2014-02-09 17:15:54

Dom Parolin: "Secretaria de Estado deve tornar-se um modelo de renovação para toda a Igreja"


Cidade do Vaticano (RV) – Que a Cúria Romana seja um instrumento “ágil e hábil” no serviço da “missão da Igreja no mundo de hoje”. Foi o que afirmou o Secretário de Estado vaticano Dom Pietro Parolin, numa entrevista à jornalista Stefania Falasca, publicada neste domingo (9) no jornal ‘Avvenire’. O Secretário de Estado tratou de diversos temas, da colaboração com o Papa Francisco ao papel da diplomacia vaticana, do conflito na Síria ao “período muito doloroso” do Vatileaks.

“O meu estilo não pode ser que não o do Papa Francisco, um estilo com o qual me sinto profundamente identificado”. Inicia assim o futuro Cardeal, ao falar de uma “renovação na Igreja”, à qual o Papa está chamando todos “com insistência”, observando que a Secretaria de Estado deverá assumir com “total disponibilidade a conversão pastoral proposta pelo Papa Francisco”. Antes, acrescenta, “num certo sentido deverá tornar-se um modelo para toda a Igreja”.

Dom Parolin sublinha que a diplomacia vaticana está empenhada em ajudar os povos “na construção de um mundo humano e fraterno”, no qual sejam tutelados “os mais fracos e os mais vulneráveis”. Portanto, a Cúria Romana deverá transformar-se num instrumento “ágil e hábil, menos burocrático e mais eficaz, ao serviço da comunhão e da missão da Igreja no mundo de hoje”. Um instrumento – prosseguiu – “à serviço do Papa e dos Bispos, da Igreja universal e das Igrejas particulares”.

“Certo – admitiu – existe sempre o perigo de se abusar do poder” e “deste perigo não está fora a Cúria”. E advertiu que “não basta uma reforma das estruturas - que também deve ser feita – mas esta deve ser acompanhada por uma permanente conversão pessoal”.

O Secretário de Estado reitera que também na Cúria Romana “existiram e existem santos”, o que leva a lamentar quando “com pinceladas muito precipitadas e violentas, se apresenta uma imagem exclusivamente negativa da Cúria”. Em última análise, comenta, é necessário trabalhar duro para se tornar mais humanos, mais acolhedores, mais evangélicos, como quer Papa Francisco.

Interpelado sobre o Vatileaks, o prelado afirmou com uma certa amargura que “foi um período muito doloroso, que, espero, tenha definitivamente acabado”. Um acontecimento – observou , “que fez sofrer injustamente o Papa Bento XVI” e que escandalizou muitíssimas pessoas, danificando “não pouco, a causa de Cristo”. Aqueles acontecimentos – acrescentou - “não devem cessar de nos questionar sobre nossa efetiva fidelidade ao Evangelho”.

Sobre o IOR, Dom Parolin não entrou no mérito das soluções técnicas, mas evidenciou que, segundo indicações do Pontífice, a gestão do dinheiro destinado “às necessidades da vida e da missão da Igreja” deve ser permeada “por princípios do Evangelho”.

Outra parte da entrevista foi dedicada ao compromisso da Santa Sé com a paz. Neste ponto, Dom Parolin definiu o Papa Francisco como “o primeiro agente diplomático da Santa Sé” e cita, em particular, o papel desempenhado na busca de uma solução para a guerra na Síria. A propósito de ‘Genebra 2’, o prelado reiterou a necessidade de traçar um road map ‘realístico para o fim do conflito e a realização de uma paz duradoura”.

O Secretário de Estado também não deixou de falar sobre a difícil situação dos cristãos no Oriente Médio, cuja situação “é uma das grandes preocupações da Santa Sé”. Falou ainda, sobre as relações com a China, desejando que “aumentem a confiança e a compreensão entre as partes e que isto possa ser concretizado na retomada de um diálogo construtivo com as autoridades políticas”.

Sobre as críticas ao Papa vindas de ambientes conservadores, que o definiram como “marxista” em matéria economia, Dom parolin respondeu com uma pergunta: “É marxismo exortar à solidariedade desinteressada e a um retorno da economia e das finanças a uma ética em favor do ser humano ?”. E observou que “a forte intervenção” do Papa Francisco, por exemplo, em algumas partes da Evangelii Gaudium, foi motivada por situações “de desigualdade e de exclusão” existentes na América Latina, como em tantas outras partes do mundo. (JE)







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