2014-02-22 11:09:28

Com a presença do emérito Bento XVI, Papa Francisco criou novos Cardeais, exortando-os à comunhão, ao anúncio da Palavra e à oração


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A solenidade dos grandes momentos mas ao mesmo simplicidade e recolhimento caracterizaram o clima com que decorreu, na basílica de São Pedro, com a presença do Papa emérito, Bento XVI, o primeiro consistório do pontificado do Papa Francisco para a criação de 19 cardeais, incluindo 16 eleitores. A celebração inclui o rito de entrega do barrete e do anel cardinalícios (momentos unificados desde 2012, por decisão de Bento XVI), assim como a tradicional atribuição a cada um dos novos cardeais do “título” de uma igreja de Roma.

O Papa Francisco comentou o Evangelho proclamado (Marcos 10, 32-45), sublinhando duas afirmações do texto: “Jesus caminhava à frente deles” e “Jesus chamou-os”.

Também neste momento Jesus caminha à nossa frente. Ele está sempre à nossa frente. Precede-nos e abre-nos o caminho... E esta é a nossa confiança e a nossa alegria: ser seus discípulos, estar com Ele, caminhar atrás d’Ele, segui-Lo...

O Santo Padre evocou a primeira concelebração, há um ano, na Capela Sistina, após a eleição. Já nessa altura, recordou, «caminhar» foi a primeira palavra que o Senhor nos propôs: caminhar e, em seguida, construir e confessar.
Hoje de novo volta esta palavra, mas como um acto, como a acção de Jesus que continua: «Jesus caminhava…»

Isto é uma coisa que impressiona nos Evangelhos: Jesus caminha muito e instrui os seus discípulos ao longo do caminho. Isto é importante. Jesus não veio para ensinar uma filosofia, uma ideologia... mas um «caminho», uma estrada que se deve percorrer com Ele; e aprende-se a estrada, percorrendo-a, caminhando. Sim, queridos Irmãos, esta é a nossa alegria: caminhar com Jesus.

Isso não é fácil, não é cómodo, porque a estrada que Jesus escolhe é o caminho da cruz. Enquanto estão a caminho, fala aos seus discípulos do que Lhe acontecerá em Jerusalém: preanuncia a sua paixão, morte e ressurreição. E eles ficam «surpreendidos» e «cheios de medo». Surpreendidos, sem dúvida, porque, para eles, subir a Jerusalém significava participar no triunfo do Messias, na sua vitória – como se vê em seguida pelo pedido de Tiago e João; e cheios de medo, por causa daquilo que Jesus haveria de sofrer e que se arriscavam a sofrer eles também.
Mas nós, ao contrário dos discípulos de então, sabemos que Jesus venceu e não deveríamos ter medo da Cruz; antes, é na Cruz que temos posta a nossa esperança. E, contudo, sendo também nós humanos, pecadores, estamos sujeitos à tentação de pensar à maneira dos homens e não de Deus.

E quando se pensa de maneira mundana, qual é a consequência? – interrogou-se o Papa. «Os outros dez indignaram-se com Tiago e João» (cf. Mc 10, 41). Indignaram-se.
Se prevalece a mentalidade do mundo, sobrevêm as rivalidades, as invejas, as facções… Assim, esta palavra que o Senhor nos dirige hoje, é muito salutar! Purifica-nos interiormente, ilumina as nossas consciências e ajuda a sintonizarmo-nos plenamente com Jesus; e a fazê-lo juntos, no momento em que aumenta o Colégio Cardinalício com a entrada de novos Membros.

Comentando depois a outra passagem do texto em que se refere: «Jesus chamou-os...» (Mc 10, 42). É o outro gesto do Senhor. Ao longo do caminho, dá-Se conta que há necessidade de falar aos Doze, pára e chama-os para junto de Si.

Irmãos, deixemos que o Senhor Jesus nos chame para junto de Si! Deixemo-nos “con-vocar” por Ele. E ouçamo-Lo, com a alegria de acolhermos juntos a sua Palavra, de nos deixarmos instruir por ela e pelo Espírito Santo para, ao redor de Jesus, nos tornarmos cada vez mais um só coração e uma só alma.

É isto de que a Igreja precisa – sublinhou o Papa Francisco, dirigindo-se aos cardeais presentes:

A Igreja precisa de vós, da vossa colaboração e, antes disso, da vossa comunhão, comunhão comigo e entre vós. A Igreja precisa da vossa coragem, para anunciar o Evangelho a tempo e fora de tempo, e para dar testemunho da verdade. A Igreja precisa da vossa oração pelo bom caminho do rebanho de Cristo; oração que é, juntamente com o anúncio da Palavra, a primeira tarefa do Bispo. A Igreja precisa da vossa compaixão, sobretudo neste momento de tribulação e sofrimento em tantos países do mundo.

Neste contexto, o Papa exprimiu “proximidade espiritual às comunidades eclesiais e a todos os cristãos que sofrem discriminações e perseguições”.

A Igreja precisa da nossa oração em favor deles, para que sejam fortes na fé e saibam reagir ao mal com o bem. E esta nossa oração estende-se a todo o homem e mulher que sofre injustiça por causa das suas convicções religiosas.
A Igreja precisa de nós também como homens de paz, precisa que façamos a paz com as nossas obras, os nossos desejos, as nossas orações: por isso invocamos a paz e a reconciliação para os povos que, nestes tempos, vivem provados pela violência e a guerra.

Após esta homilia e o profundo silêncio de recolhimento que se lhe seguiu, o Papa Francisco procedeu à leitura da fórmula de criação e proclamou solenemente os nomes dos novos cardeais, para os unir com “um vínculo mais estreito à Sé de Pedro”.
Teve depois lugar a profissão de fé e o juramento dos novos cardeais, de fidelidade e obediência a Francisco e seus sucessores, “agora e para sempre”. Um a um ajoelharam-se aos pés do Papa, para dele receberem o barrete cardinalício, imposto “como sinal da dignidade do cardinalato”, significando que todos devem estar prontos a comportar-se “com fortaleza, até à efusão do sangue", como refere o ritual
O Papa entregou depois aos novos cardeais o respectivo anel, para que se “reforce o amor pela Igreja”. E nessa altura, foi atribuído a cada cardeal uma igreja de Roma (título ou diaconia) - simbolizando a “participação na solicitude pastoral do Papa” na cidade -, recebendo ainda a bula de criação cardinalícia, momento selado por um abraço de paz.

Esta tarde, entre as 16h30 e as 18h30, têm lugar as visitas de cortesia aos novos cardeais, distribuídos por diversos locais do Palácio Apostólico do Vaticano e da sala Paulo VI.
Amanhã, domingo, o Papa presidirá à missa com os novos cardeais, a partir das 10h00, de novo na Basílica de São Pedro.
Com os novos purpurados o Colégio Cardinalício passa a ter 218 cardeais vindos de 68 países (53 com cardeais eleitores), entre eles Portugal, representado por D. José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos (com mais de 80 anos), D. Manuel Monteiro de Castro, penitenciário-mor da Santa Sé, e D. José Policarpo, patriarca emérito de Lisboa.








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