Bispos austríacos em visita "ad Limina": sair das paróquias para encontrar os outros,
diz Card. Schönborn
Cidade do Vaticano (RV) - Teve início nesta segunda-feira, e prosseguirá até
a próxima sexta-feira, dia 31, a visita "ad Limina" dos bispos da Áustria. São muitos
os temas de atualidade que interpelam a Igreja neste país situado no coração da Europa,
com cerca de 8 milhões e meio de habitantes, que – com 89% de batizados – tem 63%
que se declaram católicos, dos quais somente 9% participam das missas, enquanto cresce
o número de ateus.
Um das questões que, nos últimos anos, tem suscitado preocupação,
diz respeito à chamada "Iniciativa dos Párocos", lançada em 2006 para pedir reformas
na Igreja sobre temas doutrinais e pastorais. Tratou-se de um apelo à desobediência
que fora condenado por Bento XVI durante a missa da Quinta-feira Santa de 2012.
Mas
qual é hoje a situação da Igreja na Áustria? Foi o que a Rádio Vaticano perguntou
ao arcebispo de Viena e presidente da Conferência Episcopal Austríaca, Cardeal Christoph
Schönborn. Eis o que disse:
Cardeal Christoph Schönborn:- "Escrever
sobre a Igreja na mídia e falar sobre a vida real da Igreja são questões decididamente
diferentes. Experimentei isso claramente no caso da "Iniciativa dos Párocos". A percepção
no mundo inteiro sobre a Igreja austríaca girava em torno deste único tema: "o convite
à desobediência". Toda vez que encontrava bispos de várias partes do mundo, diziam-me
sempre: "Coitado de vocês, que coisa triste!", diante disso explicava que os sacerdotes
que tinham aderido à iniciativa eram somente uma pequena percentagem e quase todos
no distrito de Promill. Quando dizia isso havia sempre grande surpresa. Disso se compreende
a diferença entre aquilo que é apresentado na mídia e aquilo que, ao invés, é a realidade
da Igreja. Você me pergunta se a Igreja na Áustria está vivendo uma situação positiva
ou negativa? Encontra-se em meio a um grande processo de mudança."
RV:
O senhor trouxe consigo os resultados do Questionário em preparação para o próximo
Sínodo sobre a família e evangelização? Sabemos que em muitas dioceses germanófonas
se manifesta uma profunda disparidade entre doutrina e fé vivida...
Cardeal
Christoph Schönborn:- "É impossível fazer uma análise em tão breve tempo. No que
diz respeito à Áustria, chegaram 30 mil respostas, é um dado enorme e um bom sinal,
porque há um grande interesse."
RV: Querendo fazer uma suposição, a
tendência será certamente análoga: um abismo entre transmissão da fé e praxe...
Cardeal
Christoph Schönborn:- "Posso tentar dizer o seguinte: os desejos, as esperanças
e as expectativas coincidem mais do que o que se espera com aquilo a Bíblia e a Igreja
afirmam em matéria de matrimônio e família. O quadro de referência para muitas pessoas
permanece sendo uma relação bem sucedida, uma família que tenha bom êxito, uma sociedade
em que as várias gerações estejam unidas na família. Muitas vezes a realidade não
corresponde com essa visão, e criar uma ponte entre aquilo que se almeja e aquilo
que realmente é, aquilo que efetivamente se consegue fazer, é, naturalmente, o grande
desafio que se apresenta a todos nós. A questão crucial, que não somente o Papa Francisco
coloca, mas que naturalmente já está no Evangelho, é fazer coincidir realidade e misericórdia.
A misericórdia de Deus e dos homens, diante daquilo que somente algumas vezes se consegue
como se gostaria, ou simplesmente não se consegue, diante daquilo que se esperou e
aguardou e também daquilo que é o ensinamento e a orientação que Deus dá aos homens.
Conseguir unir essas coisas é uma tarefa muito difícil e que, em todo caso, não é
nova. Creio que devemos levar muito a sério as dificuldades atuais, mas, ao mesmo
tempo, não devemos exasperá-las dramaticamente."
RV: Existem outros
âmbitos ou temas que estão sendo abordados?
Cardeal Christoph Schönborn:-
"Creio que a questão principal é compreender como os homens podem novamente encontrar
no Evangelho e em Cristo seu desejo de espiritualidade, de pertença religiosa, de
orientação. Se nos ocuparmos disso somente com as nossas estruturas, então fazemos
aquilo que o Papa Francisco criticou fortemente como autorreferêncialidade da Igreja.
A questão fundamental é se nos está a peito identificar os homens que estão em busca
e encontrar um caminho que leve a Cristo. Se avalio muito objetivamente que de toda
a população vienense, que é de 1 milhão e 800 mil pessoas, somente 2% participa da
missa dominical. Onde todos os outros vivem a sua vida? O que é que move o coração
deles? Quais são suas esperanças e preocupações? Seus medos? Preferimos como comunidade
paroquial, como comunidade cristã, estar bem tranquilos entre nossos muros, ou nos
arde a interrogação se esses homens conhecem Cristo? Essa é a questão que devemos
perscrutar!" (RL)