Card. Scola viaja a Istambul para encontrar Bartolomeu I e fortalecer laços ecumênicos:
"Ecumenismo não é política, nasce da fé"
Istambul (RV) – “Estamos aqui com o desejo de dar um ulterior pequeno passo
no necessário caminho em direção a uma plena unidade entre todos os cristãos. Esta
unidade - somos bem conscientes disto - não pode ser senão o fruto superabundante
da graça do Ressuscitado. É Ele que toma a iniciativa”. Com estas palavras, o Arcebispo
de Milão, Cardeal Angelo Scola, saudou nesta sexta-feira (31) o Patriarca Ecumênico
de Constantinopla, Bartolomeu I, na sede do Patriarcado Ortodoxo em Istambul al Fanar.
O encontro é uma retribuição à visita realizada pelo Patriarca a Milão em 14 e 15
de maio, por ocasião dos 1700 anos da assinatura do Edito de Milão pelo Imperador
Constantino, que reconheceu a liberdade religiosa.
“Queremos exprimir a nossa
proximidade e o nosso apoio a fim de que se restabeleça plenamente a liberdade da
Igreja em vossas terras”, prosseguiu o Cardeal Scola, referindo-se à difícil situação
vivida pelos cristãos na Turquia. “Não existe, de fato, liberdade religiosa onde esta
não seja reconhecida para todos e para cada um. Embora as situações no Oriente e no
Ocidente sejam diferentes – e diferentes, portanto, também os problemas a serem enfrentados
– a ação em favor da plena liberdade religiosa nos encontra unidos de modo decisivo.
Uma importante mistura de etnias, culturas e religiões caracteriza a vida cotidiana
das nossas cidades. Os povos e as nações são portanto chamados a aprender a aprofundar
o bem prático de estarem juntos. À esta tarefa comum a toda família humana, as nossas
Igrejas podem oferecer uma preciosa contribuição. A este compromisso em favor da liberdade
religiosa e da busca do bem comum nas nossas sociedades, estão as atividades de colaboração
entre o Patriarcado Ecumênico, as Igrejas Ortodoxas e a Igreja Católica”, acrescentou.
Neste
ponto do discurso proferido em Istambul, o Arcebispo de Milão, expressou o compromisso
voltado à iniciativas ecumênicas: “Neste contexto se deseja, humildemente, inserir
a contribuição da Igreja milanesa que tem Santo Ambrósio como seu Padroeiro. Penso
na boa cooperação e atenção pastoral aos fiéis ortodoxos presentes na nossa Diocese.
Refiro-me também ao apoio à formação e à difusão do pensamento teológico. Não faltará
de nossa parte, Santidade, o trabalho para incrementar tal colaboração e abrir a nossa
porta à novas iniciativas”.
Após este primeiro encontro na Sede do Patriarcado,
Bartolomeu I e o Cardeal Scola fizeram pronunciamentos durante a apresentação do livro
“Papa XVI Benedikt, Aziz Pavlus”, tradução em turco de 20 Catequeses que Bento XVI
dedicou a São Paulo durante o Ano Paulino (2008-2009). A iniciativa foi organizada
pela Fundação Internacional Oasis e pela Conferência Episcopal turca.
“A primeira
preocupação do ecumenismo não é política ou de afinar um discurso comum para sermos
melhor ouvidos, mas teológica: a busca da unidade entre os cristãos brota da própria
fé”, salientou o Cardeal Scola no seu pronunciamento. O caminho de unificação plena
entre todos os cristãos “é uma troca de dons e não a busca de uma aliança estratégica”,
ou um modo “para melhor reivindicar e com mais força alguns direitos”, observou o
Cardeal, reiterando que justamente isto “tira qualquer sombra de suspeita que os não-cristãos
– no nosso caso os nossos amigos muçulmanos – poderiam nutrir sobre o objetivo de
nossa atividade”.
Referindo-se à figura de São Paulo, o Cardeal Scola sublinhou
que “os cristãos de todas as confissões estão de acordo em reconhecer em Paulo uma
figura central para a sua fé”, pelo que, “qualquer pessoa que queira conhecer o Cristianismo
deverá conhecer os seus escritos”. Mas São Paulo não é essencial somente para os cristãos,
pois ele não pode ser desprezado “se quero entender a filosofia ocidental, a história
ocidental, a arte ocidental ou até mesmo a sua política”, observou.
“Todavia
– continuou o Arcebispo de Milão - se por um lado a figura de São Paulo é uma fonte
permanente de inspiração para todos os cristãos, católicos, ortodoxos e evangélicos,
deve-se reconhecer por outro que é um motivo de divergência na relação com os muçulmanos.
Muitos deles olham com suspeita a obra de Saulo, não raro acusado de uma radical deturpação
do primitivo anúncio cristão”.
No entanto, justamente um “debate sério sobre
Paulo poderia ser muito útil no diálogo em andamento com o Islã”, observou Scola.
“Paulo foi o primeiro grande teórico da distinção entre letra e espírito de um texto.
E justamente um conceito análogo foi desenvolvido também pela exegese islâmica do
Alcorão. Para muitos pensadores muçulmanos contemporâneos, isto é fundamental para
poder conjugar em profundidade o Islã com a modernidade”. (JE)