Dom Celli sobre Mensagem do Papa para Dia Mundial das Comunicações: diálogo não significa
relativismo
Cidade do Vaticano (RV) - A Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das
Comunicações Sociais de 1º de junho próximo foi apresentada na manhã desta quinta-feira
na Sala de Imprensa da Santa Sé.
O presidente do Pontifício Conselho das Comunicações
Sociais, Dom Claudio Maria Celli, e a docente na faculdade de Letras e Filosofia da
Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão, Chiara Giaccardi – introduzidos
pelo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi –, refletiram
sobre o tema "Comunicação a serviço de uma autêntica cultura do encontro", no centro
do evento.
A primeira Mensagem que o Papa Francisco escreve para o Dia Mundial
das Comunicações Sociais tem suas raízes nos discursos que o Santo Padre fez no Brasil,
em julho do ano passado, dirigindo-se aos bispos locais e aos do Celam (Conselho Episcopal
Latino-Americano); na Exortação apostólica Evangelii Gaudium; e na parábola
evangélica do Bom Samaritano. Foi o que ressaltou Dom Celli, segundo o qual o documento
se mostra "profundamente franciscano", redescobrindo, entre outras coisas, que "comunicação
é favorecer proximidade":
"Não é somente comunicação de dados, uma comunicação
informativa, mas tem esse aspecto profundamente humano: o de uma proximidade. Justamente
nessa linha do Evangelho de Lucas, o Papa Francisco ressalta que quem comunica se
faz próximo. E o Bom Samaritano não somente se faz próximo, mas assume a responsabilidade
sobre aquele homem que vê meio morto à beira do caminho. E, portanto, eis outro aspecto
ressaltado: comunicar significa tomar consciência de ser humanos e de ser filhos de
Deus."
Respondendo às perguntas dos jornalistas, que se detiveram sobre
o convite do Papa à paciência, a recuperar – diante da velocidade da informação do
mundo globalizado – "um certo sentido de lentidão e de calma", mediante a capacidade
de "fazer silêncio para ouvir", Dom Celli refletiu sobre como se pode hoje "avaliar,
ponderar e assimilar" aquilo que "chega" através da mídia, mediante "uma dimensão
mais humana" também no uso dos meios que a tecnologia coloca a nossa disposição. E
sobre a afirmação do Pontífice de que dialogar não significa renunciar "às próprias
ideias e tradições, mas à pretensão que sejam únicas e absolutas", Dom Celli observou
que tal conceito se encontra "em sintonia com tudo aquilo que tem sido o ensinamento
da Igreja", recordando também precedentes pronunciamentos de Bento XVI a esse respeito:
"Não
estamos falando de um relativismo: diria que hoje tem se tornado quase um clichê,
quando se analisam certos discursos do Papa Francisco. A meu ver, a questão aí é o
entender que não é a dimensão da fé e do Evangelho que se relativiza, mas como eu
vivo o Evangelho e vivo essa fé."
Nesse contexto, se insere a "cultura
do encontro", solicitada pelo Pontífice, e sobre a qual se deteve a professora Chiara
Giaccardi, observando que a palavra "encontro é "programática" na Evangelii Gaudium
– na qual aparece umas trinta vezes – e "fundamental" para reler a comunicação e os
seus meios. Em particular, disse, a rede "constrói um ambiente no qual devemos ser
capazes de habitar".
"O Papa nos diz também isto: a rede não tolhe espaço
às relações face a face, mas o desafio é como valorizar o encontro utilizando quer
os caminhos digitais, quer os caminhos em que podemos encontrar face a face. Portanto,
esse é um primeiro aspecto a ser ressaltado: evitar o determinismo e dar o primado,
ao invés, à dimensão antropológica. O segundo aspecto é também muito importante, e
a meu ver é uma pequena 'revolução copernicana' que supera um lugar comum: a comunicação
não é transmissão de conteúdos, mas redução de distâncias, construção de proximidade."
Tudo
isso está diretamente ligado ao tema da 'escuta', no vorticoso fluxo da informação:
"Alguns
canais têm a obrigação da velocidade, porém, existe também o espaço para a escuta,
o aprofundamento, a compreensão. Portanto, creio que hoje não seja a corrida de todos
para ver quem chega primeiro, o que pode definir de modo positivo o cenário da comunicação;
creio que efetivamente se deva admitir que alguns chegarão por primeiro, e outros
têm outras funções, as quais, por sua vez, contemplam, aliás, requerem essa paciência
de reconstruir contextos, de ouvir as vozes, de oferecer pistas de interpretação que
de repente não levarão a um juízo definitivo, mas que ajudam a compreender." (RL)