2014-01-23 14:36:51

Dom Tomasi sobre 'Genebra 2': Única alternativa para o conflito sírio é o diálogo"


Montreaux (RV) – Com a conclusão do primeiro dia de trabalhos da Conferência de Montreaux pela paz na Síria e às vésperas das negociações entre o governo e a oposição armada, o Chefe da Delegação Vaticana presente no encontro, Dom Silvano Maria Tomasi, faz uma análise sobre os resultados da reunião que reúne lideranças de mais de 40 países:

R: “Concluiu-se a Conferência Internacional sobre a Síria em Montreaux, chamada ‘Genebra 2’, que procurou dar um recado e estabelecer prioridades na busca da paz na Síria e no Oriente Médio. Cerca de 40 países participaram deste evento, com a presença de seus Ministros do Exterior. Os trabalhos da Conferência foram dirigidos pessoalmente pelo Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, na presença do Secretário de Estado estadunidense John Kerry e do Ministro do Exterior da Federação Russa, Lavrov. Deram uma mensagem forte, junto a todos os outros ministros presentes e delegações dos países, isto é, a Comunidade internacional quer que se chegue a uma solução operativa, prática, do conflito na Síria. Esperemos que esta forte mensagem da Comunidade internacional produza frutos nos próximos 2-3 dias, quando pela primeira se encontrarão em Genebra a delegação do governo de Bashar al-Assad e a delegação da oposição”.

RV: Quais foram, segundo o senhor, os pontos fortes deste encontro em Montreaux?

R: “O fato de se realizar a Conferência, por si só, já é um passo muito positivo, pois mostra que, não obstante as fortes divergências existentes e a animosidade em certos momentos entre as manifestações de um grupo ou de outro, que estão em campo no conflito sírio, existe a urgência em se começar o diálogo. Então, esta sensibilidade da Comunidade Internacional adquiriu formas muito concretas: quase todos os países se pronunciaram e fizeram declarações oficiais que comprometem estes governos a engajarem-se na busca da paz. Entre as prioridades levantadas nestes pronunciamentos, existe antes de tudo, a convicção unânime de que não existe uma solução militar para o conflito sírio: é necessário buscar uma alternativa, que é a do diálogo. Segundo, praticamente todas as partes defenderam que o primeiro passo exigido pelo sofrimento das famílias que tiveram mais de 130 mil mortos e que estão no exílio – pois existem milhares de refugiados – é o cessar fogo, colocando fim a esta matança, a esta destruição contínua que está seguindo em frente. Ao mesmo tempo, um terceiro ponto – que foi defendido com veemência – é o de se ter acesso imediato da ajuda humanitária para todas as pessoas que tem necessidade na Síria, dado que escolas, hospitais e clínicas foram destruídos, portanto, faltam remédios, faltam gêneros de primeira necessidade e, em certos locais, falta também comida para a população. Se não se encontra um caminho imediato de abertura total de acesso às pessoas necessitadas, ao menos que existam corredores humanitários por meio dos quais estruturas internacionais, como o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, possam agir”.

RV: Nos pronunciamentos dos delegados de Montreaux não faltaram tensões e acusações recíprocas. Isto poderá influenciar nos trabalhos que prosseguirão em Genebra?

R: “Certo, na troca de opiniões, de pontos de vista e de interpretações do conflito, durante este dia muito intenso mas interessante que tivemos em Montreaux, existiram manifestações muito duras, ataques recíprocos, porém ao final, a delegação do governo sírio reafirmou a sua vontade de se encontrar sexta-feira com a oposição e a oposição fez o mesmo, de forma que pela primeira vez, tivemos um encontro das partes em conflito o que pode levar a um acordo mínimo, que poderia ser aquele que vai colocar fim – se não em todo o território da Síria, ao menos começar em uma parte – aos atos de violência e de destruição, começando assim um processo gradual de entendimento que leve, sobretudo, a aceitar aquilo que é colocado como condição preliminar por parte de todos, isto é, a atuação do comunicado e dos acordos de Genebra 1, que requer um governo de transição, um início de trabalhos para uma nova Constituição e então, eleições livres. Neste caminho é possível estabelecer as premissas para a constituição da paz na Síria. Existe muito a ser feito! Estamos no início, mas o balanço desta jornada – na minha opinião – é bastante positivo, no sentido que a comunidade internacional comprometeu-se a sustentar com novos e substanciais aportes financeiros as exigências de assistência comunitária; a vontade política de apoiar o processo de paz e de apoiá-lo em todas as formas possíveis e existe o primeiro encontro entre as partes em conflito, porque a solução do problema da Síria deve vir da Síria: são eles que devem programar o seu futuro e a comunidade internacional pode ajudá-los, mas é deles que deve vir a resposta. Enfim, eu diria, existe esta invocação universal por parte daqueles que sofrem, dos mortos, das vítimas, das crianças, das centenas de milhares que foram obrigados a escapar, o que toca a consciência do mundo e que por solidariedade e por dever humanitário, nos impõe a seguirmos direção da paz”. (JE)










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