Rio de Janeiro (RV) - Logo no início da Bíblia, em Gênesis 12,2, Deus diz a
Abrão: "Sê uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem". Sermos abençoados por Deus:
“Eu te abençoarei” para que sejamos uma bênção para os outros: “em ti serão abençoadas
todas as famílias da terra”. Somos chamados a ser pessoas abençoadas para ser sinal
de bênçãos para o nosso tempo!
Nas Escrituras Sagradas encontramos muitas
vezes a palavra e o gesto da bênção! Considerando que, para os hebreus, as palavras
não são apenas comunicação de ideias, mas transmissão de conteúdos concretos, pronunciar
uma bênção quer dizer derramar os melhores desejos e votos sobre uma pessoa, que se
torna abençoada, benta, benzida. Ao dizer "Deus o abençoe", estou desejando e transmitindo
ao outro a paz, a qualidade de vida, o sucesso, a felicidade. “A bênção é um dom que
atinge a vida e seu mistério, e é um dom expresso pela palavra e por seu mistério”.
Com a mudança de época introduzindo a secularização no meio de nosso povo,
vemos que os pais já não abençoam tanto os filhos, e muito menos os filhos pedem a
bênção para os seus pais, avós, tios, padrinhos e madrinhas. No entanto, em nossa
cidade, com muita alegria vejo que entre nós, católicos, permanece muito esse costume
nas famílias e também nas paróquias, com os padres que servem aquela comunidade. Apesar
da mudança de época alguns sinais ainda são conservados. A beleza das famílias numerosas
que frequentam nossas comunidades paroquiais, em que pais e filhos estão unidos e
alegres na celebração, nos fazem agradecer ao Senhor. Por isso, a bênção é antes de
tudo uma “bendição”, ou seja, um agradecimento a Deus pelos dons que recebemos e vemos
ao nosso redor. Mas é também o pedido para que Deus derrame suas Bênçãos para o nosso
povo. O encontro com o povo piedoso e animado nas missas que celebro demonstra muito
bem isso. Fico muito feliz de ver as famílias unidas e participando alegres das missas
nas paróquias, a juventude cheia de entusiasmo deixando-se conduzir pela graça de
Deus, e as pessoas mais idosas sendo respeitadas diante de suas dificuldades. Sinais
de bênçãos em nossa igreja arquidiocesana!
Além da bênção que os pais dão aos
seus filhos, que os padrinhos e madrinhas dão aos seus afilhados, que o bispo e o
padre comunicam aos seus fiéis, devemos olhar e entender o significado da bênção como
presença da bondade de Deus em nossas vidas, de sua companhia necessária e irrenunciável.
Por isso, a bênção deve ser considerada como um feixe de luz através do qual
Deus projeta algo de valor muito superior. O milagre em Caná, como foi visto, revelou,
antes de tudo, um sinal. Note-se que ele foi uma bênção para os noivos, para a alegria
da festa, mas, principalmente, um milagre, ou seja, uma bênção com um propósito definido.
Devemos
sempre olhar ou buscar uma bênção de Deus com a consciência de que a mesma terá, incondicionalmente,
de manifestar para nós e para os outros o poder e a glória de Deus. Porém, Deus não
quer somente suprir nossas necessidades momentâneas. Ele tem um projeto, algo superior
para nós. Perceba-se a sua maravilhosa graça. Ele nos ajuda, e juntamente com essa
ajuda, decide manifestar sua glória, seu poder, sua força, sua sabedoria. Ele o faz
primeiro porque nos ama, e depois porque quer nos dar a plenitude de sua bênção.
Solicitar
a bênção de Deus é penhor de abundantes graças que protegem, iluminam e fazem progredir
na espiritualidade todos os batizados, auxiliando-os contra o mal e atraindo o amparo
celeste. Nesse sentido, peçamos a bênção e vamos recebê-la diariamente de nossos pais,
avós, padres todos os dias.
E, como família arquidiocesana, sejamos bênçãos
para todos, particularmente nas Solenidades do ano que iniciamos, conforme fomos chamados
a acolher no anúncio da "Proclamação das Solenidades Móveis de 2014”: “Irmãos caríssimos,
a glória do Senhor manifestou-se e sempre há de manifestar-se no meio de nós até a
sua vinda no fim dos tempos. Nos ritmos e nas vicissitudes do tempo recordamos e vivemos
os mistérios da salvação.
O centro de todo o ano litúrgico é o Tríduo do Senhor
crucificado, sepultado e ressuscitado, que culminará no Domingo de Páscoa, este ano
a 20 de abril. A cada Domingo, Páscoa semanal, a Santa Igreja torna presente este
grande acontecimento no qual Jesus Cristo venceu o pecado e a morte. Da celebração
da Páscoa do Senhor derivam todas as celebrações do Ano Litúrgico: as Cinzas, início
da Quaresma, a 5 de março; a Ascensão do Senhor, a 1º de junho; Pentecostes, a 8 de
junho; o primeiro Domingo do Advento, a 30 de novembro. Também nas festas da Santa
Mãe de Deus, dos Apóstolos, dos Santos, e na Comemoração dos Fiéis Defuntos, a Igreja
peregrina sobre a terra proclama a Páscoa do Senhor. A Cristo, que era, que é e que
há de vir, Senhor do tempo e da história, louvor e glória pelos séculos do séculos.
Amém!"
Em tudo demos graças a Deus! Para todos sejamos canais de bênçãos divinas.
O que de graça divina recebemos, de graça devemos transmitir. Pedi a bênção e ela
lhe será dada!
A todos abençoo em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo,
Amém!
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião
do Rio de Janeiro, RJ