos não é um luxo; é
necessário para a salvação do mundo. É isso que o Senhor nos pede"...
Cardeal
Loris Francesco Capovilla:- "Pensei no capítulo quinto da Lumen gentium
(Constituição dogmática sobre a Igreja, ndr), que se intitula: "Vocação universal
à santidade na Igreja". Não o padre, ou o cardeal, ou o bispo, ou o monge, mas todos
os cristãos – aliás, todos os homens e mulheres que trazem na fronte a "luz" de Deus
–, todos somos chamados à santidade, à bondade, ao serviço, à humildade, ao sacrifício.
Isso é o que deve resplandecer particularmente no mundo. Não por acaso, o Papa emérito
Bento XVI – a quem dirigimos toda nossa reverência – disse que a estrela polar do
Séc. XXI deve ser o Concílio Ecumênico Vaticano II, Gaudium et spes. Portanto,
não a esperança de um acomodamento qualquer, mas a esperança de uma comunidade que
caminha rumo às ainda distantes fronteiras da civilização do amor. Os discursos destes
dias, aliás, de todos os dias, do Papa Francisco me inspiraram isso."
RV:
"O cardeal – disse Francisco neste domingo – entra na Igreja de Roma", "não entra
numa corte". Também essa é uma passagem forte do Papa: "Evitar costumes e comportamentos
de corte"...
Cardeal Loris Francesco Capovilla:- "Pensei naquilo que
o Papa João XXIII me ensinou. Dizia-me: "Lembre-se Loris do presente – o mundo em
que você vive agora –, fale com pacatez, com humildade e com confiança, jamais se
desespere. Do passado, quando possível, fale bem e agradeça àqueles que lhe precederam
– homens, mulheres, não somente sacerdotes e leigos, mas todos juntos – por aquilo
que fizeram e cumpriram, com os limites que são próprios do tempo, da educação e das
situações que variam. Não faça prognósticos do futuro, não cabe a você, não é de sua
competência." Além disso, senti muito forte as últimas palavras do Papa João XXIII,
como testamento à sua Igreja Católica, à qual amou imensamente: dizia que para ser
cristãos é preciso pensar grande, olhar alto e distante. Esse é o meu auspício, é
o anseio do meu coração. Fiz muito pouco em minha vida, sinto toda a minha pequenez.
Sei que sou um pequeno homem, porém, tendo Jesus a meu lado também eu me torno alguma
coisa. Essa é a mensagem de Jesus. Jesus me disse que em seu nome, com a sua ajuda
– eu que sou um pequeno homem de pouquíssima cultura, instrução, experiência –, eu
posso falar todas as línguas resumidas na linguagem do amor." (RL)