Mensagem radiofônica de João XXIII prepara os fiéis para o início do Concílio
Cidade do Vaticano
(RV) – No nosso Espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos
falar na edição de hoje sobre João XXIII e alguns documentos que antecederam a abertura
do Concílio, com destaque para a Mensagem Radiofônica de setembro de 1962.
Não
se pode falar em Concílio Vaticano II sem se falar em João XXIII. Foi ele que soube
fazer a leitura dos sinais dos tempos, interpretá-los, inspirar-se e convocar o Concílio.
A todo momento deixou transparecer seu entusiasmo e otimismo, sua alegria e contentamento,
recorrendo, muitas vezes, à imagens que evocavam sua infância na área rural no norte
da Itália. “A idéia do Concílio não amadureceu como fruto de prolongada consideração,
senão qual flor espontânea de inesperada primavera”.
O Papa Roncalli, também
evocava o Concílio como um novo Pentecostes na vida da Igreja: “De fato é na doutrina
e no espírito de Pentecostes que o grande acontecimento do Concílio Ecumênico haure
substância e vida”, afirmava.
O Concílio Vaticano II foi tema constante de
suas alocuções, audiências, escritos, somando mais de 255 intervenções recolhidas
e publicadas para o período entre o início da Fase Preparatória, em 5 de junho de
1960 e as vésperas do evento Conciliar, em 10 de outubro de 1962.
Nos meses
que antecederam o início do Concílio, João XXIII publicou em 1º de julho de 1962 a
Encíclica Poenitentiam agere, dirigida aos sacerdotes, seminaristas, religiosos
e religiosas, convidando-os à conversão e à oração em vistas do Concílio. Já em 6
de agosto de 1962, foi a vez da Carta Apostólica Appropinquante Concilio,
que estabelecia o Regulamento para a celebração do Concílio. Finalmente, em 11 de
setembro de 1962, a apenas 1 mês da abertura do Concílio, João XXIII dirigiu a todos
os cristãos uma Mensagem Radiofônica ( Nuntius Radiophonicus).
Na mensagem,
Roncalli praticamente tentar dar uma espécie de ‘retoque final’, preparando assim
a alma dos fiéis para o evento Conciliar e as mudanças que este deveria implementar
na Igreja. João XXIII, recordou na mensagem a missão a que a Igreja é chamada no mundo,
afirmando que “o Concílio não é outra coisa do que a renovação do encontro do rosto
de Jesus Ressuscitado, rei glorioso, imortal e radiante em toda a Igreja para saúde,
alegria e resplendor das nações”.
João XXIII tinha presente o contexto social
e cultural com o qual a Igreja devia dialogar. Recordou que “o mundo tem seus problemas
e busca agora, com angústia, como resolvê-los”. E acrescentou que o Concílio, “poderá
oferecer em linguagem clara, as soluções para a dignidade do homem e a vocação cristã
exigem”.
As doutrinas que fomentam o indiferentismo religioso ou negam a Deus
ou a ordem sobrenatural também foram recordadas. Ao mesmo tempo, ele defendeu o direito
à liberdade religiosa, “que não é somente liberdade de culto, e é um dos direitos
fundamentais ao qual a Igreja não pode renunciar”.
O Papa, conhecido como ‘Artífice
da Paz’, não deixou de mencionar a pouca distância que separa a abertura do Concílio,
do final da II Guerra Mundial, reiterando, uma vez mais, a necessidade de uma ordem
de paz: “paz que se antecipe aos conflitos armados; paz que deve ter suas raízes e
garantia no coração de cada um dos homens”.
Papa Roncalli, recordou ainda a
Encíclica Mater et Magistra, recém publicada e indicou que “para os países
sub-desenvolvidos, a Igreja apresenta-se tal qual é, e quer ser, como a Igreja de
todos e particularmente a Igreja dos pobres”, acrescentando que “é dever de todo o
homem e dever mais urgente para o cristão, considerar o supérfluo com a medida das
necessidades do próximo, cuidando para a administração e distribuição dos bens criados
para vantagem de todos”.
A mensagem radiofônica na íntegra – em espanhol
– pode ser lida no link: