Legionários de Cristo reunidos em Capítulo: um caminho de profundo renovamento
Teve início na tarde desta quarta-feira, em Roma, o Capítulo Geral extraordinário
da Congregação dos Legionários de Cristo. Presidida pelo Delegado Pontifício, Cardeal
Velasio De Paolis, a missa inaugural teve lugar às 18h30 locais na Capela do Centro
de Estudos Superiores dos Legionários de Cristo. Os trabalhos do Capítulo iniciaram
nesta quinta-feira, 9 de janeiro, de manhã, devendo concluir-se provavelmente o mais
tardar em fins de fevereiro. Nesta ocasião, o Delegado Pontifício para a Congregação
dos Legionários de Cristo concedeu uma longa entrevista ao Padre Federico Lombardi
– para a Rádio Vaticano – sobre a preparação e as perspectivas do Capítulo.
Antes
de mais o cardeal De Paolis recorda que o seu mandato tinha sido precedido da Visita
Apostólica decidida por Bento XVI, para averiguar sobre as vicissitudes pessoais do
Fundador, tendo-se concluído com um juízo severo sobre o seu comportamento, divulgado
em maio de 2010. A nomeação já em julho desse mesmo ano de um Delegado papal tinha
como objectivo dirigir a renovação da Legião de Cristo, contando com o genuíno empenho
religioso da maior parte dos seus membros.
Esta renovação requeria antes de
mais a revisão das Constituições e a substituição dos Superiores, mas para ser profundo
e duradouro teve de abranger do modo mais amplo possível os membros da Legião nas
diversas Províncias e Comunidades. No que diz respeito às Constituições, os pontos
fulcrais da revisão disseram respeito à autoridade e ao seu exercício no governo e
na vida da Congregação religiosa.
Foi também muito importante a reflexão sobre
o “património do Institutos”, isto é, sobre os elementos institucionais que o caracterizam
e identificam na sua realidade espiritual e eclesial. Delineia-se assim uma vocação
a vivier o Mistério de Jesus que anuncia o Reino, com a espiritualidade típica da
realeza de Cristo, que reina a partir da Cruz, (espiritualidade) acompanhada por uma
viva piedade eucarística e mariana e pela orientação apostólica.
Esta vocação
assume formas específicas, diferentes, para os religiosos sacerdotes, para os leigos
consagrados e para os leigos. Nesta perspectiva, é muito importante ver a Legião (composta
de religiosos sacerdotes) não como uma realidade isolada, mas sim inserida – segundo
modalidades a estabelecer – no contexto mais amplo do grande “Movimento” do Regnum
Christi.
O Capítulo agora iniciado terá três momentos principais. Em primeiro
lugar, um “exame de consciência” sobre o passado, com uma verificação do caminho percorrido
aliás com uma dimensão penitencial; seguir-se-á a nomeação dos novos Superiores; e,
finalmente, o trabalho de revisão das Constituições. Sem esquecer que o texto das
novas Constituições terá ainda que ser apresentado ao Papa para a aprovação definitiva.
A
mudança de pontificado ocorrida no decurso do ano passado, não retardou o caminho
em curso, porque o Papa Francisco foi tempestivamente informado e aprovou o seu prosseguimento,
inclusive a convocação e a data do Capítulo, do qual se pode confiadamente esperar
os desejados frutos.
RV: Este Capítulo extraordinário dos Legionários de Cristo
constitui mais um passo, fundamental, no longo caminho de renovação que o senhor cardeal
conduziu por encargo do Santo Padre. Poderia resumir-nos brevemente os principais
passos e momentos deste caminho, desde a sua nomeação como Delegado papal até à realização,
agora, do Capítulo?
Cardeal De Paolis: "Em primeiro lugar, gostaria de precisar
que este caminho não é o início do caso da Legião e do Regnum Christi, mas sim uma
das etapas. A primeira etapa é o próprio caso do Fundador; a segunda, foi a Visita
da parte dos cinco bispos enviados pelo Santo Padre para tomar conhecimento da realidade;
a terceira etapa foi precisamente a nomeação do Delegado Pontifício. Por que é importante
ressaltar isso? Porque a visita dos cinco Visitadores trouxe um resultado de reflexão,
de avaliação e, portanto, também de ponderação sobre o futuro. Quando o Santo Padre
nomeou o Delegado Pontifício já havia feito publicar um severo juízo sobre a atuação
do Fundador da Legião, mas sem destruir a realidade da Legião: se o Papa nomeia um
Delegado, implicitamente nega que se deva dar um juízo substancialmente negativo sobre
a própria Legião. Ele mesmo, no início da Bula de nomeação, diz: "Há um grande número
de sacerdotes zelosos e comprometidos no caminho da santidade". Justamente porque
havia essa premissa de confiança, essa etapa – que começou com a nomeação do Delegado
Pontifício – era, portanto, mais uma nomeação positiva, destinada a percorrer o caminho
juntamente com os Legionários para levá-los, mediante um período de reflexão e renovação,
também penitencial, a rever o seu próprio carisma, reescrevendo as Constituições e
retomando, assim, a sua colocação positiva dentro da Igreja. É necessário dizer isso
porque se considerava, de certo modo, concluído o exame sobre o Fundador; consideravam-se
concluídas também as visitas nos diversos lugares. Agora era necessário atuar no seio
do Instituto para fazer as pessoas refletir e ajudá-las a superar as dificuldades.
E essa foi precisamente a nossa missão. O Papa diz que, entre as muitas tarefas, a
principal é a da revisão das Constituições. As Constituições que tinham não estavam
redigidas segundo os critérios do pós - Concílio, mantinham ainda os critérios tradicionais:
um texto muito longo, pesado, inclusive ferruginoso, em que não se distinguiam as
normas constitucionais das outras e se refletia também uma mentalidade que – a nível
disciplinar – não distinguia nem mesmo o grau das leis, a importância das leis e,
portanto, também a substância da disciplina, de outras normas que são úteis, porventura
até mesmo necessárias, mas que não são características. Um mar de normas, no seio
das quais o próprio carisma acabava por ficar diluído, difuso, sendo portanto difícil
dar-lhe consistência. Essa era a tarefa principal”.