Afrescos da Capela Sistina serão monitorados por radar
Cidade do Vaticano (RV) - Em 23 de janeiro foi firmado um acordo entre a Agência
Nacional de Energia (Enea) e os Museus Vaticanos, no âmbito da tutela dos bens culturais.
Entre os pontos chaves do acordo, estão as novas tecnologias e a tutela do meio-ambiente.
O
acordo contempla, entre outras atividades, o monitoramento da Capela Sistina por um
radar tridimensional, projetado pela Enea, para controlar eventuais deteriorações
dos afrescos. Idealizado, originalmente para controlar reatores nucleares, o radar
Itr-C (Radar Topológico a Cores) usa a luz ao invés de ondas de rádio. O raio laser
emitido recolhe as três cores primárias - vermelho, verde e azul – e, deslocado sob
os afrescos à amplitudes regulares, recolhe deles todos os dados estruturais. Tais
dados são então passados ao computador, elaborados e reproduzidos em 3D.
A
Rádio Vaticano entrevistou o Comissário da Enea, Giovanni Lelli, e o responsável pelo
laboratório Científico dos Museus Vaticanos, Ulderico Santamaría sobre o acordo:
R:"Para nós é um acordo emblemático, pois estigmatiza o encontro entre as altas tecnologias,
desenvolvidas para contextos diferentes naturalmente dos bens culturais, com os bens
culturais. Porque é emblemático? Porque se conseguiu realmente fazer encontrar uma
exigência tácita de tecnologias para a conservação, para a preservação e para o diagnóstico
dos bens culturais, com a alta tecnologia. E poder passar um scanner, a 25 metros
de distância, de vultos, de superfícies tridimensionais, à cores, representando-as
com uma precisão de décimos de milímetros, dá a possibilidade de se ter diagnósticos
rápidos de grandes superfícies, sem necessidade do uso de andaimes e assim por diante.
Portanto, é uma coisa muito, muito válida, que permite também uma maior fruição dos
bens culturais. E depois, uma última coisa, a engenharização destes dispositivos com
este objetivo, é também uma ocasião de promoção industrial, ou seja, postos de trabalho.
Nós estamos muito orgulhosos disto".
RV: Dr. Santamaria, o privilégio
histórico é muito importante, porque existe uma continuidade com aquele Escritório
de 1935, quando os seus predecessores, começaram a fazer uma pesquisa até os dias
de hoje, com esta colaboração com a Enea. O senhor poderia falar sobre este período
e deste progresso que os Museus Vaticanos fizeram até os dias de hoje?
R:"Os Museus Vaticanos, justamente nisto, partiram da missão fundamental, que é aquela
de utilizar as obras de arte para testemunhar a fé no mundo. A Igreja tem nos Museus
Vaticanos a sua sentinela. É muito importante que a tecnologia não prevaleça, mas
que se coloque em equilíbrio. O nosso estudo não tem por objetivo desenvolver uma
tecnologia que não traga benefícios e utilidades para a história. Assim, queremos
usar a tecnologia para a história e a partir dos anos 30-35, entrou a tecnologia e
desenvolvemos uma nova tecnologia. Com este acordo, nós esperamos ser capazes pensamos
de poder inventar, inovar, ao invés de somente aplicá-la, não pelo gosto pela pesquisa
em si, mas justamente porque temos uma missão que nos foi confiada pela Igreja".
RV:
Falou-se também de um aspecto muito importante, que é o ambiental. Me detenho neste
ponto, para entender o quanto isto é importante para os Museus Vaticanos...
R:"É muitíssimo importante, a começar exatamente por dentro dos Museus, mas também
do seu exterior, onde estamos interessados em tutelar a saúde dos visitantes e das
obras de arte e dos operadores, mas, sobretudo a não esquecer que fazemos parte de
um sistema maior que os Museus. E tudo isto que nós produzimos de poluente não permanece
nos Museus ou, ao contrário, aquilo que vem de fora pode poluir os Museus. Assim,
neste contexto, estamos desenvolvendo metodologias ecos-compatíveis, como os solventes
'verdes', que se tornam quase rotina nos nossos trabalhos de restauração, mas também
nas operações dos laboratórios. E não nos esqueçamos nunca, porém, do respeito pelas
obras de arte. É claro que não queremos prejudicar as obras de arte para salvar o
ambiente. Não queremos prejudicar nenhum dos dois: salvar o ambiente e salvar as obras
de arte". (JE)