Cidade do Vaticano
(RV) - “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando
encontrardes um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz
como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua
justiça e a glória do Senhor te seguirá.”
Compreendemos desse texto do Profeta
Isaías que o jejum é solidariedade com os famintos, é partilhar o próprio pão e o
próprrio teto. Não existe culto a Deus separado da justiça social. Experimentamos
Deus a partir dos sofrimentos humanos. Deus não nos pede que provoquemos dor e desconforto
em nosso corpo. Ele nos pede misericórdia, compaixão com aquele que sofre, solidariedade,
partilha de dons. A privação que Deus nos pede não é um gesto de ascese, de autodisciplina,
mas de acolhida do outro na situação em que se encontra, é compaixão. O crescimento
espiritual não pode ser voltado para si mesmo, seria estéril, mas quando me privo
para ir em socorro do outro, por causa do outro, por causa de Deus e não de mim mesmo,
aí cresço. Não podemos confundir o jejum cristão, os exercícios de abnegação com mera
privação em que eu saio melhor porque dominei meu corpo, dominei meus desejos. Para
isso não precisamos amar o próximo e nem a Deus.
O atleta, a pessoa que cultiva
sua elegância física, o e a modêlo também se privam de alimentos, fazem bastantes
exercícios físicos, vão passar fome em um spa não por amor ao próximo ou a Deus, mas
por beleza, por saúde, por vaidade. O dinheiro economizado com esse jejum, se é que
economizou e não gastou mais ainda, certamente não será dado aos pobres, mas gasto
em produtos que realcem o sacrifício realizado: a beleza física! Do mesmo modo, certos
caminhos espirituais que propõem uma vida ascética, difícil até, mas com o único objetivo
de crescimento e auto domínio, se tornam estéreis - dentro de uma visão judaico-cristã
- porque se esquecem da verdadeira dimensão espiritual que direciona o culto religioso
a Deus concretizando-se no serviço ao próximo. Segundo Isaías, a partilha é a transfiguração
da pessoa, quando ele diz: “Então, brilhará tua luz como a aurora”!
No Evangelho
Jesus diz que os seus discípulos são sal da terra e luz do mundo. Como entender isso?
No
passado, como por exemplo no livro dos Números 18,19 está escrito “aliança de sal”,
uma aliança que se pereniza. Ora, o Senhor ao falar que somos “sal da terra” quer
nos dizer que somos aqueles em que Ele confia para perenizar entre os homens o seu
amor, sua aliança, para construir o Reino de Justiça. E o sal não perde o sabor, nos
alerta o Mestre, nos dizendo da necessidade de nos mantermos fiéis à nossa missão,
caso contrário, se perdermos o sabor, seremos jogados por terra para sermos pisados,
desprezados, pois perdemos nossa sublime missão.
A luz brilha e Jesus nos chamou
de luz do mundo. Deveremos brilhar no mundo, iluminá-lo para levá-lo ao Senhor. “A
luz de vocês brilhe diante das pessoas, para que elas vejam as boas obras que vocês
fazem, e louvem o Pai que está no céu”.
Concluindo a mensagem deste domingo
poderemos levar a seguinte mensagem: Meu relacionamento com Deus me leva a abrir meu
coração e meus bens aos pobres e ser misericordioso. Com essa atitude estarei colaborando
com o Senhor na construção do Reino de Justiça. Estarei sendo sal, conservando sua
aliança de Amor com o ser humano e também estarei sendo farol, luz para aqueles que
são de boa vontade e desejam chegar até Deus.