"Onde está a voz do povo?", questiona Serviço Jesuíta para Refugiados sobre negociação
síria
Genebra (RV)
– Mais uma tentativa de paz para a crise síria: o governo e a oposição concordaram
em dialogar, em Genebra, para tentar encontrar uma solução para o impasse que já dura
três anos.
O mediador internacional, Lakdhar Brahimi, anunciou em coletiva
de imprensa que as delegações do governo sírio e da oposição aceitaram os princípios
sancionados em Genebra 1, a primeira conferência internacional sobre a Síria que se
realizou em julho de 2012. Os colóquios prosseguirão durante todo o final de semana,
mas os desafios são muitos. O regime, de fato, rejeita categoricamente o pedido da
oposição, ou seja, de proceder a um governo de transição e remover o Presidente Bashar
al-Assad.
A Igreja acompanha de perto essas negociações, mas expressa perplexidade
quanto aos interlocutores. Para o Diretor do Serviço dos Jesuítas para Refugiados
(JRS), Pe. Peter Balleis SJ, o diálogo entre os beligerantes é bem-vindo, mas a exclusão
da sociedade civil é preocupante:
Pe. Balleis:- Estamos muito felizes
que esta conferência seja realizada. Mas sabemos que é muito complicado e não terá
resultados imediatos. Um ponto que nos preocupa, que queremos promover com a Igreja
e outras Ongs, é a participação da sociedade civil, de representantes de grupos civis
na Síria que não tomaram as armas, pessoas que não buscaram a solução através da luta
armada e da guerra. Para dizer de maneira mais forte: as vítimas. Trata-se de cristãos,
muçulmanos – todos que não queriam e não querem esta guerra, que querem paz e viver
juntos como viviam antes. Essas pessoas, esses grupos civis, que constituem 50% da
população, não estão representados na negociação. Para mim, isto é um pouco preocupante.
Onde está a voz do povo? Se os beligerantes ouvissem a voz do povo poderiam dar o
primeiro passo para acabar com a guerra. Toda a questão política, de troca de comando
– que é uma questão complicada, pois não se quer deixar o poder –, deixemos para o
futuro. Mas o primeiro objetivo é acabar com a matança agora. Depois podem continuar
a negociação de como fazer a transição política. (BF)