Alta tensão na Bósnia Herzegovina com violência nas principais cidades
Altíssimo grau de tensão o que se vive desde há dias na Bósnia-Herzegovina, com manifestações
em Sarajevo e vários outros pontos do país a terminar em violentos confrontos com
a polícia. O Governo apelou à calma e à razão mas a prometeu mão pesada contra o vandalismo. Na
capital, Sarajevo, as forças anti - motim recorreram a balas de borracha e granadas
de gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes que inundaram o centro da cidade,
investindo contra a sede do governo local e contra o palácio presidencial para protestar
contra o desemprego e o impasse político que torna ineficientes as instituições do
país. Os confrontos escalaram rapidamente, com os manifestantes a bloquear várias
estradas e a arremessar pedras contra as forças policiais. Uma barreira de protecção
foi montada em torno do palácio presidencial, com canhões de água a impedir o acesso
dos manifestantes. De acordo com o jornal Dnevni Avaaz de Sarajevo, os confrontos
fizeram pelo menos uma centena de feridos. O primeiro-ministro da Federação da
Bósnia-Herzegovina (uma das duas entidades políticas autónomas que compõem o Estado
da Bósnia-Herzegovina), Nermin Niksic, reuniu de emergência com os ministros e procuradores
regionais, e manifestou abertura para receber os manifestantes.No entanto, Niksic
fez questão de distinguir os “protestos legítimos”, por causa da difícil situação
económica do país, dos actos de vandalismo. “Temos de separar os trabalhadores que
de repente se viram provados dos seus direitos básicos, como pensões e assistência
social, dos hooligans que pretendem usar esta situação para promover o caos e a instabilidade”,
sublinhou o líder dos muçulmanos bósnios e bósnios croatas. “Nunca será possível encontrar
uma solução para os problemas com a destruição de propriedade e a danificação de veículos”,
acrescentou, assegurando que as autoridades não teriam contemplações A situação
foi já descrita como a “turbulência” política mais grave desde a guerra que devastou
a Bósnia entre 1992 e 1995, matando mais de cem mil pessoas. Desta vez, a origem do
conflito não tem contornos étnicos mas antes económicos e políticos. Com a taxa de
desemprego acima dos 40% (oficialmente 27,5%, a mais alta dos Balcãs) e um em cada
cinco habitantes a viver abaixo da linha da pobreza, a população exige reformas que
repliquem na Bósnia-Herzegovina os progressos alcançados pelos países vizinhos que
também resultaram da dissolução da antiga Jugoslávia. Os protestos têm sido convocados
nas redes sociais, com apelos genéricos à “revolução” e ao combate aos “ladrões” –
a percepção no país é de que o sistema de divisão do poder por quotas, estabelecido
nos acordos de paz de Dayton mediados pelos Estados Unidos, é o responsável pela estagnação
política e alimenta a corrupção e o nepotismo.