Teólogo Dom Bruno Forte: a renúncia de Bento XVI foi um ato de profunda honestidade
Cidade do Vaticano (RV) - A renúncia, como todo o Pontificado de Bento XVI,
foi inspirada pelo Concílio Vaticano II. Essa é a convicção do Arcebispo de Chieti-Vasto,
o teólogo Dom Bruno Forte, que, numa entrevista concedida à Rádio Vaticano, se detém
sobre a decisão do Papa Ratzinger e sobre os desdobramentos da renúncia um ano depois:
Dom
Bruno Forte:- "A meu ver, é a expressão coerente do estilo que o Papa Bento teve
durante todo o seu Pontificado: um estilo inspirado na intenção única de agradar a
Deus. Em seu modo de ser, o Papa Bento jamais buscou o consenso fácil das multidões.
Ele foi um homem que quis portar avante a reforma espiritual da Igreja e, portanto,
a única exigência fundamental – para ele – era que o seu modo de ser Sucessor de Pedro,
Bispo de Roma, Pastor universal da Igreja, e o modo de ser da Igreja inteira fossem
tais que agradassem a Deus. Creio que essa seja a grande chave de compreensão de tudo
aquilo que o Papa Bento foi. E nesse sentido, também a sua renúncia foi um ato de
obediência ao fato de ele sentir-lhe faltarem as forças. Foi um ato de profunda honestidade!
Creio poder dizer que ele vê no Pontificado do Papa Francisco a confirmação que Deus
quis dar à validez desta escolha: uma voz vicejante, nova, que de algum modo é também
auxiliada por uma grande energia, inclusive física, que o Papa Bento não teria."
RV:
Considerando que a renúncia de Bento XVI deu-se no âmbito do cinquentenário do Vaticano
II, houve quem viu em sua surpreendente decisão um singular acolhimento dos ensinamentos
conciliares...
Dom Bruno Forte:- "É preciso partir do fato que Bento
XVI, Joseph Ratzinger, foi um protagonista do Concílio. O Concílio faz parte de seu
DNA. Quem pensou que, de algum modo, o Pontificado de Bento XVI fosse um distanciar-se
do Vaticano II, no fundo, contradiz aquela que é a profunda identidade do pastor,
do teólogo e depois do Papa Joseph Ratzinger. Portanto, o ponto forte a ser ressaltado
é que o Vaticano II continuamente inspirou o Pontificado do Papa Bento e ele mesmo
o disse reiteradas vezes, colhendo a herança também de seus predecessores. Naturalmente,
na visão do Concílio Vaticano II é bem claro o que chamo de mística do serviço:
João Paulo II foi aquele que, com a sua energia física e espiritual, mexeu com continentes
inteiros; depois veio a estação da doença, chegando ao ponto extremo do silêncio,
da mudez, quando já não conseguia falar, a não ser com os gestos. Analogamente, com
Bento XVI houve a estação de seu grande magistério: ele foi um grande catequizador,
em muitos aspectos foi um Padre da Igreja moderna; depois, sentindo faltar as forças,
veio o tempo do silêncio, que ele escolheu como melhor caminho, no qual pôde continuar
servindo à Igreja na oração." (RL)